Desde que anunciou que não iria disputar a reeleição à prefeitura de Paulista no pleito de outubro, por questões de saúde, Yves Ribeiro (PT) vem desacelerando o ritmo de trabalho, mas segue cumprindo agendas como prefeito e não conseguiu se desvencilhar completamente da campanha eleitoral do município.
Na última segunda-feira (5), Yves participou da convenção que oficializou a candidatura de Ramos (PSDB) à prefeitura de Paulista, contrariando seu Partido dos Trabalhadores, que rumou para a chapa de Francisco Padilha (PDT), indicando a candidata a vice-prefeita, Aron Gomes.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, Yves Ribeiro contou que a retirada da sua candidatura à reeleição se deu pela queda na receita dos municípios brasileiros, o que lhe gerou tensões no comando do município e problemas de saúde mental.
“O corpo está bem. O problema é que, com essa queda de receita, Paulista, por ser uma cidade grande, teve uma dificuldade grande de se governar. Fui internado quatro vezes, fiz exames de coração, ressonância e a saúde está boa. Mas a mente estava perturbada. Tive problemas de ansiedade, crises fortes. Meu psiquiatra me aconselhou a deixar a política se eu quisesse cuidar da saúde”, relatou.
“No sábado da Copa América [dia 6 de julho, quando o Brasil foi eliminado pelo Uruguai], tive uma crise forte, saí do condomínio, fiquei a noite toda rodando até 6 horas da manhã. Fui para a casa dos meus filhos, foram muitos problemas sérios”, contou o prefeito.
“Você tem que escolher. Graças a Deus, eu saí no momento certo. Tenho toda a minha história que o povo sabe e tive que fazer essa escolha para terminar o meu mandato com a prefeitura organizada, pagando todas as despesas. Entre a minha vitória e deixar a prefeitura desorganizada, preferi recuar e deixar a prefeitura saneada”, completou.
Trajetória
Yves começou a vida política, oficialmente, em 1983, quando foi eleito prefeito de Itapissuma, no Litoral Norte, onde também se elegeu em 1992. Depois, foi eleito prefeito de Igarassu, em 1996, se reelegendo em 2000. Quatro anos depois, foi eleito pela primeira vez para a prefeitura de Paulista, onde também ficou por dois mandatos.
Depois de tentar uma cadeira na Alepe e, novamente, a prefeitura de Igarassu, em 2014 e 2016, respectivamente — ambas sem sucesso —, conseguiu se eleger para um terceiro mandato em Paulista, em 2020.
Ele afirma que aprova todas as suas gestões nas três cidades. "Itapissuma é uma cidade menor, em que nasci e me criei, é minha raiz. Igarassu é uma cidade grande, saí com mais de 90% de aprovação, foi uma cidade que se destacou, tivemos investimentos internacionais e todo o trabalho feito lá se popularizou muito", analisou.
Sobre a cidade de Paulista, ele afirma que o orçamento apertado torna a gestão difícil. "É difícil de governar dessa forma. Mas todas as cidades, para mim, foram palpitantes, foram experiências positivas", avaliou o prefeito.
Yves Ribeiro nega que vá se aposentar da política ao final do mandato atual e afirma que, quando deixar a prefeitura, pretende trabalhar em prol de uma pessoa específica: a governadora Raquel Lyra (PSDB).
“Não vou me aposentar. A gente tem que dar um passo para trás para dar dois para a frente. A governadora me ajudou no momento mais difícil da minha vida. O senador Humberto [Costa, do PT] também, mas não deu para sanar as dificuldades. No dia em que dei meu depoimento que ia deixar o governo, a governadora Raquel Lyra me convocou no palácio, disse que iria me ajudar, me recebeu como pessoa humana e também mandou chamar meus secretários. Foram duas horas de conversa para me ajudar a entregar a prefeitura organizada”, contou Yves.
Segundo o prefeito, durante essa conversa, a governadora se comprometeu a injetar recursos para a realização de obras como a Casa de Recuperação de Crianças, Upinhas e a duplicação da PE-01, que, segundo o prefeito, receberá investimento milionário para o trecho que vai até o bairro de Maria Farinha.
“Se Deus quiser, estarei junto com a governadora e não só em Paulista, mas em Igarassu, Itapissuma. A gente tem influência política em Goiana, Araçoiaba, Olinda. Estarei com ela no Litoral Norte. Tenho a certeza de que serei instrumento para ajudá-la daqui a dois anos”, afirmou o prefeito, se referindo a uma possível reeleição de Raquel.
