GOVERNO FEDERAL

CEM DIAS DE LULA: divergências com BANCO CENTRAL marcam CEM primeiros dias de governo

Desde agosto de 2022, o BC mantém a taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,25% ao ano, o que não agrada ao presidente. No governo federal, a reação dos membros varia

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Roberta Soares

Publicado em 09/04/2023 às 14:19 | Atualizado em 09/04/2023 às 14:21
Sede do Banco Central, em Brasília - Marcello Casal JrAgência Brasil

Da Agência Brasil

Nos cem primeiros dias do terceiro mandado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nenhum conflito teve temperatura mais alta que a relação de Lula com o Banco Central (BC). Na quinta-feira (6), em café da manhã com jornalistas, o presidente voltou a declarar que os juros estão muito altos e disse que talvez seja necessário mudar a meta de inflação.

Desde agosto de 2022, o BC mantém a taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,25% ao ano, o que não agrada ao presidente. No governo federal, a reação dos membros varia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo, é crítico. Haddad tem criticado o tom dos comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom), que não descarta novos aumentos nos juros se a inflação continuar persistente.

A ata do Copom, divulgada seis dias depois de cada reunião, tem saído com tom mais ameno, o que tem contribuído para que o governo reduza as críticas ao BC. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem afirmado que a redução da Selic não é fácil porque houve um "deslocamento de demanda" em relação a bens.

"A gente tenta suavizar o ciclo. A gente olha para frente. A gente entende que os juros altos causam esses impactos na parte produtiva. A gente tenta suavizar isso, porque o nosso trabalho é fazer isso na forma que cause o mínimo de dano possível a economia", pontuou durante apresentação a um banco de investimentos.

POSTURA DO GOVERNO FEDERAL EM RELAÇÃO AO BC

A postura do governo em relação ao Banco Central divide os especialistas. Para o professor do Departamento de Economia e de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif, as críticas são acertadas porque a atuação do BC impede a retomada econômica.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, completa cem anos do seu terceiro governo - RICARDO STUCKER/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

"Eu me sinto um pouco desapontado em relação aos 100 primeiros dias. Não em relação ao governo Lula em si, mas porque existem travas institucionais, principalmente por parte do Banco Central, que reduzem a autonomia do governo para fazer uma política que gere empregos", afirmou à Agência Brasil.

Professora emérita de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco contesta e diz que a postura da autoridade monetária é acertada. "Qualquer outra política para combater a inflação fora da política monetária [aumento de juros] é paliativo. Quando o presidente Lula fica batendo no Banco Central, ele só piora a situação. Que a presidenta do PT fale é uma coisa, mas o presidente da República falar é outra coisa", criticou, também em entrevista à Agência Brasil.

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Segundo ela, cada declaração de Lula contra a política monetária provoca turbulências no mercado financeiro. "É como se o presidente estivesse pagando [por meio de oscilações no dólar e nos juros futuros] para criticar o Banco Central", compara.

A divulgação do novo arcabouço fiscal parece ter distendido as relações. Na última quarta-feira (5), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse ter uma avaliação "superpositiva" das novas regras e declarou que o futuro marco fiscal evitará o descontrole da dívida.

Arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad foi citado por Lula como inclusivo - Palácio do Planalto

DESAFIOS PARA O EMPREGO E RENDA 

Para os próximos meses, o governo tem vários desafios. O principal é a aprovação do novo marco fiscal pelo Congresso sem grandes mudanças. A equipe econômica também terá de contar com a aprovação das medidas que revisam ou revertem incentivos fiscais concedidos há décadas para garantir as receitas necessárias para cumprir o novo arcabouço. 

Enquanto o governo está em compasso de espera, a economia sente os efeitos da desaceleração. A criação de empregos com carteira assinada nos dois primeiros meses do ano atingiu o nível mais baixo para o período desde 2020. A taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, caiu para 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, mas o recuo deve-se à criação de vagas com baixos salários. 

No curto prazo, dizem os especialistas, a única alternativa para destravar o mercado de trabalho depende da retomada dos investimentos públicos. "As obras públicas são um importante motor para contratar trabalhadores no curto prazo. Uma saída é a retomada de obras paradas, principalmente de creches. Além de amenizar o problema de emprego, as creches têm uma função social e ajudam mães que querem trabalhar fora e não conseguem", diz Matesco. 

Nassif é mais pessimista e diz que os investimentos para gerar empregos dependem, neste momento, da queda de juros. "Não há outra solução que não passe pela redução dos juros o mais rápido possível. A inflação no Brasil não é de demanda, mas de choques nos preços de combustíveis e de alimentos provocados pela retomada da economia global no pós-pandemia e a guerra na Ucrânia", declara. 

Para esta semana, está previsto o relançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do novo marco das parcerias público-privadas (PPP). Em relação às obras paradas, o governo lançou a plataforma Mãos à Obra, por meio da qual governos locais informam projetos interrompidos num banco de dados. 

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