A debandada dos cineastas que retiraram seus filmes do Cine PE, no início de maio – e que ocasionou o segundo adiamento do festival –, acabou ajudando a dupla Chico Amorim e Fabiana Karla, a Lucicreide do Zorra Total. A saída do documentário O Silêncio da Noite é que tem Sido Testemunha das Minhas Amarguras, de Petrônio, que fora selecionado para a Mostra Competitiva de Longas-Metragens, deu lugar a outro documentário, O Caso Dionisio Díaz, que os primos pernambucanos Chico e Karla dirigiram no Uruguai. Inicialmente, o filme deles seria exibido hors-concours, mas, com a mexida na programação, passaram à Mostra Competitiva. A exibição é neste domingo (2/7), às 19h30, no Cinema São Luiz.
Parceiros de longa data, Chico e Karla já fizeram vários projetos juntos. No teatro, escreveu o texto da comédia musical Nessa Mesa de Bar, que faz uma homenagem ao universo poético-etílico de Reginaldo Rossi. Chico também não é novato no Cine PE. Em 2001, teve seu primeiro filme selecionado para o festival, o documentário Capiba, 96 Anos se Deus Quiser. Agora, voltaram a se juntar depois que Karla o convidou para um projeto bem diferente de tudo que já fizeram: sem nenhum traço de humor, O Caso de Dionisio Díaz conta a história trágica de uma criança uruguaia que virou um símbolo de humanidade, heroísmo, fé e residência.
“Fabiana trouxe a história desse menino depois que ela e marido, o uruguaio Bruno Muniz, fizeram uma viagem para a Estado de Treinta y Tres, no Leste do país, a cidade que ficou famosa por causa de Dionisio Díaz, uma criança do nove anos que foi vítima de um triplo homicídio, ao lado da mãe e de um tio, cometido por um avô demente. Ela me chamou porque achava que essa história devia ser contada”, explica Chico.
PESQUISA
Com a ajuda de Bruno Muniz, que fez a pesquisa bibliográfica para Chico e Karla entrarem nos detalhes da história, O Caso de Dionisio Díaz começa mostrando como a presença do menino, morto em 1929, continua viva na memória do Uruguai. Por todo o país, são inúmeras as escolas que levam o nome dele. Apesar de tantos anos do acontecido, a história não foi esquecida pela população. Jornalistas, historiadores e investigadores se debruçam constantemente para tentar explicar como um menino de 9 anos, ferido mortalmente, conseguiu salvar a irmã de um e ano e meio e ainda percorrer 10 quilômetros, a distância entre Arroyo del Oro, onde o crime aconteceu, até Treinta y Tres, a cidade mais próxima.
“Dionisio é visto como um menino herói e santo. No túmulo dele, você encontra centenas de ex-votos e as pessoas lhe atribuem muitos milagres. O arcebispo de Treinta y Tres acredita que ele pode ser canonizado”, confidenciou o cineasta.
Além dos entrevistados que estudaram a história, Chico e Fabiana também conseguiram conversar com contemporâneos de Dionisio, como Pio Cenandez, de 102 anos, que foi seu amigo de infância. Com sutileza, o documentário ainda esconde uma personagem chave da história, que só é mostrada no finalzinho do filme.
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Mas o suporte principal que eles encontraram para recontar o dia a dia do menino foi o filme El Pequeño Héroe del Arroyo de Oro, de Carlos Alonso, realizado no calor dos acontecimentos, em 1929. “Nós encontramos esse filme na Cinemateca de Montevidéu. Durante dezenas de anos ele foi o filme mais visto das história do cinema uruguaio”, diz Chico.
As cenas em preto e branco ilustram boa parte do filme, com foco principal na noite fatídica em que o idoso Juan Díaz tem um ataque de demência e aterroriza toda a família. Alguns historiadores acreditam, no entanto, que a história ainda não foi bem contada, pois é difícil de acreditar que Dionísio tenha realmente andado 10 quilômetros na situação em que estava.