A cantora Elza Soares faleceu na tarde desta quinta-feira (20), aos 91 anos. A causa da morte foi natural, enquanto a artista estava em sua casa no Rio de Janeiro. Quem deu a notícia, através das redes sociais, foi a equipe da cantora.
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Em 1999, Elza Soares foi reconhecida como "Cantora do Milênio". Foi ela quem deu voz a canções marcantes como "A Carne", "Mulher do Fim do Mundo" e "Eu Bebo Sim". A cantora também é considerada uma das 100 maiores vozes da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil. Mas se engana quem pensa que sua trajetória não foi, no mínimo, difícil.
Infância dura
Natural do subúrbio do Rio de Janeiro - em uma favela onde hoje está situada Vila Vintém -, Elza da Conceição Soares era filha de Avelino Gomes Soares, um operário, e de Rosária Maria da Conceição, que trabalhava como lavadeira.
Sua paixão pela música começou nos momentos em que ela e o pai cantavam juntos, quando ele tocava violão nas horas vagas que tinha. Elza teve uma infância dura e interrompida. O motivo? Foi obrigada pelo pai a casar, quando tinha somente 12 anos. Dessa relação nasceu, no ano a seguir, João Carlos, que veio a falecer em decorrência de desnutrição.
Começo da carreira
Aos 15 anos, Elza perdeu o seu segundo filho, que faleceu de desnutrição. O casamento foi abruptamente interrompido com a morte do marido, Lourdes Antônio Soares, deixando a cantora viúva aos 21 anos. Aos 27, já era mãe de cinco crianças: quatro meninos e uma menina. Mais ou menos nessa época, Elza teve uma filha sequestrada, a qual só veio se reunir 30 anos depois.
O primeiro emprego dela foi como encaixotadora em uma fábrica de sabão no Engenho de Dentro. Mas a veia artística falou mais alto e, em 1953, fez o seu primeiro teste na Rádio Tupi, no programa de calouros Ary Barroso, tendo ficado em primeiro lugar.
Ao ser questionada por Ary Barroso sobre de “que planeta vinha”, Elza prontamente deu a resposta: do planeta fome. No dia o radialista afirmou que, naquele momento, nascia uma grande estrela.
No início da sua trajetória, também trabalhou na Orquestra Garam Bailes, como crooner, até 1954. Sua carreira na rádio continuava, sendo contratada para trabalhar na Rádio Vera Cruz em 1959. No ano seguinte, atuou no Festival Nacional da Bossa Nova.
Elza Soares e Mané Garrincha
Dois anos depois, em 1962, Elza foi a representante do Brasil na Copa do mundo no Chile. Meses antes da competição, a cantora foi assistir a um treino do Botafogo/RJ onde conheceu seu futuro companheiro: Mané Garrincha. Os dois se aproximaram durante a Copa do mundo, mas tinha um porém.
Na época em que se conheceram, Garrincha era casado e, por conta de sua nova paixão, se separou da esposa. Já Elza namorava o baterista Milton Banana, mas depois de conhecer o jogador, terminou seu relacionamento com o músico. Separados, eles enfim puderam assumir o romance.
Mas não sem antes passar pelo julgamento da sociedade. A cantora chegou a ser ameaçada de morte, sofrer ataque nas ruas e era constantemente hostilizada pelos amigos de Garrincha.
Ainda assim, eles mantiveram uma relação por mais de dezessete anos e tiveram um filho, chamado Garrinchinha. Ele, porém, faleceu em um acidente de carro em 1986, aos nove anos de idade.
Quando se aposentou dos campos, o atleta tornou-se alcoólatra e passou a agredir fisicamente Elza, que apesar ter chegado a ficar com dentes quebrados, não denunciou o caso. Foi dessa experiência que surgiu a canção "Maria de Vila Matilde", em que ela afirma: "Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim".
O casamento acabou em 1982, após diversas agressões físicas, ciúmes e traições. O alcoolismo de Garrincha também foi fator de peso nessa decisão. O jogador morreu em 1983, vítima de cirrose hepática, decorrência do alcoolismo.
Cantora do Milênio
Em 1999, Elza foi eleita pela rádio BBB, de Londres, como a cantora brasileira do milênio. O contexto da homenagem se deu através do projeto The Millenium Concerts, da rádio inglesa, para comemorar a chegada do novo século.
Em 2012, também apareceu na lista de 100 maiores cantores da música brasileira, da Rolling Stone Brasil.
Acidente
Em 2013, Elza Soares sofreu um acidente no palco. O fato fez com que ela tivesse a mobilidade reduzida, se movimentando com dificuldade. Chegou a fazer uma cirurgia para resolver o problema em 2014, onde precisou colocar oito pinos na coluna.
Mesmo assim, Elza continuou gravando, lançando músicas e fazendo show. Por muito tempo, se apresentou sentada e quase imóvel. Não perdeu nem um pouco da sua potência. Afinal, como ela mesma dizia, "se não fosse a música eu não resistiria". E é a música de Elza que agora vai resistir.
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