ELEIÇÕES 2022

ELEIÇÕES EM PERNAMBUCO: conheça em detalhes as vidas de MARÍLIA ARRAES e RAQUEL LYRA. Uma delas será a próxima governadora de Pernambuco

O JC produziu os perfis de Raquel Lyra e Marília Arraes para que o leitor conheça as candidatas para além dos seus currículos profissionais. A proposta foi apresentar personalidades, visões de mundo e as famílias por trás de cada uma

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 28/10/2022 às 20:25 | Atualizado em 29/10/2022 às 14:12
Bruno Campos/SJCC
Candidatas Raquel Lyra e Marília Arraes disputam segundo turno das eleições para governadora de Pernambuco - FOTO: Bruno Campos/SJCC
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Elas mudaram a história das eleições em Pernambuco este ano. Em uma disputa inédita, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) foram escolhidas pelo eleitor pernambucano para se enfrentar no segundo turno.

Uma delas será a primeira mulher a comandar o Palácio do Campo das Princesas. A vencedora também vai colocar a ‘Terra dos Altos Coqueiros’, no raro mapa dos estados brasileiros, com gestão assinada por uma governadora.

No ‘palco’ dos debates, elas duelaram e apresentaram várias divergências políticas. Na vida, no entanto, colecionam convergências. São contemporâneas, filhas de famílias de políticos tradicionais de Pernambuco, foram levadas para a vida pública pelas mãos de pais, tios e avós, mas também graças a uma inquietação de ‘mudar a vida das pessoas’ que existia nelas.

Raquel Lyra é a caçula de três irmãs. Marília Arraes foi a única neta materna e a primeira paterna. Nas suas trajetórias políticas viveram o dissabor de serem preteridas em eleições que gostariam de disputar. Rejeitaram a exclusão e refizeram seus caminhos em outros partidos.

Contam com o acolhimento, o amor e a torcida (apaixonada como as dos times de futebol) de suas famílias, têm avós nonagenárias e lúcidas, que são verdadeiros tesouros da existência. Uma é urbana. A outra agreste. Mas as duas têm o propósito de promover um recomeço em Pernambuco.

Marília Arraes enfrentou o desafio de ser a primeira candidata gestante do Brasil, com todos os desafios físicos e emocionais que uma gestação traz.

Raquel Lyra precisou renascer diante da morte. O marido Fernando Lucena faleceu no dia da eleição do primeiro turno e ela continuou tocando a campanha, sem direito ao luto que merecia.

O JC produziu os perfis de Raquel Lyra e Marília Arraes para que o leitor conheça as candidatas para além dos seus currículos profissionais.

A proposta foi apresentar personalidades, visões de mundo e as famílias por trás de cada uma.

Veja o debate entre Marília Arraes e Raquel Lyra na TV Jornal

Uma delas cuidará da vida do povo pernambucano nos próximos quatro anos. Após um período de desacerto, a governadora terá que reconduzir o Estado ao caminho do desenvolvimento socioeconômico. Missão para uma mulher que sabe resolver o macro sem perder a sensibilidade do detalhe. Agora a decisão é do eleitor.

Conheça Marília Arraes, candidata do Solidariedade ao Governo de Pernambuco

Marília Arraes estava na casa do avô, Miguel Arraes, quando desatou a contar como Fidel Castro conseguiu derrubar o ‘perverso rei’ Batista, da Ilha de Cuba. Abismado, o avô perguntou aos pais da menina como ela conhecia a história da Revolução Cubana. Na época, a neta tinha apenas 4 anos.

Bruno Campos/JC Imagem
Marília Arraes, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

Aqueles ensinamentos eram coisa de Dona Sônia Rocha, mãe de Marília. Psicóloga, ela costumava ensinar à filha brincando e contando histórias.

"Como eu queria que ela tivesse contato com os clássicos da literatura, eu contava as histórias em linguagem infantil. Fazia a mesma coisa com personagens da política, como Fidel Castro, Pinochet e outros. Expliquei isso ao avô dela, que ficou maravilhado", relembra.

