A Polícia Federal (PF) intimou o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para prestar depoimento na investigação sobre o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele é esperado na próxima terça-feira (6) na sede da PF em Brasília.
O Estadão entrou em contato com o general, que ainda não se manifestou sobre a intimação.
GSI E ABIN
A Abin fez parte da estrutura administrativa do GSI enquanto Heleno esteve no cargo. A agência passou para o guarda-chuva da Casa Civil em março de 2023, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.
A Polícia Federal acredita que aliados de Bolsonaro infiltrados na Abin faziam parte de um grupo mais amplo responsável por uma espécie de serviço clandestino de "contrainteligência".
ATUAÇÃO DE RAMAGEM FORA DA ABIN
A Polícia Federal (PF) ainda investiga se, mesmo fora da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem tinha acesso aos sistemas e atendia a pedidos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dois indícios acenderam o alerta dos investigadores. O primeiro foi a apreensão de um notebook e de um celular da Abin com Ramagem na última quinta-feira, 25, na Operação Vigilância Aproximada. Ele deixou o comando da agência em 31 de março de 2022, ou seja, há quase dois anos.
A Abin disse ao Estadão que não deu falta dos equipamentos e que a responsabilidade de devolver o material era do então diretor. A agência alega que ele perdeu acesso aos sistemas quando se desligou da instituição. Ramagem, por sua vez, disse em entrevista à GloboNews que os dispositivos não eram usados há mais de três anos.
O segundo indício que levou a PF a desconfiar que Ramagem pudesse ter algum meio de obter informações, via Abin, é o pedido feito pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), por meio de uma assessora, para conseguir dados de inquéritos de interesse da família Bolsonaro. A servidora diz que precisa "muito de uma ajuda", informa o número das investigações e acrescenta que elas envolveriam o "PR (presidente da República) e 3 filhos".
A conversa aconteceu após outubro de 2022, meses após Ramagem deixar a Abin para disputar as eleições. Ele foi eleito deputado federal.
USO CLANDESTINO DE CREDENCIAIS
A PF busca descobrir se, mesmo fora da agência, Ramagem usou clandestinamente suas credenciais para acessar os sistemas de inteligência. Outra hipótese é a de que ele tenha se valido de aliados na Abin para conseguir informações. Sete policiais federais que auxiliavam Ramagem no órgão foram afastados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.
A Polícia Federal acredita que aliados de Bolsonaro infiltrados na Abin faziam parte de um grupo mais amplo responsável por uma espécie de serviço clandestino de "contrainteligência".