Quem passa um tempo na internet, nesses últimos meses, vê muitos falando sobre o "nevou" e "loiro pivete". Desde pessoas famosas a desconhecidos da mídia, todos aderiram aos termos e também à famosa pintura no cabelo. Um exemplo é Lázaro Ramos, que fez o estilo "loiro pivete". Apesar de ser bem comum ler essas palavras, muitos não sabem o que significa ou, até mesmo, a origem delas.
O "loiro pivete" é um precedente do "nevou". Isso porque o pessoal pinta o cabelo de um loiro específico, mas só que para chegar no "nevou", é preciso passar pelo tom galego e platinar até ficar bem branquinho. Apesar de ganhar a fama durante a pandemia da covid-19, esse estilo já existia há muito tempo no Carnaval pernambucano, nas ladeiras olindenses e nas ruas recifenses.
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Com o surto do novo coronavírus, os jovens começaram a pintar dessa forma no mês de dezembro com mais intensidade que antigamente, a fim de "lançar a braba" no Natal e réveillon, já que o período carnavalesco foi proibido nos estados brasileiros. Quanto ao motivo de se tornar uma tendência não se sabe, mas alguns lugares afirmam que o galego foi estrelado pelo cantor Belo e Rodriguinho, nos anos 90:
E o platinado, quando o jogador Gabigol fez uma campanha para o Flamengo em 2019:
"Isso começou com o ritmo de periferia. Não foram cantores de ópera que lançaram o platinado, foi Rodriguinho, foi gente de 'quebrada'. Por isso que esse tipo de coisa a gente só vê na favela, se a gente for andar nela, vê quase 100% das pessoas com esse tipo de cabelo", falou o barbeiro Mucão, morador de Olinda.
Preconceitos e representatividade
Apesar de ser utilizado, atualmente, por muitas celebridades, os dois já foram muito marginalizados pela população. É um estilo que veio das comunidades, principalmente de pessoas pretas, o que torna uma cultura desse povo. Essa é uma forma da população periférica ter o seu momento de descontração, já que em dezembro, janeiro e no Carnaval, estão de férias ou recesso. Mesmo assim, apesar de seres mais feitas no período festivo de fim de ano e no carnavalesco, o loiro e branco também aparecem bastante ao longo do ano.
“Eu sempre usei no Carnaval, pois é o meu momento de diversão e de mostrar de onde eu venho. Por mim, usaria em várias épocas do ano, mas o preconceito é muito forte. Os famosos usam e são enaltecidos, a gente da favela não tem esse privilégio”, falou Luís Santos, que aderiu às duas pinturas. E é por esse relato do jovem de 24 anos, e muitos outros que passam ou passaram pela mesma situação, que os dois modos são um símbolo de representatividade e resistência muito forte para as periferias e para o povo preto.
Além da marginalização, mulheres também passam pelo processo de preconceito. “Como uma mulher preta, é muito difícil se libertar das amarras de pensar no julgamento das pessoas, porque acontece muito. Demorei pra raspar o cabelo e ‘meter’ um platinado. Mas, hoje, eu vejo que é minha identidade e que me deixa única”, contou Laís Helena, de 20 anos.
O jornalista Raoni Oliveira, apresentador da TVE Bahia, foi um dos pioneiros no jornalismo a entrar no programa com o cabelo loiro. Orgulhoso de si, o comunicador chegou a publicar um fio no Twitter para falar sobre a importância de ter pessoas pretas como referência, principalmente na área midiática, onde atinge uma boa parte da população. "[...] o fenômeno, acredito eu, não tem apenas a ver com mística da virada, mas sim, com um período maior de recesso onde eles podem fazer o que quiserem com seus cabelos, afinal muitos não vão precisar voltar ao trabalho nos próximos dias", escreveu o comunicador.
No fim, o "loiro pivete" e "nevou" só mostra a beleza da cultura preta e periférica, com símbolos de resistência cada vez mais fortes.
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