Arquivo Pessoal
Marília Arraes com o governador Miguel Arraes - Arquivo Pessoal

Até hoje, Marília Arraes brinca que apesar de ter um avô político, a mãe foi uma das responsáveis por lhe 'empurrar' para a política. Dona Sônia recorda que, além de conhecer as histórias, desde muito cedo ela já participa de atos de campanha.

"Quando tinha dois anos, eu levava ela na minha cacunda para assistir aos comícios de Arraes. Marília Arraes foi uma criança precoce. Andou com oito meses e dessa idade já foi daminha no casamento do meu irmão. Com dois anos e meio falava tudo e ao final dos quatro anos já sabia ler. Além disso, é muito decidida, corajosa e tem um forte senso de justiça", conta.

Na infância, Marília Arraes queria ter um cachorro. Dona Sônia até chegou a trazer um poodle para casa, mas como tinha medo do animal, acabou doando.

"O jeito que arrumei foi trazer um coelho branco pra ela e outro marrom para o primo Daniel, que brincava muito com ela. Depois, o coelho Romeu foi parar no quintal do meu consultório. Ela também ganhou um pinto, que cresceu e se transformou em um galo gigante. Para que eu não visse, ela e as funcionárias da casa escondiam o bicho na dependência da empregada, mas eu acabei descobrindo", recorda.

Arquivo pessoal
Marília e Marcos Arraes - Arquivo pessoal

Nascida no Recife, em 1984, Marília Arraes é filha de Sônia Rocha e Marcos Arraes (quinto dos dez filhos de Miguel Arraes). A candidata à governadora de Pernambuco tem dois irmãos: Arthur e Maria Arraes, filhos do segundo casamento do pai.

Casada com André Cacau, é mãe de Maria Isabel, 7 anos (do primeiro casamento) e de Maria Bárbara, 9 meses. Grávida, aguarda a chegada de Maria Magdalena para o primeiro bimestre de 2023.

Confira a sabatina de Marília Arraes na TV Jornal

Religiosa, ela conta que a escolha de Maria antes dos nomes das três filhas é uma reverência à Virgem Maria. Diz que são primeiro filhas dela antes de serem suas.

Devota de Nossa Senhora da Conceição e de São José, Marília Arraes anda sempre com um terço de madeira, como uma espécie de amuleto. A peça lhe acompanha nos debates e em outras aparições públicas e foi presente do Padre Cosmo. No pescoço, traz um crucifixo dourado.

Bruno Campos/JC Imagem
Marília Arraes, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

As lições de fé e religiosidade foram aprendidas com a avó materna Vilma, hoje com 91 anos.

"Eu ensinei Marília a rezar quando era pequenininha e levava muito ela para a igreja. Ela ficava comigo enquanto os pais iam trabalhar e era uma criança que não dava trabalho. Marília sabe que é muito mais do que uma neta pra mim. Ela tem uma coisa de me levar para votar com ela nas eleições. Eu tenho fé que vai dar tudo certo", afirma a avó.

Divulgação
Marília e a avó Vilma - Divulgação

Gestante de seis meses, Marília Arraes consegue manter a elegância em macacões e terninhos de alfaiataria muito bem cortados. Usa sempre uma roupa vermelha, alternada na peça interna ou externa do look.

A família toda trabalha na campanha de alguma forma. No debate da TV Jornal, na terça-feira (25), o marido André Cacau estava com ela, sempre carinhoso. Até a filha Maria Isabel, 7, participou este ano, narrando um vídeo para as redes sociais.

No material, ela apresenta a família, explica que a mãe é política e advogada e destaca sua preocupação com o povo de Pernambuco. O vídeo foi, sem dúvida, uma das peças mais emocionantes da campanha. Dona Sônia conta que, vez por outra, fica sabendo que Maria Isabel banca a cabo eleitoral por onde passa.

Arquivo pessoal
Marília Arraes com o marido, André Cacau, e as filhas Maria Isabel e Maria Bárbara - Arquivo pessoal

"A gente fica sabendo que ela pede votos para a mãe e a tia, Maria Arraes (quando estava concorrendo para deputada estadual). Fui eu quem treinei o texto do vídeo com a minha neta e ela ficou muito feliz com o resultado. Quando ficou pronto assistiu incontáveis vezes", diz.

