ACORDO COMERCIAL

'Desconfiança' não pode ser premissa do acordo entre União Europeia e Mercosul, diz Lula a Von der Leyen

O presidente Lula lamentou as exigências ambientais dos europeus, após uma reunião nesta segunda-feira (12) com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen

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Amanda Azevedo

Publicado em 12/06/2023 às 20:07 | Atualizado em 12/06/2023 às 21:59
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e Lula - Ricardo Stuckert/PR

Da AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta segunda-feira (12), que "a desconfiança" não pode reger o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, e lamentou as exigências ambientais dos europeus, após se reunir com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

À margem das discussões sobre o pacto, a diplomata prometeu no início de sua visita a Brasília uma contribuição milionária para o Fundo Amazônia e investidores para a produção de hidrogênio no Brasil.

O Mercosul - formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - chegou a um acordo comercial com a União Europeia em 2019, depois de mais de 20 anos de negociações. Contudo, o texto não foi ratificado, em parte devido à preocupação europeia com as políticas ambientais do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).

O clima melhorou com a volta de Lula ao poder em janeiro, mas as exigências ambientais dos europeus, presentes em um documento adicional ao acordo apresentado recentemente pela União Europeia, diminuíram o entusiasmo.

"Expus à presidenta Von der Leyen as preocupações do Brasil com o instrumento adicional ao acordo apresentado pela UE", disse Lula, em entrevista ao lado da dirigente europeia no Palácio do Planalto, em Brasília.

Segundo Lula, esse documento "amplia as obrigações do Brasil e as torna objeto de sanções em caso de descumprimento".

"A premissa que deve existir entre parceiros estratégicos é a da confiança mútua, e não de desconfiança e sanções", destacou o líder brasileiro, que criticou as leis europeias que têm "efeitos extraterritoriais e que modificam o equilíbrio do acordo".

Um exemplo é a legislação sancionada em abril na UE, por exemplo, que proíbe a importação para a Europa de cacau, café, madeira e soja, entre outros produtos, procedentes de áreas que foram desmatadas. "Essas iniciativas representam restrições potenciais às exportações agrícolas e industriais do Brasil", acrescentou Lula.

Ursula Von der Leyen, por sua vez, disse que a UE espera "ansiosa" a resposta do Brasil para suas propostas ambientais e manifestou sua esperança de que o acordo entre os blocos seja ratificado "o mais tardar no fim deste ano".

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"Novo capítulo" 

A presidente da Comissão Europeia também demonstrou entusiasmo com a visita a Brasília em um discurso posterior para empresários da Confederação Nacional da Indústria e diplomatas.

Ela afirmou que, além de colocar em vigor o acordo entre a UE e o Mercosul, o "crescimento limpo" e a "cooperação digital", com a discussão conjunta de regras para o funcionamento das gigantes tecnológicas, são outras duas prioridades do "relançamento da parceria" entre Brasil e Europa.

A entrada em vigor do acordo de livre-comércio marcará "o começo de um novo capítulo" da relação, ressaltou a diplomata alemã. "Juntos, temos que unir nossas forças para defender interesses em comum e encontrar soluções para os desafios globais", acrescentou.

A presidente da Comissão Europeia iniciou no Brasil uma viagem pela América latina que também a levará para Argentina, Chile e México, uma semana depois de a comissão aprovar uma agenda para renovar as relações com os países latino-americanos e caribenhos.

Contribuição da UE para o Fundo Amazônia

Ao lado de Lula, a titular do órgão executivo da UE anunciou a intenção do bloco de contribuir com 20 milhões de euros (R$ 105 milhões) para o Fundo Amazônia, criado em 2008 para preservar a porção brasileira da maior floresta tropical do mundo.

A dirigente europeia também prometeu investimentos em projetos contra o desmatamento e o desenvolvimento de energias renováveis.

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