Encerrada a apuração das urnas, as candidatas vencedoras do 1º turno, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) vão preparar suas estratégias para a segunda etapa da eleição. Além dos apoios políticos, precisam entender os desejos da população, que escolheram elas apostando em um novo futuro para o Estado.
A eleita vai encontrar um Pernambuco com muitos problemas sociais e a necessidade de estimular o desenvolvimento econômico. Durante a última gestão do governador Paulo Câmara (PSB), o governo fez a escolha de promover um ajuste fiscal, segurar as contas e realizar poucos investimentos. Apenas de 2021 para cá, decidiram abrir o cofre.
O resultado foi gerar déficit em várias áreas com consequências na oferta de serviços à população. São muitas as áreas que a governadora eleita terá que promover mudanças. O teto caindo no Hospital da Restauração (HR) escancarou o sucateamento dos equipamentos de saúde. A cobertura de atenção primária à saúde aquém do ideal e a superlotação nos hospitais são outros problemas.
As estradas no ranking das piores do País e o caos no metrô resumem o desacerto na mobilidade. Na educação, o governo comemora as notas do Ideb no ensino médio e a aposta na escola integral, mas a taxa de analfabetismo é alta, quase o dobro da brasileira.
A interferência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no déficit carcerário de Pernambuco escancara nacionalmente uma ferida histórica na gestão do PSB. O Estado que criou o Pacto pela Vida há 15 anos também precisa reestruturar as ações de segurança para conseguir cumprir a meta de redução de 12% na taxa de homicídios por ano.
Na gestão da água, o governo não conseguiu concluir todas as adutoras prometidas nem as obras das barragens. Em algumas cidades do Estado, a população convive com até 60 dias sem água nas torneiras. Se não tem água, a situação do saneamento é ainda pior. Apenas 30% dos pernambucanos têm acesso a esgoto tratado.
As chuvas de maio, que mataram 133 pessoas em Pernambuco, chamaram atenção para os baixos investimentos nas áreas de risco na Região Metropolitana do Recife (RMR) e na habitação de maneira geral.
O desemprego, a informalidade, a pobreza, a fome e a desigualdade são desafios que precisam entrar de imediato na agenda do novo governador. O Estado foi campeão do Brasil em crescimento da pobreza, é o número 1 em desigualdade social e ocupa sempre o primeiro ou segundo lugar na taxa de desemprego no País.
Sem correção nos rumos, Pernambuco poderá estagnar seu desenvolvimento econômico e social. Atualmente, apesar de ser o décimo Estado mais rico do País, com um PIB de R$ 197,9 bilhões, em 2019, segundo o IBGE, é também o mais desigual. É como ter um bolo grande, mas não dividir igualmente.
O governador eleito precisará encontrar um equilíbrio entre as potencialidades do Estado e o déficit socioeconômico que terá pela frente. Não será tarefa simples. O novo ocupante da cadeira do Palácio do Campo das Princesas vai receber de Paulo Câmara um caixa com bom volume de recursos para administrar.
Por outro lado, terá nas mãos um grande pacote de obras inacabadas, problemas sociais históricos, nós difíceis de desatar (como o déficit do sistema carcerário), o desemprego, a informalidade e o subemprego.