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Site diz que Fernando Bezerra tentou tirar doador de campanha dos filhos da lista suja do trabalho escravo

Emival Ramos Caiado Filho doou R$ 600 mil para Miguel Coelho, Fernando Filho e Antônio Coelho, candidatos a governador, deputado federal e deputado estadual, respectivamente

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Renata Monteiro

Publicado em 22/09/2022 às 16:57 | Atualizado em 22/09/2022 às 17:04
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Há exatamente um mês, o JC noticiou que três dos filhos do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) - Miguel Coelho (União Brasil), Fernando Filho (UB) e Antônio Coelho (UB), candidatos a governador, deputado federal e deputado estadual, respectivamente - receberam R$ 600 mil em doações de campanha do empresário Emival Ramos Caiado Filho, que está na "lista suja" do trabalho escravo.

Nesta quinta-feira (22), a coluna Leonardo Sakamoto no UOL divulgou que cerca de trinta dias antes da doação, FBC havia solicitado ao ministro do Trabalho, José Carlos Oliveira, "a possibilidade de análise e retirada" de uma fazenda de propriedade de Emival da lista. O parlamentar pernambucano é ex-líder do governo Bolsonaro no Senado.

A lista é um banco de dados do Ministério do Trabalho utilizado por empresas e bancos públicos para impedir negociações com empregadores que usam trabalho análogo ao de escravo no País. Emival, primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), encaminhou R$ 250 mil à campanha de Miguel Coelho, R$ 200 mil à de Fernando Filho e R$ 150 mil à de Antônio.

Na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas, Miguel está empatado tecnicamente com Danilo Cabral (PSB) no quarto lugar. O ex-prefeito de Petrolina tem 9,4% das intenções de voto e o socialista 9,3%, de acordo com o agregador de pesquisas JC/ODDSPOINTER.

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Conforme as informações publicadas pelo UOL, o pedido de FBC foi feito via ofício do Senado Federal, de número 189/2022, datado de 13 de julho. No documento, o senador justifica o pedido de retirada do empresário da lista afirmando que um termo de ajustamento de conduta já havia sido firmado por Emival junto ao Ministério Público do Trabalho, que as multas já haviam sito quitas e os problemas todos sanados. Em 16 de agosto, as doações foram registradas no Tribunal Superior Eleitoral.

A reportagem conta que questionou o governo federal sobre o ofício e recebeu resposta do Ministério do Trabalho afirmando que a demanda foi analisada, mas não havia "fundamentação legal para a retirada". A pasta declarou, ainda, que "não há qualquer ilegalidade na inclusão do nome do empregador em apreço no referido cadastro".

FBC, por sua vez, disse ao UOL que "a União foi 'condenada a promover a pronta exclusão definitiva do nome de Emival Caiado Filho' da lista suja, referindo-se a uma decisão de agosto. Esse argumento, contudo, não estava no ofício que o senador enviou ao ministério.

Ao mencionar as doações do empresário goiano aos seus filhos, Fernando Bezerra disse que elas "estão dentro da legalidade". A resposta é semelhante a que Miguel Coelho deu ao JC em agosto, quando afirmou que "todas as doações registradas para a campanha estão dentro da legalidade, seguindo rigorosamente o que determina a Justiça Eleitoral".

A matéria registra, ainda, que Emival Caiado relatou que fez as doações porque conviveu com os filhos de FBC por seis meses em Petrolina. "São pessoas extremamente íntegras", disse o empresário pecuarista, pontuando que não tinha "ciência" do pedido de FBC ao Ministério do Trabalho.

O primo de Ronaldo Caiado observou, porém, disse que considera a solicitação do senador "irrelevante", visto que "isso já foi resolvido na Justiça". No dia 23 de agosto, a Justiça do Trabalho do Tocantins determinou que o empresário seja retirado do banco de dados, mas a comunicação só chegou ao governo federal na última quarta-feira (21).

Resgate de 26 trabalhadores em fazenda no Tocantins

Segundo reportagem de 2010 do site Repórter Brasil, 26 trabalhadores foram resgatados naquele ano da fazenda Santa Mônica, propriedade do pecuarista no Tocantins, em situação análoga à escravidão.

Na ocasião, o grupo que realizou a fiscalização verificou que os empregados ficavam alojados em barracos sem estrutura, não tinham acesso a banheiro ou água potável, custeavam as próprias refeições e alguns tinham até suas carteiras de trabalho retidas.

Emival Caiado chegou a ser condenado administrativamente em 2014 e teve o nome inserido na lista, mas brigava desde então para ter o nome retirado do banco de dados. Entre julho de 2015 e maio de 2021, por meio de uma liminar, ele conseguiu deixar a lista, mas desde o dia 31 de maio de 2022 após decisão da Justiça do Trabalho, o nome dele retornou à seleção de maus empregadores.

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