História das Copas

Copa do Mundo de 1986, a vez de Maradona brilhar

Com cinco gols, sendo dois deles históricos, Maradona foi decisivo na Copa disputada no México e conduziu a Argentina rumo ao bicampeonato mundial

Vinícius Barros
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Vinícius Barros
Publicado em 25/02/2018 às 10:07
Estadão Conteúdo
Com cinco gols, sendo dois deles históricos, Maradona foi decisivo na Copa disputada no México e conduziu a Argentina rumo ao bicampeonato mundial - FOTO: Estadão Conteúdo
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O enredo da Copa do Mundo de 1986 começou a ser escrito a partir de uma desistência. Sem condições financeiras de arcar com os custos de construção de estádios devido a uma crise econômica, o então presidente da Colômbia Belisario Betancur optou pela retirada do país do posto de sede do Mundial em outubro de 1982. Com pouco tempo para organização, o México ainda teve que se recuperar de um terremoto que abalou o país em 1985. E se em 1970, os mexicanos viram Pelé & cia darem show, em 1986 eles acompanharam de perto o brilhantismo de outro craque que ocupa um dos mais altos escalões do futebol: Diego Armando Maradona.

Se a Copa do Mundo de 1982 serviu como um balde de água fria para o craque e o embalado time argentino, em 1986 “El Pibe de Oro” atingiu seu ápice pela seleção. O status de lenda foi calcado após uma campanha quase impecável dos hermanos e um desempenho pessoal impressionante que contou até com “ajuda divina”.

Logo no início, a Argentina derrotou a Coreia do Sul em jogo tranquilo, vencido por 3x1, com destaque para Valdano, que marcou duas vezes. Em seguida, os italianos, então campeões, apareceram no caminho. A partida acabou empatada por 1x1 e serviu para Dieguito deixar sua primeira marca nas redes adversárias. Diante da Bulgária, mais um triunfo, dessa vez por 2x0 e liderança do Grupo A assegurada. Já nas oitavas de final, um velho conhecido surgiu: Uruguai. Rival na decisão de 1930, a Celeste não foi capaz de segurar os argentinos e viram a classificação se distanciar após gol de Pasculli, responsável por dar a classificação aos hermanos para as quartas.

Diante dos ingleses, a campanha argentina começou a ocupar um lugar de maior destaque na história. Os dois gols de Maradona na vitória por 2x1 não apenas deram a classificação para a fase seguinte, mas serviram como um resumo de sua carreira. No primeiro gol, usou a mão para vencer o goleiro Shilton, para indignação dos súditos da Rainha (ele batizou o lance como La Mano de Dios, a mão de Deus). Já no segundo, quatro minutos depois, uma jogada de tão bela que parecia ter sido feita à mão. Dieguito recebeu passe antes do meio-campo, passou por quatro jogadores e driblou o goleiro para marcar uma pintura típica dos gênios. Nem mesmo o gol de Liniker foi capaz de evitar o êxito azul e branco: 2x1.

Além da mística de derrotar os algozes da Guerra das Malvinas, ocorrida apenas quatro anos antes, a partida guarda um episódio inusitado. O técnico Carlos Billardo se incomodou com a necessidade de repetir o uniforme azul-marinho usado nas oitavas e disse que as camisas estavam suadas e pesadas, o que atrapalharia seus jogadores. Ao consultar a empresa patrocinadora da seleção, recebeu a resposta de que não havia tempo suficiente para confecção de novas camisas. Assim, um funcionário da delegação argentina saiu às ruas e comprou dois modelos azuis. Ao vê-los na concentração, Dieguito apontou para um deles e disse: “Que linda esta camisa. Com ela ganharemos da Inglaterra”. A frase tirou a indecisão dos dirigentes, que contrataram um grupo de costureiras para as deixarem parecidas com o manto oficial. Tudo isso em três dias.

Com Maradona inspirado, a partida contra os belgas serviu para carimbar o passaporte dos hermanos na final. Além do tento anotado após passe de Burruchaga logo no início do segundo tempo, o camisa 10 fez mais um, ao estilo do golaço contra a Inglaterra, mas sem tanta beleza para ampliar o placar.

Na decisão, o desafio seria passar pelos alemães, que nas partidas eliminatórias não haviam levado sequer um gol e eliminado Marrocos, o dono da casa México e a França. Com a marcação de olho em Maradona, seguido de perto por Lothar Matthäus, sobrou espaço para Brown deixar o dele ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa, Valdano aumentou, mas viu Rummenigge diminuir aos 29 e Völler empatar aos 35 minutos. Mas, um toque do “Pibe de Oro” deixou Burruchaga livre para colocar a bola nas redes e mais uma estrela no peito. O bicampeonato argentino, conquistado sob a batuta de uma lenda.

Recordações não tão positivas para o Brasil

Para os brasileiros, as recordações não são das melhores. A seleção Canarinho, escalada com uma mescla das estrelas de quatro anos antes e outros destaques como Careca, teve seu ponto final demarcado nas quartas. Diante dos franceses cedeu o empate em 1x1 para o time de Platini, com direito a pênalti perdido por Zico durante a partida. Nas cobranças alternadas, melhor para os europeus: 4x3.

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