NÚCLEO BOLSONARISTA

Generais de 4 estrelas estão entre principais alvos da Polícia Federal

Na investigação, ex-ministros de Bolsonaro e integrantes da cúpula militar estão entre os atingidos

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Estadão Conteúdo

Publicado em 08/02/2024 às 21:07
Alguns oficiais, procurados pela reportagem, definiram a operação, grande parte com base na delação do coronel Mauro Cid, como devastadora - MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Entre os alvos principais da operação Tempus Veritatis estão ex-integrantes da cúpula do governo Jair Bolsonaro que passaram pelo Alto-Comando do Exército, generais de quatro estrelas que participaram das mais relevantes decisões da Força quando na ativa. Eles surgem nos documentos da Polícia Federal descumprindo pilares das Forças Armadas, como hierarquia e disciplina, ao criticar quem rejeitasse o golpe e defender influência nas eleições e até infiltrações em campanhas de rivais.

Alguns oficiais, procurados pela reportagem, definiram a operação, grande parte com base na delação do coronel Mauro Cid, como devastadora. As mensagens trocadas em WhatsApp foram consideradas "não republicanas". De acordo com oficiais, neste momento, não há nem condições de medir o "tamanho do estrago". Mas já se sabe que alguns militares passarão a ser "persona non grata", como Cid, que ainda contava com alguma boa vontade nos quartéis.

MILITARES NO ALVO

Nos mandados de busca expedidos, foram citados Braga Netto (ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente), o general Augusto Heleno (ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional), o general Marco Antônio Freire Gomes (ex-comandante do Exército), o general Paulo Sérgio Nogueira (ex-comandante da Força e ex-ministro da Defesa), o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e o general Estevam Theophilo (ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército). A Polícia Federal acredita que Braga Netto, por exemplo, liderou uma campanha velada, mas agressiva, de pressão a oficiais das Forças que rejeitaram aderir ao plano golpista articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por aliados

COMANDO DO EXÉRCITO

Conversas recuperadas pela PF mostram que o então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, entrou na mira do ministro. Em um dos diálogos, em dezembro de 2022, Braga Netto afirma que a "culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes". "Omissão e indecisão não cabem a um combatente", acrescenta.

"Oferece a cabeça dele. Cagão." As mensagens foram trocadas com o capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso pela Polícia Federal na investigação sobre fraudes em cartões de vacina. Braga Netto também atacou o tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, na época comandante da Aeronáutica, chamado de "traidor da pátria". "Inferniza a vida dele e da família", orienta.

Já o general Theophilo teria concordado com a ideia de golpe em uma conversa com Bolsonaro e seria o "responsável operacional" pela prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão assim que o decreto presidencial fosse assinado", diz a decisão que autorizou a operação da PF, assinada por Moraes.

‘KIDS PRETOS’

As investigações apontam que Theophilo teria usado a alta patente que possuía para "influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do golpe de Estado". O ex-chefe do Comando de Operações Terrestres ainda teria o apoio do coronel Cleverson Ney Magalhães, seu assistente e responsável por organizar encontro para discutir com os "Kids Pretos" atos preparatórios para a intervenção.

"Houve, inclusive, por parte do grupo criminoso, organização de encontro específico na tentativa de arregimentar militares com curso de Forças Especiais (FE), que, segundo a Polícia Federal, coadunados com os intentos golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário", afirma Moraes, que sustenta que a unidade seria fundamental para o plano golpista, pois detém o maior contingente de tropas do Exército. O documento traz ainda a informação de que, no dia 2 de janeiro de 2023, após a transição de governo, o tenente-coronel Mauro Cid relatou a Theophilo o temor de ser preso. "Fique tranquilo. Vou conversar com Arruda (comandante do Exército). Nada lhe acontecerá", afirmou o general.

ELEIÇÕES DE 2022

Na investigação, aparece o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira em uma reunião ministerial, em julho de 2022, dizendo que utilizou as Forças Armadas para questionar a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), visto como "inimigo", e para que as eleições "transcorram da forma como a gente sonha" e "tenhamos o êxito de reelegê-lo (Bolsonaro) e esse é o desejo de todos nós". As declarações estão presentes em um vídeo obtido pela PF no computador de Mauro Cid.

Em outro ponto desse material se detalha a ação do general Heleno. Ele teria defendido que o governo se antecipasse para "virar a mesa" antes da eleição. "Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver de ser feito tem de ser feito antes das eleições. (...) E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Vamos ter de agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso é claro."

A PF também relata que o general Heleno afirma na reunião que conversou com o então diretor da Agência Brasileira da Inteligência (Abin), Vitor Carneiro, sobre a possibilidade de "infiltrar" agentes nas campanhas eleitorais de adversários. "Bolsonaro, possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a Abin estaria fazendo", diz a PF.

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