Eleições 2022

Marília Arraes consegue furar bolha com alianças à direita, mas acaba se afastando de sua base

Na chapa da ex-petista há André de Paula, do PSD, como pré-candidato ao Senado, e Sebastião Oliveira, do Avante, como vice. Ex-aliados têm dito que a deputada não prioriza mais bandeiras da esquerda

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 24/06/2022 às 16:47
PH Reinaux/Divulgação
JUNTOS Na chapa, há André de Paula, do PSD, como pré-candidato ao Senado, e Sebá, do Avante, como vice - FOTO: PH Reinaux/Divulgação
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Líder em todas as pesquisas de intenção de voto para o Governo de Pernambuco divulgadas até o momento, a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) precisou deixar o Partido dos Trabalhadores, hoje aliado do PSB no Estado, para entrar na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas. A parlamentar recebeu guarida na sigla de Paulinho da Força e desde que lançou a sua pré-candidatura a governadora, tem abocanhado aliados importantes dos socialistas, como o PSD e o Avante, partidos ligados a ideias e pautas de centro-direita.

Por conta disso, as costuras da ex-petista não foram recebidas sem críticas a uma espécie de traição à esquerda. Candidato a vice-prefeito na chapa que Marília encabeçou no Recife nas eleições de 2020, João Arnaldo (PSOL) declarou recentemente que a partir do momento que a ex-aliada se uniu a nomes como André de Paula (PSD) e Sebastião Oliveira (Avante), "está sinalizando que bandeiras à esquerda não são questões prioritárias em seu projeto".

A pré-candidata discorda. Em entrevista concedida a uma rádio de Serra Talhada um dia depois de anunciar Sebá como vice, Marília declarou que ao dialogar com lideranças de todos os espectros políticos não está fazendo nada além de seguir a cartilha política de nomes como Miguel Arraes ou o próprio Lula (PT).

"Lula deixou de ser de esquerda porque o seu vice é Geraldo Alckmin? Arraes deixou de ser de esquerda quando colocou Antônio Farias, por exemplo, como seu candidato a senador? Ou na década de 1960, quando Paulo Guerra foi o seu vice? Paulo Guerra tinha uma posição tão diferente da dele que quando houve o golpe militar se juntou aos militares e apoiou a ditadura, ficou no lugar de Arraes quando ele Foi cassado. A gente precisa ter amplitude no debate. Ser de esquerda é defender projetos que gerem mais justiça social, o combate à fome, um estado que preste serviços de melhor qualidade para as pessoas. É um debate político-ideológico muito mais profundo", disparou a postulante a governadora.

Na mesma ocasião, Marília disse considerar que, neste momento, a prioridade a se considerar na formação de uma aliança eleitoral é que os partidos envolvidos estejam comprometidos com a defesa da democracia. "O que a gente precisa no Brasil e aqui em Pernambuco é buscar uma unidade, uma harmonia entre pessoas que militam em campos diferentes, mas têm o mesmo objetivo e defendem a democracia. Aqui nós três temos essa característica, e eu acho que isso mostra que eu sou uma pessoa de esquerda, mas tenho capacidade de dialogar e de respeitar as diferenças", completou.

Político com 40 anos de experiência, todos eles vividos em partidos de direita como o PFL, André de Paula, que já declarou que votará em Lula neste ano, disse que os fatores que o aproximam de Marília são maiores do que o que os separa. "O País está dividido, rachado, há um clima pesado e nós precisamos recuperar a boa política. E política se faz somando, juntando, colocando lado a lado pessoas que até pensam de forma diversa com relação a alguns temas, mas têm em comum a vontade de servir, de fazer mais, de fazer melhor pelo povo pernambucano", observou o pré-candidato a senador, na Rádio Vilabela FM.

Segundo o cientista político Arthur Leandro, agregar aliados é o maior desafio de qualquer candidato em uma eleição majoritária, e diferentemente de um pleito proporcional, para vencer uma disputa desse tipo é necessário que os postulantes consigam se comunicar com eleitores que estejam além dos seus respectivos nichos. Nesse ponto, avalia o professor, Marília estaria adotando uma estratégia acertada para a sua campanha ao agregar partidos de centro-direita ao seu projeto.

"Se Marília conseguiu amealhar o apoio de outros campos, isso sinaliza maturidade da sua candidatura, pois está sendo considerada, por esses apoiadores, como viável e plausível contra potenciais adversários. O fato de ter apoios de fora do campo da esquerda mostra, assim, que Marília está sendo vista como um nome competitivo, e isso é um bom sinal para ela. A pré-candidata não vai perder votos da esquerda porque nomes como Sebastião Oliveira ou André de Paula estão com ela, até porque não existe nenhum candidato à esquerda de Marília que possa ser considerado viável, nem pela própria esquerda. Por tudo isso, considero que o apoio de candidatos da direita reforça o palanque dela", frisou Arthur Leandro.

Professor da Asces/Unitas, o cientista político Vanuccio Pimentel avalia que as costuras que vêm sendo feitas por Marília giram "muito mais em torno de dissidências da Frente Popular do que da própria capacidade inicial dela de atração de partidos". O docente destacou, ainda, que justamente por conta disso as alianças feitas pela ex-petista não podem ser comparadas às coligações montadas por Arraes e Lula, que estavam dentro de outros contextos.

"Se usarmos como exemplo o caso recente de Lula, veremos que na atração de Geraldo Alckmin ele sai do PSDB e entra no PSB, não houve uma ida de Lula para o PSDB, e Lula não trouxe o PSDB para dentro da aliança. Marília, por sua vez, sai com a sua candidatura muito precária. Ela sai de uma situação no PT em que estava relativamente bem posicionada nessa eleição como candidata ao Senado ou a deputada federal e segue para uma situação mais precária, em um partido menor. A verdade é que ela não tem opção de escolha de aliados, não pode ficar escolhendo e vai acolhendo quem quer ser aliado dela. É diferente de Lula, de Eduardo, e do próprio Arraes, que escolheram estrategicamente onde iriam se aliançar", declarou o analista.

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