A influenciadora Maíra Cardi tem sido alvo de polêmicas e dado o que falar desde que o marido, Arthur Aguiar, entrou no BBB 22. Desde a estreia do reality show, Cardi tem comentado a participação do marido e, em especial, criticado sua alimentação.
Em um primeiro episódio, Maíra usou os Stories do Instagram para registrar sua indignação com o fato de que Arthur estava comendo pão dentro da casa do Big Brother Brasil. A influenciadora é conhecida por manter uma dieta super restrita e, de acordo com o próprio Arthur, só come um pão feito por ela mesma e sem glúten.
Maíra chamou atenção do público com seu discurso inflamado sobre a alimentação do marido, chegando a trocar farpas nas redes sociais com o nutricionista Daniel Cady, marido de Ivete Sangalo. Cady fez uma postagem falando sobre o “terrorismo nutricional” disseminado pela influenciadora e ela rebateu os comentários em suas redes sociais.
Nesta terça-feira (2) Maíra fez uma postagem polêmica. Em seu TikTok a influenciadora postou um vídeo onde fala sobre um suposto “estupro alimentar”. No vídeo, uma mão empurra uma sobremesa na boca de Maíra, que fala: “Estupro alimentar é quando a pessoa que você mais ama, que diz que mais te ama, a sua mãe, o seu marido, a sua melhor amiga, quer te empurrar guela abaixo aquilo que você disse não”.
Veja o vídeo:
“Estupro nutricional” existe?
De acordo com a nutricionista Neusa Lygia, o termo não é registrado na literatura científica da área. “Encaro esse termo como uma banalização aos transtornos alimentares. Assunto sério, pertinente e atual que deve ser tratado com muita cautela e responsabilidade. Mais uma vez, utiliza da mediocridade para chamar atenção e aterrorizar a população com intuito de vender seu produto”, pontua a doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O termo usado por Maíra Cardi em seu vídeo utiliza a prática do estupro, definida pelo Código Penal Brasileiro como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, como sinônimo para uma ação feita à força, sem consentimento do outro. A influenciadora associa o termo à alimentação e refere-se a uma suposta prática que, em sua tese, pessoas obrigam outras a comerem coisas que não querem, gostam ou podem por restrições ligadas a problemas de saúde ou por seguirem “dietas”.
A nutricionista explica que o termo “dieta” também é entendido de forma errônea pela população. “Dieta é aquilo que você come, o que você tem hábito de comer no dia-a-dia”, explica. Geralmente, associamos o termo à prática de restrições alimentares com um objetivo, seja emagrecer, engordar ou ganhar massa muscular. “Dieta não está ligado a restrição, a exclusão, como muita gente pensa”, esclarece a profissional.
Neusa Lygia ainda alerta para o aspecto social da alimentação. Quando se segue recomendações rígidas e que não permite exceções para curtir, por exemplo, uma festa com amigos ou familiares, se perde uma parte importante para a saúde mental do indivíduo. “Se você vai a uma festa, se você foi convidado é porque as pessoas querem a sua presença, é consideração, é afeto. Cabe a você saber que pode comer alimentos palatáveis e se confraternizar. Tudo isso é ensinado pelo profissional que faz o acompanhamento. Precisamos encarar a alimentação como uma aliada e não como um inimigo”, explica.
Como Maíra Cardi promove terrorismo nutricional?
O discurso agressivo de Maíra Cardi em relação às restrições alimentares, geralmente incluídas na dieta sem necessidade real, é considerado “terrorismo nutricional”. A influenciadora replica a ideia de que existem “alimentos bons” e “alimentos ruins”, como o pão que ela critica da alimentação de Arthur Aguiar.
“Essa prática pode levar a falta de nutrientes necessários para a nossa sobrevivência, disfunções hormonais e problemas relacionados à saúde mental, como também o incentivo a transtornos alimentares”, explica Neusa Lygia sobre o terrorismo nutricional.
O terrorismo nutricional propagado por Cardi é uma forma de regular as práticas alimentares dos indivíduos. Ao colocar carga negativa em determinados alimentos, o discurso transforma a hora da alimentação em um momento estressante e o ato de comer “errado” causa culpa nos indivíduos. A relação com a alimentação se torna, dessa forma, tóxica, e o psicológico é afetado de forma negativa.
“O discurso da blogueira, além de ser carregado de falta de conhecimento, do ponto de vista técnico da ciência da nutrição, promove uma enxurrada de informações erradas e incentiva a comportamentos que não fazem parte de nenhuma conduta nutricional, até porque trabalhamos com promoção à saúde”, finaliza Neusa.