A política de juros do Banco Central foi o alvo principal dos discursos das centrais sindicais pelo País e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na primeira comemoração ao Dia do Trabalhador que o petista compareceu após 13 anos. No Recife, o ato unificado das centrais sindicais, na Praia do Pina, também criticou os juros.
Lula afirmou que a taxa de juros no País é responsável, em parte, "pela situação que vivemos hoje", fazendo referência ao desemprego. A crítica faz parte dos embates que perduram há meses entre o governo federal e o Banco Central, sob comando de Roberto Campos Neto.
"Não podemos viver em um País onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego, porque ela é responsável por uma parte da situação que vivemos hoje", declarou o presidente da República, em ato do Dia do Trabalhador no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Lula esteve acompanhado dos ministros do Trabalho, Luiz Marinho, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, das Mulheres, Cida Gonçalves, e da presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann.
Estava prevista também a presença do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, mas ela não se confirmou.
No discurso, Lula agradeceu às centrais sindicais por terem dado a ele novo mandato para "consertar o País". De acordo com ele, a missão de sua nova gestão é mostrar que o Brasil pode voltar a sorrir. "O povo não vai permanecer vítima do ódio", disse. "Não podemos viver em um País em que a escola e o emprego não são levados a sério."
As críticas à taxa de juros tiveram forte espaço no ato. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, afirmou que "a partir de amanhã [terça-feira], o movimento sindical estará em luta permanente pela redução da taxa de juros no País". Assim como outras lideranças, ele elogiou as medidas de Lula e seus 100 primeiros dias de governo.
O discurso contra a alta dos juros acontece às vésperas da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) , que acontece na terça e quarta-feiras (2 e 3) para discutir os rumos da taxa Selic e a situação econômica do Brasil. Os membros do Comitê decidirão se a taxa básica de juros aumenta, diminui ou se mantém estável.
A taxa Selic hoje é de 13,75% ao ano. O valor foi definido na última reunião do Copom, concluída no dia 22 de março. Na ocasião, a taxa foi mantida sem ajustes. A expectativa é de que a taxa permaceça igual, sem qualquer alteração.
A Selic vem sendo mantida neste patamar desde agosto de 2022. Se a taxa permanecer igual, uma nova reunião do Copom só acontecerá em 40 dias.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, nos últimos 12 meses acumula 4,65%. Esse desempenho atende a meta de inflação de 2023, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5% para maior ou menor.
Além da inflação dentro do teto da meta, a proposta do arcabouço fiscal também seria outra diretriz da intenção do governo de segurar as contas, permitindo o aumento da selic. No dia 18 de abril, o governo apresentou o projeto de lei do novo marco fiscal do Brasil, com o conjunto de regras que balizará as contas públicas. São compromissos de responsabilidades fiscal e social do governo submetidos para debate no Congresso Nacional.
O presidente Lula também afirmou que o governo estuda isentar da cobrança do Imposto de Renda a participação nos lucros paga aos trabalhadores. Segundo Lula, o assunto está sendo analisado pela equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele chamou de "absurdo" o pagamento de imposto sobre a PLR.
"Se o patrão não paga imposto de renda sobre lucro e dividendo, porque os trabalhadores têm que pagar imposto no PLR? Estamos estudando, quem sabe para o próximo ano. O trabalhador não pode pagar imposto de renda sobre a participação dele no lucro da empresa", reclamou o presidente durante discurso no ato unificado das centrais sindicais.
(Com Agências)