Depois de conviver com a política dentro da casa do avô Miguel Arraes e de acompanhar os pais nas ações de campanha na infância, Marília Arraes começou a participar ativamente da política na adolescência. Apesar do interesse, o pai, Marcos Arraes, diz que não imaginava a filha disputando um cargo público.

Arquivo Pessoal
Marília Arraes e Miguel Arraes - Arquivo Pessoal

"Quando Marília tinha entre 15 e 16 anos começou a acompanhar o avô em tudo quanto era ato. Ela tinha uma admiração grande por ele. Minha filha foi a única neta mulher por parte da família materna e a primeira neta mulher do meu pai. Quando Arraes ficou sem mandato, ela ia sempre ficar com ele no escritório. Ela também conheceu o presidente Lula na casa do avô. Quando venceu as primeiras eleições para presidente, a primeira visita que Lula fez foi à casa de Miguel Arraes", recorda.

Marília Arraes começou na militância estudantil, quando estudava direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Depois foi para a França e para a Inglaterra estudar línguas. Elegeu-se para dois mandatos consecutivos como vereadora do Recife, atuou como Secretária de Juventude e Qualificação Profissional do Recife.

Gustavo Bezerra
Marília Arraes no Congresso Nacional - Gustavo Bezerra

Em 2019, foi a única mulher eleita para ocupar a bancada do Estado na Câmara dos Deputados, em Brasília. Em 2020, disputou a Prefeitura do Recife com o primo João Campos (PSB) e perdeu por uma pequena diferença de votos.

Na disputa pelo governo de Pernambuco deste ano, venceu o primeiro turno das eleições com 23,83% dos votos válidos, contra a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB).

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Caminhada de Lula (PT) com Marília Arraes (SD) no centro do Recife - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Em entrevista para este perfil do JC, depois de participar do debate da TV Jornal na terça-feira (25), Marília Arraes diz que quer ser governadora para promover uma mudança profunda no Estado.

"Eu quero ser governadora porque Pernambuco precisa de uma mudança focada nos que mais precisam. De uma mudança alinhada ao que o presidente Lula quer fazer no Brasil. E essa mudança precisa ser executada por alguém que exerça uma liderança com foco no diálogo e que conheça Pernambuco. Ao longo dos últimos anos, eu tenho consciência de que consegui adquirir a capacidade de unir quem pensa diferente, de unir divergentes em cidades e partidos, mas que querem um Pernambuco melhor. Também precisamos defender o Brasil de tantos ataques às instituições e à democracia", diz a candidata.

Primeira candidata grávida a disputar um cargo público no Brasil, Marília Arraes lamenta o preconceito e os comentários negativos sobre a gestação. Eleita para seu primeiro mandato como deputada estadual, a irmã Maria Arraes, conta que a família forma uma grande rede de apoio e que a candidata não se intimida nem reclama da sua condição.

Bruno Campos/JC Imagem
Marília Arraes, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

"Marília não reclamava de cansaço, não queria parar e estava sempre animando a tropa e colocando todo mundo pra cima. Nem no início da gravidez, quando Maria Bárbara estava com seus 3 a 4 meses ela se queixava", afirma.

Para Marília Arraes, o governo de uma mulher será o primeiro de muitos passos para alcançar a igualdade e conquistar uma sociedade mais justa, em que homens e mulheres sejam tratados da mesma maneira.

"A presença da mulher em espaços de decisão, em espaços de liderança provoca mudanças. A presença da mulher na política muda a política. Quando uma mulher entra na política, muda a vida dessa mulher, mas quando várias mulheres entram na política a gente consegue mudar a política, mudar as realizações que são feitas na sociedade. Quem disse isso foi a ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet. Sem dúvida, ter uma mulher governadora vai impactar nas políticas públicas como serão pensadas e vão ser executadas", diz.

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Marília Arraes, candidata a governadora de Pernambuco - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM

Quem vê Marília Arraes em uma postura firme, impetuosa e quase belicosa nos debates das eleições para governadora, nem imagina que um dos passatempos dela é algo que exige muita paciência.

