A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), lançou o programa Juntos Pela Segurança, nesta segunda-feira (31), na presença de diversas autoridades, representantes de organizações da sociedade civil, policiais e deputados estaduais e federais.
Na ocasião, o deputado federal Coronel Meira (PL), um dos principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado, fez um pronunciamento para enaltecer a iniciativa do Governo Raquel Lyra de enfrentamento a violência.
“Essa missão que todos nós temos e recebemos, e lá quando iniciamos a gente jura defender com a própria vida toda população pernambucana, é muito importante. E a gente tem certeza que tudo de ruim que poderia ter para a segurança pública do estado de Pernambuco, acabou”, declarou Meira.
“Foi uma fase negra, onde governantes que verdadeiramente não tinham compromisso com a segurança pública fizeram com que o estado permanecesse no caos”, completou o parlamentar, sem poupar críticas as gestões anteriores.
Ainda durante o discurso, o deputado federal do PL disse ter certeza de que a governadora Raquel Lyra vai entregar “a melhor segurança pública que o estado pode ter no nosso Brasil“.
“Nós detemos os piores índices em todos os sentidos, porém governadora, para se obter o êxito a senhora tem que investir na tropa porque atrás de cada farda dessa, existe uma família policial militar”, afirmou o Coronel Meira, sendo inclusive aplaudido de pé pela chefe do Executivo estadual e pelas tropas presentes.
SAIA JUSTA
Durante o lançamento do Juntos Pela Segurança, a secretária de Defesa Social, Carla Patrícia, fez um discurso de mais de 40 minutos, um pouco antes do deputado federal Coronel Meira se pronunciar, destacando as ações realizadas nestes sete meses de gestão.
Vale lembrar que em maio deste ano, o parlamentar fez um acordo judicial com a delegada da Polícia Federal Carla Patrícia. Ele foi obrigado a pagar uma indenização e se retratar desmentindo as acusações que havia feito contra a policial, quando trabalhava na procuradoria da SDS, no governo Paulo Câmara (PSB), e posteriormente na superintendência da PF em Pernambuco.
A ação foi revelada pelo Blog de Jamildo, em setembro de 2021. Na época em que a ex-superintendente da Polícia Federal (PF) em Pernambuco entrou na Justiça Estadual com uma ação contra Coronel Meira, ele era presidente do PTB no estado.
A ação ocorreu após, em sucessivas entrevistas, Meira insinuar que Carla Patrícia estaria "protegendo o PSB" enquanto chefiava a PF em Pernambuco. "Reconheço que a sua gestão à frente da Superintendência da Polícia Federal e da Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco foi íntegra e pautada pela legalidade, moralidade e imparcialidade, desconhecendo qualquer ato que desabone a Delegada Carla Patrícia.", disse Meira, na retratação.
EXPRESSÃO DE CUNHO RACISTA
A expressão considerada de cunho racista “fase negra”, utilizada pelo deputado federal Coronel Meira, para se referir a fase ruim da segurança pública no Estado, não passou despercebida. A socióloga e coordenadora executiva do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jatobá, repudiou a fala.
“Duas imagens emblemáticas do dia de hoje: Coronel Meira usando a expressão racista ‘fase negra’ e o intérprete de libras, homem preto no palco tendo que ouvir e traduzir isso. Nenhuma palavra até agora em desagravo ou repúdio da vice ou da governadora. Isso para mim, fala muito alto. Racismo que chama, né?”, declarou Edna Jatobá, que estava na plateia do Teatro Guararapes, no Centro de Convenções, acompanhando o lançamento do Juntos pela Segurança.
A líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Dani Portela (PSOL), que também participou da solenidade, se posicionou sobre o episódio e considerou a fala de Meira como “infeliz”, principalmente por ter sido utilizada no lançamento de um programa voltado para a segurança pública do Estado.
“É uma expressão que deve ser evitada. Quando falamos ‘a coisa está preta’, ou ‘inveja branca ou negra’, o negro é associado de maneira pejorativa a algo negativo. Nós temos que lembrar que a abolição da escravidão foi algo tardio no Brasil e que até hoje o racismo estrutural permeia na sociedade”, disse Dani Portela.
A parlamentar chama atenção para o fato de que a população carcerária não só em Pernambuco, mas no Brasil, é formada em sua maioria por pessoas pobres, negras e periféricas. “O sistema carcerário reflete uma das expressões mais evidentes do racismo”, declarou Dani Portela.
Sobre o Juntos pela Segurança, a líder da oposição na Alepe considerou a apresentação genérica e que não explicou quais serão as metas de redução da violência, se temas como as drogas serão tratados como uma questão de política pública, por exemplo, e qual o planejamento voltado para os municípios mais violentos do Estado.
“Demorou sete meses para apresentar um diagnóstico, com um plano que mostrava objetivos e estratégias, onde um ponto importante que é a participação da sociedade civil, vai acontecer de maneira relâmpago. A hora de começar a construir com essa participação mais ampla é desde a hora da concepção política desse plano”, pontuou Dani Portela.
INSTRUMENTOS E AÇÕES DO JUNTOS PELA SEGURANÇA
De acordo com o Governo de Pernambuco, o Juntos Pela Segurança está sendo lançado com recursos garantidos na ordem de R$ 1 bilhão para sua execução, sendo R$ 350 milhões oriundo do empréstimo da Caixa Econômica Federal, R$ 200 milhões do Fundo de Segurança Pública e outros R$ 110 milhões provenientes do próprio tesouro estadual.
Desse montante, o Executivo direcionar R$ 660 milhões para investimentos e R$ 350 milhões para contratação de novos profissionais
A nova política de Estado, em substituição ao Pacto Pela Vida, apresenta cinco instrumentos para ser efetivada: Conselho Estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Observatório do Crime e da Violência, Sistema Estadual de Inteligência, Sistema Estadual de Prevenção à Violência e o Plano Estadual de Segurança e Defesa Social.
Sobre o Plano de Segurança, houve um grande chamamento para que a população pernambucana possa participar da sua elaboração. A fase iniciada nesta segunda-feira (31), vai se dividir em duas partes: a escuta popular via site do Juntos (até 1º de setembro) e a realização de oficinas com especialistas das forças operacionais, academia e sociedade civil (até 8 de setembro).
Até 28 de setembro, o Plano será apresentado à sociedade. “Isso vai permitir que possamos virar a chave no nosso Estado e devolver a paz social”, destacou a governadora.
Entre as ações anunciadas, o Juntos Pela Segurança também conta com a entrega de 200 novas viaturas da PM, completando a troca de 415 já realizadas, além de seis veículos de Auto Resgate e um veículo do tipo Auto Busca e Salvamento com Cães (ABSC) para o Corpo de Bombeiros.
Além da substituição de até 35 mil lâmpadas nos territórios que concentram mais de 90% dos crimes violentos patrimoniais. Essa ação está prevista no programa Ilumina PE.