O especialista em análise de dados Manoel Fernandes deu prognósticos sobre o posicionamento dos candidatos à presidência da República na internet em entrevista nesta segunda-feira (26) à Rádio Jornal. Na avaliação dele, a equipe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontado como primeiro lugar nas pesquisas, tem um desempenho mais fraco que o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais.
Para ele, o petista poderia utilizar o apoio que vem ganhando de grandes influenciadores na internet, como o da cantora Anitta, de uma forma mais estruturável.
"A internet ajuda a criar narrativas e formar opinião. Esses apoios que o presidente Lula teve cria possibilidades de amplificar mensagens, mas se não for algo estruturável, e a campanha dele não está aproveitando de maneira muito clara. Está jogando parado", disse Fernandes.
A equipe de Bolsonaro, por outro lado, é "rápida e sabe cooperar", mas não conseguiu o desempenho que o conduziu à vitória nas eleições passadas. "Na campanha do presidente Bolsonaro, isso é muito organizado. O que se descobriu foi que a força que os conduziu em 2018, quando precisaram baixar a frequência e trabalhar em uma agenda mais conduzida, não conseguiram".
Na avaliação do professor universitário e diretor executivo da Bites Consultoria, os assuntos que foram marcantes nas eleições de 2018, como a corrupção, não têm a mesma força agora. "Assuntos que acreditávamos que apareceriam, como a covid, não apareceram, porque as pessoas não aguentam mais ouvir falar sobre covid. O que tem é uma luta entre duas correntes".
"A do presidente Bolsonaro tem uma hegemonia na discussão da narrativa, mas não consegue ir além das fronteiras dela, porque estamos vivendo uma eleição que vai ganhar quem for menos rejeitado, vemos isso muito claro. O PT experimenta hoje o que Bolsonaro experimentou em 2018: o que vai eleger Lula, caso as pesquisas se confirmem, é uma combinação de votos ideológicos, de pessoas que enxergam Lula maior que o PT e de votos contra o Bolsonaro", disse.
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Rádio Jornal: Nessas eleições, temos redes novas, como TikTok e Kwai. Hoje, quem é responsável por uma temperatura mais alta - as redes que tínhamos há quatro anos ou as que surgiram de lá para cá?
Na nossa avaliação, as que prevalecem são as mais antigas, como Facebook, Twitter e Instagram, porque essas redes novas ainda não têm uma densidade muito grande no Brasil; mas são importantes, estão sendo utilizadas pelos candidatos. A formação de opinião ainda se configura nas mais conhecidas por um motivo simples: a maior parte do acesso à internet hoje é feita pela telefonia celular, e tem um conceito chamado zero rating, que não cobra aos clientes para utilizar WhatsApp e Facebook, que são duas redes que entram nos celulares das pessoas com menor renda para buscar informação.
Rádio Jornal: O fato de Lula não ter ido foi melhor ou pior?
Foi um debate morno. Olhando em retrospectiva, vemos que não tem espaço para terceira via; nunca teve. Foi um sonho de uma noite de verão. Os dois que vão marcar são o primeiro, que foi o da Band, que Bolsonaro e Lula foram, e o que vai acontecer na quinta na Globo. Nesse meio tempo, nenhum outro gerou tanta repercussão. O grande debate que deve ajudar ou comprometer candidaturas é o da Globo.
Rádio Jornal: Foram divulgados vários conteúdos falsos de pesquisas manipuladas. Por que, mesmo com tanta campanha contra fake news, se insiste nesse tipo de conteúdo? É porque dá certo? Vale a pena fazer isso?
Fake news teremos de acompanhar a vida toda e ninguém nunca vai conseguir conter mentira e fofoca. O que precisamos é de um processo educacional no Brasil que ensine as pessoas a definir o que é um conteúdo de qualidade, como o da Rádio Jornal e o do JC, e o por alguém que não sabe fazer nada. O agravante é que, como a tecnologia avança e os custos ficam mais baratos, a fake news vai aumentar muito mais. No início do ano emitimos um relatório sobre a existência de deep fakes, que é pegar a voz de alguém e fazê-la falar, em vídeo, coisas que ela não falaria. Isso está acontecendo claramente. Temos que aprender a distinguir o que é verdade e o que é mentira?
Rádio Jornal: O apoio desses supercampeões da mídia eletrônica, como Anitta, por exemplo, acrescenta muito aos candidatos?
A internet ajuda a criar narrativas e formar opinião. Esses apoios que o presidente Lula teve cria possibilidades de amplificar mensagens, mas se não for algo estruturável, e a campanha dele não está aproveitando de maneira muito clara. Ele está jogando parado. Na campanha do presidente Bolsonaro, isso é muito organizado, são rápidos e sabem cooperar. O que se descobriu foi que a força que os conduziu em 2018, quando precisaram baixar a frequência e trabalhar em uma agenda mais conduzida, não conseguiram.
Rádio Jornal: Por causa de Henrique Meirelles, Lula vai ao Programa Roda Viva hoje. Mas o que repercute nesse momento é ele dizendo que vai furar o teto de gastos, enquanto Meirelles não concorda com isso. Lula termina tirando proveito disso?
Reunir os oito ex-candidatos á presidência é mais de natureza política e para um grupo específico de grandes formadores de opinião. Não imagino que alguém que esteja em Arcoverde esteja preocupado com o que o Meirelles está fazendo no palanque do Lula. As pessoas estão preocupadas se vão conseguir pagar suas contas no final do mês e continuar vivendo com seus salários. Quem gosta do Meirelles próximo ao Lula é a Faria Lima. Hoje em dia a situação é diferente, porque em 2002 Lula procurou Meirelles; em 2022, Meirelles procurou o Lula. Agora, caso se confirmem os prognósticos e Lula vença, ele enfrentará uma oposição extremamente organizada, com poder de comunicação gigantesco e com capacidade de mobilização que nunca viu.
Rádio Jornal: Em 2018, análises detectaram o crescimento da bolha bolsonarista nas redes sociais, e naquela eleição a grande questão parecia ser o combate à corrupção. Qual é a avaliação para esta eleição?
Os assuntos que foram marcantes em 2018 como a corrupção, não aparecem agora. As bolhas estão se atacando em uma luta de eliminação. Assuntos que acreditávamos que apareceriam, como a covid, não apareceram, porque as pessoas não aguentam mais ouvir falar sobre covid. O que tem é uma luta entre duas correntes. A do presidente Bolsonaro tem uma hegemonia na discussão da narrativa, mas não consegue ir além das fronteiras dela, porque estamos vivendo uma eleição que vai ganhar quem for menos rejeitado, vemos isso muito claro. O PT experimenta hoje o que Bolsonaro experimentou em 2018. O que vai eleger Lula é uma combinação de votos ideológicos, de pessoas que enxergam Lula maior que o PT e de votos contra o Bolsonaro. No dia seguinte à eleição, os votos contra Bolsonaro vão sumir do PT e vão esperar o que vai acontecer.