Interessada em trabalhos manuais, ela manuseia agulhas de crochê com habilidade, transformando linhas em tapetinhos e outras peças. Assim como surpreendia o avô com sua inteligência precoce na infância, continua sendo uma caixinha de surpresas.

Conheça Raquel Lyra, candidata do PSDB ao Governo de Pernambuco

Quando era criança, Raquel Lyra (PSDB) costumava acompanhar o pai, João Lyra Neto, em agendas políticas em Caruaru, no Agreste. Estava nos comícios, fazia visitas à zona rural e participava de caminhadas.

Em anos eleitorais, arrumava briga com amigos e vizinhos, defendendo os candidatos da família ou os aliados. Na escola, sempre que podia, subia num caixote para discursar.

Bruno Campos/JC Imagem
Raquel Lyra, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

O envolvimento da menina com a política foi precoce. Aos 9 anos, ela fez campanha para o tio Fernando Lyra, nas primeiras eleições diretas após a ditadura militar. Em 1989, ele concorria como vice-presidente na chapa encabeçada por Leonel Brizola (PDT).

Em uma foto da época, Raquel Lyra aparece vestida de "Brizola Presidente'', da cabeça aos pés, segurando sacolas com material de campanha. Mãe de Raquel Lyra, Dona Mércia Lyra conta que ela estava animada com a candidatura do tio, por quem sempre teve grande admiração.

Arquivo pessoal
Raquel Lyra - Arquivo pessoal

"Essa foto foi na casa do tio dela, Fernando Lyra. A gente ia começar a fazer panfletagem com o material, quando ela se vestiu toda daquele jeito", recorda.

A chapa brizolista não levou as eleições, que deram vitória a Fernando Collor, mas o momento marcou a luta pela redemocratização do País e inspirou a futura candidata. Na Família Lyra, o calendário da vida seguia o das eleições. Sempre tinha alguém da família concorrendo ou algum aliado. Aí, todo mundo se envolvia.

Reprodução Redes Sociais
João Lyra Neto e a filha Raquel Lyra, candidata ao governo de Pernambuco - Reprodução Redes Sociais

Entre os Lyra, independentemente da profissão que se escolhe, não se escapa da política. É quase uma ‘herança genética’. Quem não está disputando, está fazendo acontecer nos bastidores. Até Raquel Lyra tentar sua primeira candidatura como deputada estadual, em 2011, não se tinha esperança de que alguém fosse encarar a vida pública.

Confira a sabatina de Raquel Lyra na TV Jornal

Os irmãos Fernando Lyra e João Lyra Neto casaram com as irmãs Márcia e Mércia Teixeira. Cada casal teve três filhas mulheres.

João e Mércia tiveram Nara, Paula e Raquel, que é a caçula das três. Fernando e Márcia tiveram Patrícia, Renata e Juliana

Arquivo pessoal
Raquel Lyra, junto com a mãe Mércia e as irmãs Nara e Paula Lyra - Arquivo pessoal

Dona Mércia lembra que a tradição política da família começou com o pai de Fernando e João Lyra.

"João Lyra Filho era de família muito pobre e migrou de Lagoa dos Gatos para Caruaru. Ele era mascate e caminhoneiro e no começo da vida. Não sabia ler, mas depois aprendeu com sua esposa. Ele foi um vitorioso. Acabou sendo prefeito de Caruaru por duas vezes, falava bem, era super bem-informado e lia os jornais do começo ao fim. Raquel herdou essa obstinação do avô", diz.

A postura séria da candidata ao governo de Pernambuco, durante as aparições na campanha eleitoral, é a personalidade que ela adota profissionalmente. A irmã do meio, Paula Lyra, revela que no convívio familiar e entre amigos ela é diferente.

"Raquel sempre foi bem molecona. Tem riso frouxo e é bastante brincalhona. Quando era jovem gostava de praticar esportes. Jogou basquete (apesar da pouca altura) e também fez natação. Também gostava de animais e tomou para si os cuidados com a cachorra pastor alemão que eu tinha, que foi batizada de Elis, em homenagem à cantora Elis Regina", relembra.

Dona Mércia conta que, como sempre foi reivindicadora, defendeu o direito de a cachorra ter filhotes. 

