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Pais e especialistas criticam adultização precoce nas redes sociais

A partir dos 13, os pré-adolescentes já são aceitos em redes sociais com pouca proteção e, às vezes, com trágicas consequências - criticam pais e especialistas

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AFP

Publicado em 01/10/2021 às 19:19
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O Facebook deflagrou mais uma polêmica com sua proposta de criar um Instagram para crianças de menos de 12 anos, ideia na qual acabou recuando, mas que expôs uma nova realidade: a partir dos 13, os pré-adolescentes já são aceitos em redes sociais com pouca proteção e, às vezes, com trágicas consequências - criticam pais e especialistas.

Isso resulta de uma lei de duas décadas atrás, que estipula os 13 anos como maioridade legal na Internet. Este é o limite exigido de Facebook, Instagram e Snapchat, todos muito populares entre a garotada.

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Josh Golin, da organização Fairplay, afirma que a Lei de Proteção da Privacidade Infantil na Internet (COPPA, na sigla em inglês) buscava proteger a privacidade dos menores de 12 anos, mas foi criada muito antes das redes sociais e agora está perigosamente obsoleta.

"Aos 13 anos, a Internet basicamente trata você como um adulto", afirmou. "Duvido que muitas pessoas dissessem agora (...) que parece um bom momento para se jogar na toca do lobo", completou, em entrevista à AFP.

Senadores americanos convocaram uma audiência, nessa quinta-feira (30), para debater os "efeitos tóxicos do Facebook e do Instagram" nos jovens. A sessão incluirá um interrogatório à executiva do Facebook Antigone Davis.

As preocupações com o potencial dano que as plataformas podem causar nos jovens dispararam depois de que The Wall Street Journal revelou uma pesquisa feita pelo Facebook sobre o vício que o Instagram pode causar nos adolescentes.

Depois disso, o gigante das redes sociais anunciou, na segunda-feira (27), a suspensão do desenvolvimento de uma versão para crianças deste aplicativo de fotos, para consultar pais e grupos que lutaram contra este projeto.

Sobre esse recuo do Facebook, o presidente e cofundador do Centro para a Tecnologia Humana, Tristan Harris, fez um alerta.

"Isso não detém todas as crianças que já estão lá, cujas ideias suicidas, dismorfias corporais, ansiedade e depressão permanecem", afirmou, referindo-se à longa lista de danos atribuídos ao uso contínuo de redes sociais entre menores.

As preocupações são maiores para os adolescentes de 13 anos, aos quais ainda falta uma década para terem completamente desenvolvidas partes fundamentais do cérebro para tomar decisões e controlar impulsos.

O Facebook argumenta que os menores, que ganham telefones celulares cada vez mais cedo e mentem sobre sua idade, precisam de aplicativos projetados para eles.

Alex Stamos, ex-chefe de segurança no gigante das redes sociais, afirma, no entanto, que o problema on-line vai muito além de aplicativos e programas.

"Os pré-adolescentes provavelmente não deveriam ter celulares, mas os pais dão a eles, de qualquer maneira (...) Os jovens adolescentes não deveriam ter redes sociais, mas os pais permitem", tuitou.

Congressistas americanos apresentaram projetos de lei - incluindo um do senador Ed Markey, que ajudou a elaborar a COPPA -, mas sua lentidão contrasta com a velocidade do impacto da tecnologia nas vidas humanas.

Crianças dependentes mais cedo

A Comissão Federal de Comércio americana (FEC, na sigla em inglês) parece estar considerando reforçar a proteção da privacidade on-line, incluindo a das crianças. Estas mudanças podem, no entanto, levar anos.

"Aumentar a idade para 16 anos seria muito mais inteligente para todos os envolvidos", disse o fundador e diretor-geral do grupo Common Sense Media, James Steyer, à AFP.

Ele acrescentou que as companhias também precisariam investir recursos - na escala de centenas de milhões de dólares - para garantir o respeito da idade legal vigente.

Por trás do medo e da indignação nas redes sociais, há terríveis e dramáticos relatos de casos de assédio on-line, automutilação e obsessões tóxicas corporais exacerbadas pelas publicações.

Especialistas avaliam que as redes sociais também podem ter poderosos efeitos benéficos na vida dos adolescentes, como no caso de crianças LGBTQIA+ que vivem em áreas isoladas e encontram consolo on-line. O problema - ressaltam - é que a falta de proteção dos menores na Internet significa que continuarão sendo alvo das redes sociais, em particular os mais jovens.

 

 

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