Por mais que a governadora eleita Raquel Lyra (PSDB) empregue o discurso da unidade em Pernambuco, um dos desafios da futura gestão será a composição da base que irá sustentar a sua governabilidade e como será o formato do bloco de oposição.
A conversa com os partidos políticos, independente daqueles que estiveram em seu palanque, deverá se dar de forma mais aprofundada a partir de janeiro. Isso porque siglas como o PT e o PSB, por exemplo, que possuem o discurso em comum de que “o resultado das urnas os colocaram na oposição ao governo eleito”, ainda não cravaram definitivamente como suas bancadas vão atuar na próxima legislatura.
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Essa postura mais cautelosa, segundo os especialistas ouvidos pelo JC, levam em consideração fatores que vão desde a composição nacional até o cenário previsto para as eleições municipais em 2024.
Mesmo que Raquel não tenha aderido ao discurso nacionalizado durante as eleições, mostrando que a posição de neutralidade contribuiu para a sua vitória, as relações políticas do cenário nacional devem influenciar na construção de alianças no âmbito estadual.
“Para o PT e o PSB as situações são diferentes. O PT vai ter essa cautela de se declarar como oposição porque ainda há a questão nacional, com a possibilidade de o PSDB ser base do governo Lula ou pelo menos estar próximo e não ser oposição.”, afirmou o cientista político e professor da Asces Unita, Vanuccio Pimentel.
O Partido dos Trabalhadores possui, junto a composição formada pela federação com PV e PCdoB, um bloco com sete parlamentares. O presidente estadual do PT-PE, Doriel Barros, já afirmou que o primeiro passo será ver de que forma Raquel Lyra pretende dialogar com aqueles que não estiveram em seu palanque, e que os petistas vão buscar ter uma Assembleia Legislativa mais ativa nas discussões.
“Para o PSB é um pouco mais complicado porque do ponto de vista local não há espaço de composição, já que Raquel se elege como oposição ao PSB. Acho muito difícil agora ela querer que os socialistas façam parte do seu governo a princípio. Além disso, o PSB tem a figura de João Campos como expoente que está em ascensão no Estado e que provavelmente é a estratégia do partido de retomar o controle do governo do Executivo no futuro”, avaliou Pimentel.
Sabe-se nos bastidores que o Palácio do Campo das Princesas não fez grandes esforços para conter a dissidência daqueles que optaram por apoiar Raquel Lyra e não a candidata do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade).
Entretanto, o presidente estadual do PSB e deputado eleito Sileno Guedes, já disse que essa decisão será tomada de forma conjunta - o diretório deverá se reunir na próxima terça-feira (29) para discutir o tema. O partido possui a maior bancada da Alepe, com 14 deputados estaduais eleitos.
O PSOL, que elegeu a deputada estadual Dani Portela, por enquanto é o único em que a atuação no bloco da oposição já é dada como certa.
Na próxima segunda-feira (28), deverá ser realizada uma reunião entre a bancada estadual eleita pelo Solidariedade com Marília Arraes, para discutir sobre como será a atuação da sigla diante da nova gestão. O partido elegeu quatro deputados estaduais: Fabrizio Ferraz, Luciano Duque, Gustavo Gouveia e Lula Cabral.
Pouco tempo depois do resultados das urnas indicarem sua derrota, Marília Arraes se pronunciou apenas por meio de nota, afirmando que “a partir deste momento estarei à frente das oposições, liderando incansavelmente a fiscalização rigorosa e o estrito cumprimento das promessas feitas à população durante a campanha”.
O deputado estadual eleito Luciano Duque, porém, afirma que a bancada está se reunindo com objetivo de fortalecer a Alepe, compreendendo o resultado das urnas, mas que a oposição radical não será possível ser feita.
“Creio que a política que devemos exercer tenha que ser em nome das pessoas que nos elegeram. Minha postura é de diálogo e vou trabalhar para o que for de interesse do povo de Pernambuco”, disse Duque.
“A posição do Solidariedade é de tentar se encontrar nesse jogo e como fica a posição de Marília Arraes, tendo em vista que ela foi para o partido e levou consigo toda marca petista, sua militância histórica. Um gesto de composição pode , de certa forma, diminuir suas capacidades de no próximo pleito ser adversária novamente, mas se fizer o gesto de oposição, até que ponto é interessante para o Solidariedade rumar nesse sentido”, comenta a cientes política e professora da Facho, Priscila Lapa.
BASE GOVERNISTA
O PSDB elegeu apenas três deputados: Izaias Regis, Debora Almeira e Alvaro Porto. No entanto, a governadora deve contar com apoio de pelo menos quatro dos cinco deputados eleitos pelo União Brasil - Antônio Coelho, Chaparral, Romero Sales Filho e Romero.
Outro aliado importante é o Partido Progressista (PP), que tem a segunda maior bancada com oito deputados estaduais eleitos e que esteve com Raquel no segundo turno.
Há expectativa de que o PL também integre o bloco governista, mas ainda não há definição por parte do presidente estadual do partido e ex-candidato a governador Anderson Ferreira.
“As urnas nos deram um grande resultado e temos o real tamanho da nossa responsabilidade a partir de janeiro. Pernambuco vem apresentando péssimos indicadores nos últimos anos e isso precisa mudar. Nossa bancada está empenhada em colocar o nosso Estado em um outro momento”, avaliou o ex-prefeito de Jaboatão, em reunião com os cinco deputados estaduais eleitos pelo partido e o deputado estadual eleito Joãozinho Tenório, pelo Patriotas, na semana passada.
Nas contas que estão sendo feitas, oficialmente Raquel Lyra deverá ter em torno de 20 deputados estaduais em sua base. “A governabilidade dela vai depender muito da linha que deverá adotar. Em Caruaru ela não governou com oposição e agora no governo do Estado, além de governar com oposição ela também tem que governar com um conjunto de interesses na Assembleia, na Câmara Federal e nas prefeituras. Ela vai ter que ter uma articulação política muito maior do que o que ela demonstrou ter até agora”, avaliou Vanuccio Pimentel.
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