Arautos da censura perderam a vergonha no Brasil. Por Diego Lagedo

Imagem do autor
Cadastrado por

jamildo

Publicado em 22/02/2021 às 14:45
X

Por Diego Lagedo, em artigo enviado ao blog

Há uma falsa ideia de que a censura só existiu no Brasil entre 1964 e 1985. Na verdade, desde que o país foi fundado até a Constituição de 1988, sempre existiu alguma forma de censura governamental.

Após a promulgação da dita Constituição Cidadã, o Brasil parecia ter virado a página quanto a esse trágico episódio e apenas casos específicos e tipificados da manifestação do pensamento eram puníveis criminalmente.

Porém, o que parecia ser uma plena liberdade de expressão na verdade era um ambiente controlado pelo filtro editorial dos jornais, revistas, editoras e redes de televisão. Em suma, os grandes veículos controlavam o que poderia ou não ser dito ao público.

Esse filtro teve grandes consequências políticas e sociais no Brasil, influenciando desde a remodelação progressista das estruturas da sociedade até eleições presidenciais.

Mas esse controle começou a ruir com a massificação das redes sociais no país, que se tornou um dos mais conectados do mundo. Por volta de 2010, boa parte da população brasileira já havia percebido que a internet também poderia ser utilizada como forma de manifestação do pensamento e troca de ideias, o que se intensificou a partir das manifestações de 2013.

Essa nova ferramenta deu voz a toda uma classe que nunca tivera espaço nos meios tradicionais de comunicação. Para horror do stablishment de esquerda, a maioria silenciosa dos conservadores da classe média havia ganhado voz e estava pronta para exercer o seu direito à liberdade de expressão em plenitude.

Esse fato foi fundamental para que a sociedade passasse por processos até então inimagináveis: o impeachment de uma presidente do PT, a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de um militar reformado do baixo clero da Câmara dos Deputados para a Presidência da República, o atual presidente Jair Bolsonaro.

Pessoas do povo influenciando os rumos da República. Estudantes conservadores e liberais liderando manifestações políticas. Blogueiros independentes alcançando um público maior do que veículos tradicionais. Diversos eram os sintomas de amadurecimento da democracia, afinal, as ferramentas estavam disponíveis para ambos os lado e a legislação já possuía mecanismos para punir os excessos.

Entretanto, 520 anos de oligarquias não se desfazem sem resistência e a dita liberdade de expressão não havia sido planejada para dar voz à classe média conservadora.

O stablishment, até então atônito, resolveu reagir. Para isso, utilizou das instâncias mais altas da República e de instrumentos idealizados para a defesa da Constituição. Para isso, contaram com a cumplicidade da mídia, de intelectuais de esquerda e de grandes empresas de tecnologia que voltaram a defender que vozes conservadoras fossem definitivamente calada.

Blogueiros foram presos, deputados censurados, veículos de comunicação independente foram fechados, o presidente do Brasil foi censurado por redes sociais, assim como um presidente dos Estados Unidos teve suas contas banidas de todas as redes sociais existentes, e, para finalizar, a Corte Suprema acabou com a inviolabilidade do exercício da atividade parlamentar, com a conivência da Câmara dos Deputados.

Esse processo de destruição da Liberdade de Expressão ainda está em desenvolvimento e nenhum progressista defende mais a máxima de Evelyn Beatrice Hall, falsamente atribuída a Voltaire: “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. A essa altura, os arautos da censura já perderam a vergonha.

Diego Lagedo é historiador, especialista em Gestão Pública e graduando em Direito. Foi consultor da UNESCO e edita o site Pernambuco em Pauta.

Tags

Autor