A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) obteve acesso e-mails trocados por militares vinculados à Presidência da República durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que sugerem que tanto ele quanto a ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, receberam um envelope e uma caixa que teriam pedras preciosas.
O recebimento ocorreu na cidade de Teófilo Otoni, em 2022. As pedras teriam sido guardadas num cofre no Palácio do Planalto.
A CPMI obteve o acesso aos e-mails enviados entre 26 de outubro e 11 de novembro do ano passado.
MILITARES NO GOVERNO
De acordo com o Estadão, os e-mails foram trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk.
Ambos foram ajudantes de Ordem da Presidência da República durante o governo Bolsonaro. Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro que está preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.
Ainda segundo o jornal, os e-mails estão descritos como: “Passagem do Serviço Coordenação AJO/PR. Observações eventuais”, e contém listas numeradas com todas as atividades que os militares deveriam cumprir.
PEDRAS PRECIOSAS
Em um dos e-mails, é informado que foi um pedido de Mauro Cid para não cadastrar os recebidos e que os ítens deveriam ser entregues "em mão para ele":
“Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01(um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 9 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto”.
No outro e-mail, que é assinado por Osmar Crivelatti, diz que “pedras preciosas” são tratadas no item 24 da “passagem de serviço”, indicando que demais afazeres da lista teriam sido finalizados.
COMÍCIO
O ex-presidente Jair Bolsonaro esteve em Teófilo Otoni no dia 26 de outubro do ano passado, durante o 2º turno da campanha eleitoral contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na ocasião, o então presidente discursou ao lado do pastor Silas Malafaia e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
CPMI
A existência do e-mail foi revelada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da CPMI do 8 de janeiro nesta terça-feira (1º).
Segundo Jandira, ela declarou que que havia obtido a informação sobre as “pedras preciosas” após análise de “mil e-mails” que haviam chegado à comissão.
“Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”, disse a parlamentar, que informou que vai denunciar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF):
“Ele era presidente à época, então, presta contas ao TCU”, disse. “Pedimos a quebra de sigilo da Michelle, do Bolsonaro e a movimentação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) dos dois. Importante saber o volume de recursos que circularam", concluiu.