A prisão do tenente-coronel Mauro Cid na tarde desta sexta-feira, 22, provocou reações de apoio e de indignação nas redes sociais. Apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi acertada, e aliados de Jair Bolsonaro (PL) questionam a legalidade da medida.
Cid foi preso um dia após um vazamento de áudios, divulgados nesta quinta-feira, 21, pela revista Veja, em que o tenente-coronel afirma que o inquérito sobre tentativa de golpe é "narrativa pronta" e que a Polícia Federal (PF) queria que ele falasse coisas sobre as quais não sabia e que não aconteceram.
O mandado de prisão, com caráter preventivo, foi expedido por Moraes por descumprimento de medidas cautelares e obstrução à Justiça. A Corte não informou quais medidas cautelares foram descumpridas por Mauro Cid nem de que forma ele obstruiu a Justiça. A validade da delação de Cid "está sob análise", informou o STF.
Deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann (PT-PR), publicou no X (antigo Twitter) que Cid tentou "fazer jogo duplo". A petista classificou o tenente-coronel como "mais um abandonado pelo inelegível", em referência ao fato de Jair Bolsonaro não poder se candidatar até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse em seu perfil na rede social que se Cid ficou "ressentido de entregar a quadrilha que tentou acabar com a democracia", deve perder os benefícios da delação premiada. "Como todo criminoso." Em outro post, ele afirmou que "o discurso que ele (Cid) faz para a plateia não muda em nada o que foi a tentativa de golpe" e aconselhou que o militar "assuma as consequências de mais uma vez agir contra a lei, tentando obstruir a Justiça e descumprindo cautelares".
O deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que Mauro Cid "caiu no próprio buraco que abriu". "Sem anistia para Cid, seu capitão e todo os outros golpistas", escreveu no X.
Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo apoiado por Lula, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) escreveu que "a hora do mito também vai chegar", referindo-se a Bolsonaro.
Já o ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado federal com mandato cassado em 2023, Deltan Dallagnol (Novo-PR), questionou a legalidade da prisão preventiva. "O que mudou senão o enfraquecimento da própria delação? Contudo, isso não é requisito de preventiva." O ex-deputado também voltou a criticar o STF: "o Supremo segue sendo supremo, colocando-se acima da lei O Supremo pode tudo".
O senador Carlos Portinho (PL-RJ) também sugeriu a não observância do processo legal na prisão de Cid. "Num Estado policialesco, primeiro prendem e torturam. Ou vice-versa. E deixam preso até confessar o que querem ouvir. Além dos prazos legais ou razão."
Os bolsonaristas também questionam a veracidade da delação premiada do tenente-coronel. O deputado federal Delegado Zucco (PL-RS) escreveu que já esperava que Cid fosse preso e que a "liberdade de expressão" deveria ser defendida por todos.
"Já era esperado que isso viesse a acontecer. Num Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão deveria ser defendida por todos. Infelizmente, não é isso que constatamos no Brasil de hoje. Agora cabe a resposta: é verdade o que Mauro Cid denunciou?", questionou. Bolsonaro e aliados são investigados no inquérito sobre suposta tentativa de golpe de Estado.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) questionou se a prisão não confirma as declarações de Cid nos áudios vazados. Nas gravações, Cid diz que a investigação sobre tentativa de golpe é "narrativa pronta". "A prisão do Cid não seria uma confirmação da veracidade do conteúdo do áudio dele?", perguntou
Também no X, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirmou que um grupo de senadores vai propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar "acusações de crimes nas apurações do STF a cargo da PF". "O relato do ex-ajudante de ordens do governo anterior é muito grave e parece ser mais crível ainda devido à espontaneidade e por ele ter gravado o áudio enquanto estava solto", disse.
A família Bolsonaro ainda não se pronunciou a respeito da prisão de Cid. O ex-presidente, os filhos políticos dele e a esposa Michelle não postaram nas redes sociais sobre a nova prisão do ex-ajudante de ordens da Presidência. Mais cedo, o advogado Fábio Wajngarten defendeu a queda do sigilo dos depoimentos do tenente-coronel após o vazamento dos áudios.
O ex-ajudante de ordens da Presidência foi um dos presos da Operação Venire em maio de 2023. Ele assinou um acordo de delação premiada e foi solto em 9 de setembro. Hoje, é um dos 17 indiciados pelos crimes de associação criminosa e de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde, assim como Bolsonaro. Ele ficará preso novamente na Polícia do Exército, em Brasília.