Recife

Bolsonaro tenta avançar no Nordeste através do voto religioso e une no mesmo palanque lideranças evangélicas com histórico de divergências

Estiveram ao lado do chefe do Executivo nesta quinta (13) as famílias Ferreira, Collins e Tércio, que não têm convergido politicamente no cenário estadual

Renata Monteiro Augusto Tenório
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Renata Monteiro
Augusto Tenório
Publicado em 13/10/2022 às 18:44 | Atualizado em 13/10/2022 às 18:56
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Bolsonaro se reuniu com lideranças religiosas em hotel na Zona Sul do Recife - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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Representantes de diversas denominações cristãs reuniram-se nesta quinta-feira (13) em um hotel no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, para um encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Neste segundo turno, o chefe do Executivo federal - que é o preferido entre os evangélicos, segundo pesquisa Datafolha publicada na última semana - tenta recuperar espaço no Nordeste, região em que perdeu para o ex-presidente Lula (PT) em todos os nove Estados na primeira fase da disputa, e conta com o voto religioso para alcançar esse objetivo.

O presidente chegou à capital pernambucana pela manhã, ao lado de várias lideranças conservadoras e religiosas do País, como o senador eleito Magno Malta (PL), os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL) e Marco Feliciano (PL), e o pastor Silas Malafaia, por exemplo. Já no Recife, Bolsonaro conseguiu reunir no mesmo palanque políticos evangélicos locais com histórico de divergências, como as famílias Ferreira, Collins e Tércio.

Os compromissos de campanha do presidente no Recife começaram com uma reunião com representantes de igrejas evangélicas ligadas ao deputado federal Pastor Eurico (PL), de onde Bolsonaro saiu para realizar um pronunciamento em um trio elétrico na Avenida Boa Viagem. No local, apoiadores o aguardavam desde muito cedo, vestidos com roupas verdes e amarelas e carregando bandeiras do Brasil. Alguns dos presentes chegaram a ser hostis com profissionais da imprensa que aguardavam a chegada do militar.

Em seu discurso, Bolsonaro tentou afastar rumores de que tem preconceito contra nordestinos, citou ações da sua gestão para a região e apresentou propostas que pretende colocar em prática a partir de 2023, caso vença o pleito no próximo dia 30.

“Aqueles que falam que eu não gosto de nordestino, fiquem sabendo que a minha princesa, dona Michele, é filha de um cabra da peste do Ceará. Sou apaixonado por uma nordestina e nas veias da minha filha corre sangue de cabra da peste. Não adianta rotular. Aqueles que falam que eu vou acabar com o Auxílio Brasil, é mentira. Ele veio para ficar. Eles estão com ciúmes porque pagavam uma importância irrisória de Bolsa Família”, declarou o candidato à reeleição.

Mais adiante, o liberal reforçou o discurso que tem adotado durante toda a campanha à reeleição, de que o seu projeto de governo representaria "o bem", enquanto o do ex-presidente Lula (PT) seria "o mal", e disse que o petista seria preso novamente. "Vocês viram nas urnas como foi o voto do ladrão. Se dependesse apenas dos votos dos prisioneiros do Brasil, ele teria ganho disparado no primeiro turno. Ele vai voltar para a cadeia, sim. Lugar de ladrão é na cadeia", disparou Bolsonaro.

Após retornar ao hotel, o presidente da República voltou a se reunir com líderes religiosos, desta vez em evento promovido pelo Conselho Internacional de Ministérios Evangélicos do Brasil (CIMEB). No local, a vereadora Michelle Collins (PP) disse que a prioridade das forças conservadoras pernambucanas neste momento é a recondução do presidente Bolsonaro ao Palácio do Planalto, portanto todas as barreiras que porventura já causaram divisão entre o grupo “foram deixadas de lado”.

Apesar da declaração da parlamentar, chamou atenção dos presentes a discrição da passagem de Anderson Ferreira (PL) nos compromissos do militar da reserva. O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes foi o candidato a governador apoiado por Bolsonaro no Estado, mas ficou em terceiro lugar no primeiro turno, atrás de Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB).

Anderson, inclusive, ainda não indicou se apoiará Raquel nesta fase da disputa, mesmo caminho seguido por Bolsonaro no Recife. Questionado durante coletiva de imprensa se vai declarar apoio à tucana no segundo turno em Pernambuco, o presidente calou. Na última quarta (12), a ex-prefeita de Caruaru, que fez campanha para Simone Tebet (MDB) no primeiro turno, disse que não vai declarar voto nem a Lula nem a Bolsonaro.

Em discurso no evento da tarde, Marco Feliciano disse que foi “enganado” quando apoiou o PT no passado, enquanto Silas Malafaia afirmou que a legenda do presidente Lula é “assassina de nordestinos”, já que, segundo ele, os governadores da sigla no Nordeste desviaram verbas enviadas pelo governo federal para a compra de respiradores durante a pandemia. Magno Malta, Gilson Machado e outros apoiadores de Bolsonaro também fizeram pronunciamentos na ocasião, sempre bastante aplaudidos pelos presentes.

O último a subir ao púlpito foi o próprio presidente, que falou várias vezes de Deus, mais uma vez rememorou ações da sua gestão, justificou atitudes amplamente criticadas por adversários ao longo dos últimos três anos e meio, e fez ataques ao ex-presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores.

“Quando assumimos o governo, o sistema achava que tudo iria continuar 'como era dantes no quartel de Abrantes'. Esse partido pega um ministério e a Caixa, outro pega o Banco do Brasil e a Agricultura, outro pega isso e aquilo, para poder dar a dita governabilidade. Mas não foi assim, eu falei não. Eu fui eleito para fazer diferente”, pontuou Bolsonaro.

O chefe do Executivo rememorou a criação da Lei da Liberdade Econômica, afirmou que autoridades sanitárias disseram no início da pandemia que o coronavírus não se propagaria no Brasil devido ao clima do país e que vários governadores decidiram pelo lockdown no ápice das transmissões, o que segundo o liberal seria a causa da crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2021.

Ele tentou explicar, ainda, a relação que desenvolveu ao longo do mandato com lideranças do Centrão no Congresso Nacional, a exemplo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). "Negociamos com o Parlamento, em especial com o Arthur Lira, que o pessoal às vezes fala que é do Centrão. E eu vou negociar com quem? Com o líder do PT? Do PCdoB? Do PSOL? Eu já fui do Partido Progressista, não podemos rotular todo mundo de maldosos. E se bem que a maioria do pessoal da Câmara eu vejo como pessoas de bem, mas, de forma jocosa, se apelida de Centrão", observou.

Entre as outras declarações que fez, Bolsonaro foi irônico ao afirmar que o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, seria o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em um futuro governo Lula, ressaltou a criação do Pix e a queda no preço dos combustíveis e disse se orgulhar por ter ajudado a “enterrar o movimento sindical”, de onde, de acordo com ele, saíram todos os aliados do petista.
O presidente da República concluiu a sua fala pedindo para os presentes não acreditarem nas falas do seu adversário e afirmando que no dia 30 de outubro haverá uma guerra “do bem contra o mal” nas urnas, e que apesar de não se colocar como “salvador da pátria”, seria a única opção para aqueles que têm a mesma visão de mundo que ele.

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