Arquivo pessoal
Raquel Lyra e a vitória de garantir o direito de que a cachorra Elis tivesse filhotes - Arquivo pessoal

"Raquel defendia que se as pessoas tinham filhos, porque impedir a cachorra de ter filhotes? Por causa disso, tivemos que conseguir um pastor alemão para cruzar com Elis. Quando os cachorrinhos nasceram a mãe só deixava Raquel pegar nos filhotinhos", relata a mãe da candidata.  

A irmã de Raquel, Paula Lyra nos recebeu em seu apartamento, no 19º andar da Avenida Boa Viagem, na semana passada, para contribuir com este perfil de Raquel Lyra. Médica pediatra, ela cedeu seu quarto e do marido para acomodar Raquel e os dois filhos João e Fernando.

"Muitas vezes sinto vontade de colocar ela no colo, não só pelo o que sofreu com a morte recente do marido, mas também pela rotina exaustiva da campanha", revela.

As irmãs não disfarçam o amor e a admiração que sentem pela caçula Raquel Lyra. Contam que ela sempre foi determinada e que, quando decidia fazer alguma coisa, assumia um compromisso e queria entregar o seu melhor. A irmã mais velha, Nara Lyra, explica que isso servia tanto para disputas esportivas quanto para pretensões profissionais.   

Arquivo pessoal
Raquel Lyra relembrando os tempos em que jogava basquete - Arquivo pessoal

"Se ela jogava basquete, queria ser a melhor ou uma das melhores do time. Quando prestou vestibular para Direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ficou em segundo lugar. E também tirou nota dez na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Raquel foi delegada da Polícia Federal no Rio e no Recife, foi Procuradoria Geral do Estado, chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo de Eduardo Campos, Secretaria Estadual da Criança e da Juventude, deputada estadual e prefeita de Caruaru por dois mandatos. Licenciou-se do município para concorrer ao governo de Pernambuco", explica. 

Raquel Lyra é elegante na fala, no comportamento e na forma de se vestir. Durante a campanha para o governo do Estado adotou uma paleta de cores com tons de roxo e rosa, que usa principalmente em calças e blusas. Mantém os cabelos arrumados para trás e presos em um rabo de cavalo.

A maquiagem é discreta, em tons nude. Usa brincos pequenos e delicados e carrega no pescoço um colar com dois bonecos, que representam os filhos João e Fernando.

Bruno Campos/JC Imagem
Raquel Lyra, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

Para este perfil, ela fez imagens no estúdio fotográfico do JC e concedeu entrevista após o debate da TV Jornal, na terça-feira (25). Pediu para retocar a maquiagem, não gostou da cor do batom e mudou. Rearrumou o cabelo. É educada com todas as pessoas e costuma cumprimentar com abraço.

Raquel Lyra diz que quer ser governadora para realizar uma mudança verdadeira no Estado.

"Pernambuco precisa mudar e essa mudança ela não pode se fazer de qualquer jeito, não pode ser uma mudança de faz de conta. Tem que unir os pernambucanos, não pode ter compromisso com erro nem com o passado. Tem que ter capacidade de montar time, de tirar projeto de papel e de sonhar junto com o povo, mas não pode ficar só no sonho e precisa se transformar em realidade", afirma.

Raquel Lyra acredita que o governo de uma mulher pode fazer a diferença pela capacidade de liderar de um jeito diferente, com mais diálogo. Pela capacidade de enxergar o todo e o detalhe.

"Foi preciso chegar uma mulher à Prefeitura de Caruaru para construir o maior programa de creches e educação infantil do município. Foi preciso chegar uma mulher para construir uma maternidade nova. Foi preciso chegar uma mulher para fazer cursos de qualificação profissional voltados para mulher com acolhimento das suas crianças. Foi preciso chegar uma mulher para comprar uma maca elétrica para quem tem deficiência fazer exame de prevenção de colo de útero. Foi preciso chegar uma mulher para ser campeã de Transparência, segundo Tribunal de Contas do Estado (TCE)", diz a candidata.

