Deputados ainda querem um aceno concreto do governo Lula, com entrega de ministérios ao Centrão, para garantirem a votação de projetos de lei de interesse do governo, como o arcabouço fiscal. O recado foi dado nesta sexta-feira, 7, na negociação para a aprovação do "voto de qualidade" do governo para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O projeto acabou aprovado na Câmara por votação simbólica, em que apenas os líderes partidários se manifestam. O arcabouço fiscal só deve ser votado em agosto.
No caso da reforma tributária, foi considerável a adesão de parlamentares do PL na votação. Dos 99 deputados do partido, 20 votaram a favor da proposta, que tinha entre seus principais adversários o ex-presidente Jair Bolsonaro, principal líder da agremiação.
Mais cedo, o clima interno na Casa era de que a votação do Carf seria adiada, não pela resistência ao mérito do texto, mas principalmente pela dificuldade na articulação política. Em votação histórica, a Câmara aprovou na noite desta quinta-feira, 6, a reforma tributária. Para isso, o governo assumiu compromissos, e muitos parlamentares queriam garantias de que eles serão cumpridos.
O clima, no entanto, melhorou. De acordo com relatos ouvidos pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o governo mostrou empenho nos últimos dias em resolver os "espaços pactuados", atendendo principalmente União Brasil, Republicanos e PP. Ontem, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu com os principais líderes partidários da Câmara para resolver as insatisfações.
Um dos ministérios em negociação é o do Esporte, de Ana Moser, que seria destinado ao Republicanos. O partido de Marcos Pereira vem resistindo a ocupar espaços no primeiro escalão da gestão petista por causa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, filiado à legenda e considerado competitivo para disputar o Planalto em 2026.
A saída para não associar a sigla ao governo petista seria indicar um nome da "cota pessoal", que não seja necessariamente um parlamentar. O deputado Silvio Costa Filho (PE), próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tenta se credenciar para o cargo, mas o partido resiste a indicar um filiado.
Para atender o PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), o governo negocia o Ministério do Desenvolvimento Social, hoje comandado pelo ex-governador Wellington Dias. Apesar de ser do quadro histórico do PT, Dias é senador licenciado e não ficaria fora da vida pública. Além disso, nos bastidores, avalia-se que o ministro não tem tido um desempenho positivo na pasta, já que comanda uma das principais vitrines do governo, mas não entrega na mesma proporção. Até mesmo integrantes do PT dizem que ele não faz jus ao tamanho da pasta responsável pelo Bolsa Família.
O PP vinha se movimentando para controlar o Ministério da Saúde, comandado por Nísia Trindade e com um orçamento de R$ 188,3 bilhões neste ano. Lula, no entanto, resistiu a atender o pleito Parlamentares da legenda reclamam de que entregam mais votos do que partidos com ministérios e não têm espaço no governo.
Já com o União Brasil o acordo é pelo Ministério do Turismo. Daniela Carneiro está para deixar o cargo, que será destinado ao deputado Celso Sabino (União Brasil-PA). A demora em resolver o impasse no Turismo - a saída de Daniela estava definida desde a segunda semana de junho, mas só foi sacramentada anteontem - se deve ao fato de que o União só aceita comandar a pasta se tiver também o controle da Embratur, hoje sob comando de Marcelo Freixo. O líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento (BA), quer um ministério "completo".