Relação com o PT e Raquel
Embora tenha garantido fidelidade ao presidente Lula, Yves reforçou que estará ao lado de Raquel Lyra depois que deixar a prefeitura. Ele afirmou que o Partido dos Trabalhadores poderia tê-lo ajudado mais.
“Para mim, Lula é a maior importância desse país. Sou Lulista. Agora Raquel me abraçou no momento mais difícil, quando o PT não me abraçou. Meu papel fundamental é ajudar a governadora de Pernambuco, se Deus quiser, a ela se reeleger, reconquistar o seu mandato. Ela é uma mulher séria, tem futuro até fora de Pernambuco na política”, disse.
Yves também criticou a aliança do PT com o PSB, tanto no cenário local quanto nacional. Na visão dele, o Partido dos Trabalhadores se uniu com um partido que “ajudou a cassar Dilma”.
“Eu era do PSB, do diretório nacional, quando o partido votou pelo impeachment de Dilma. Bolsonaro continua aí porque uma das siglas que fez isso foi o PSB, que tirou Dilma do Governo. Aqui também aconteceu isso, quando Carlos Veras e Mozart Sales se apresentaram como candidatos a vice-prefeito no Recife e João Campos deu mais um golpe do PSB contra os companheiros do PT. Não posso concordar com isso”, relatou.
“Faço política há 60 anos, junto com Arraes, Jarbas, com o próprio Lula, pessoas que fizeram política com seriedade e alinhamento de forças. O PT hoje é uma grande vítima do PSB. São 16 anos no poder e o PSB não deu o tamanho que o PT merecia no governo do estado. Não tem por que o PT me contestar”, desabafou.
Apoio a Ramos
A decisão de não acompanhar o Partido dos Trabalhadores no apoio a Francisco Padilha partiu exclusivamente de Yves, que também rechaçou apoio a Júnior Matuto (PSB), seu rival histórico em Paulista.
“Padilha é laranja de Júnior Matuto, então a gente não pode concordar. Inclusive no lançamento da campanha dele o locutor perguntou sobre o futuro da votação e a resposta dele era sobre tirar Yves. E que se Junior Matuto passasse para o segundo turno, ele apoiaria Matuto, e vice-versa. São farinha do mesmo saco”, disparou.
O prefeito afirma que escolheu Ramos por ele ser um “cara que vai deixar a cidade organizada e sem corrupção”, e que não tem medo de represálias do PT.
“Não me ouviram, não quiseram a chapa pronta. Quem manda em mim é o povo. Faço as coisas discutindo, tanto que deixei para o último dia anunciar o nosso apoio a Ramos, porque não fui ouvido. Acima do PT está o povo”, disse o gestor.
Futuro
Yves permanece no cargo de prefeito até o final deste mandato. Além da promessa de trabalhar em prol da governadora Raquel Lyra, ele afirma que vai seguir com agendas próprias depois que deixar o Executivo. Ele pretende continuar realizando palestras sobre gestão pública e diz que lançará uma biografia.
“Tenho 48 anos de vida pública, já fiz mais de 200 palestras em vários países como Portugal, Suécia, Suíça, Alemanha, Espanha e vários estados brasileiros, em parceria com Sebrae e Unicef. Já tenho convites para fazer novamente fora do Brasil”, disse o petista.
Nesses eventos, Yves compartilha sua história de governança em diferentes municípios e as nuances de trabalhar e desenvolver políticas públicas em cenários com muito ou pouco recurso.
“Temos todo o histórico de luta, de usar a máquina para governar as áreas saneamento, saúde nas comunidades, trabalho social, reciclagem de lixo. Mesmo eu não sendo formado, tenho a faculdade da vida e por isso fiz palestra no mundo inteiro. Tenho muita coisa para passar para essa nova geração”, avaliou.
Ainda que planeje se manter ativo após deixar a prefeitura de Paulista, Yves já se prepara para a mudança de rotina no próximo ano e confessa que vai sentir falta de estar próximo da população.
“Vou sentir falta do calor humano do povo. O sentimento que vou ter é a falta de ter uma máquina na mão para ajudar o povo. O maior pagamento da minha vida foi quando recebi o carinho do público na convenção de Ramos. O delírio das pessoas me levou às lágrimas, porque eu gosto de estar junto da cidade. Se eu tivesse condições de fazer isso sem precisar pedir o voto das pessoas… mas a maneira mais democrática é o poder”, disse.
“Eduardo Campos uma vez me perguntou por que eu não queria ser deputado. Eu respondi que era porque por onde eu passo as pessoas gritam: ‘prefeito, prefeito’”, finalizou Yves.