Bruno Campos/JC Imagem
Raquel Lyra, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos/JC Imagem

Admiradora do tio Fernando Lyra, Raquel Lyra se emociona ao falar dele. Fernando tem um lugar de destaque na história do Brasil como construtor da democracia. Foi deputado estadual e federal, Ministro da Justiça e coordenador da campanha de Tancredo Neves à Presidência da República.

Embora tenha decidido manter a neutralidade política nas eleições para a Presidência e não apoiar nem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem Jair Bolsonaro (PL), a formação de Raquel Lyra permite imaginar sua inclinação política.   

A família sempre se reuniu em torno de Fernando Lyra. Raquel recorda que os encontros e reuniões políticas aconteciam na casa dele e que o tio era o conselheiro de todos.

"Ele é inspiração sempre. Hoje que não posso mais ouvir seus conselhos, mas fico imaginando o que ele diria para me ajudar. De alguma forma eu imagino que ele está por aqui e olha por mim", diz.

Arquivo pessoal
Raquel Lyra e Fernando Lyra - Arquivo pessoal

Dona Mércia diz que Raquel Lyra é determinada e que conseguiu promover uma reviravolta nas eleições para a Prefeitura de Caruaru, em 2016. Ela imaginava que seria a candidata pelo PSB, quando o governador Paulo Câmara (PSB) convocou a 'candidata' para uma conversa no Palácio do Campo das Princesas, no Recife, quase à meia-noite.

O encontro era para dizer que o candidato seria o médico Jorge Gomes. Rejeitando a decisão, Raquel saiu do PSB e concorreu pelo PSDB contra Jorge Gomes e Tony Gel.

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Caminhada da candidata ao governo de Pernambuco Raquel Lyra nas ruas de Rio Doce - GUGA MATOS/JC IMAGEM

A mãe de Raquel Lyra lembra que no início ela tinha pouca intenção de voto, mas conseguiu promover uma virada e vencer as eleições contra os dois candidatos.

"Na primeira caminhada de campanha dela eu sofri um acidente e ela foi sozinha. Quando chegou lá ligou pra mim e disse que não tinha ninguém, apenas o carro de som e o pessoal com as bandeiras. Eu disse a ela que fosse até o carro de som e orientasse o locutor a anunciar que não se tratava de uma caminhada, mas de uma visita ao bairro. Assim, ela saiu andando e se apresentando de casa em casa. Assim foi se tornando conhecida e acabou vencendo as eleições, com muito trabalho e determinação, como costuma fazer", recorda.

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Raquel Lyra, o marido, Fernando Lucena, e os filhos, João e Fernando - Arquivo pessoal

No dia do primeiro turno das eleições para governadora, em 2 de outubro, Raquel Lyra viveu a maior tragédia da sua vida.

Fernando Lucena (44), seu marido há 18 anos e namorado desde os 14 anos, sofreu um infarto fulminante. No final da tarde daquele dia, quando as urnas começaram a ser apuradas, a candidata estava sepultando seu companheiro da vida toda.     

Como era possível estar ali, sepultando o marido, se no dia anterior ele participava da última carreata da campanha com ela? Apesar da vitória nas urnas, o dia 2 de outubro de 2022 jamais trará uma lembrança feliz. Uma tragédia inesperada, devastadora, em uma data que não poderia ser. 

Bruno Campos
Raquel Lyra, candidata a governadora de Pernambuco - Bruno Campos

Desde que o marido de Raquel Lyra faleceu, a candidata teve apenas uma semana para viver seu luto. Depois teve que seguir com a campanha, que era o sonho dela, de Fernando e dos filhos. Paula diz que é possível perceber a tristeza em seu semblante e que tenta consolá-la. 

"Tem dias que ela acorda e me pergunta se a maquiagem vai conseguir disfarçar os olhos inchados de chorar. Respondo que vamos fazer o possível, mas que ela não precisa se preocupar porque todos sabem que esta é a Raquel desse momento", diz a irmã.

Quando passar as eleições, Raquel Lyra vai pegar os filhos, juntar a família e se recolher por poucos dias. Caso vença as eleições neste domingo (30), contra a adversária Marília Arraes (SD), quer colocar Pernambuco em um novo rumo e transformar a vida da população. 

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