Memória

Disputa histórica pela camisa 1 do Santa Cruz

Nos anos 80, o Tricolor contratou Birigui para ser titular, mas o prata da casa Luiz Neto não deu moleza e também fez grandes partidas

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Marcelo Cavalcante

Publicado em 26/09/2021 às 10:10 | Atualizado em 26/09/2021 às 11:15
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O Santa Cruz teve, na sua história, grandes goleiros que foram peças importantes na conquista de títulos. O mais recente foi Tiago Cardoso, que tem cadeira cativa no coração dos tricolores. Nos anos 80, dois desses goleiros heróis vestiram a camisa coral numa mesma época, travaram um bom duelo pela titularidade e foram campeões. Birigui e Luiz Neto são amigos até hoje e lembram com carinho as histórias daquela época.

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Marco Antônio Gomes, ou melhor, Birigui, é natural de Campinas, sendo revelado pelo Guarani. Fazia parte do grupo campeão brasileiro de 78, ao lado de Careca, Zenon e tantos craques. Em 81, quando assumiu a titularidade do Bugre, a diretoria queria emprestá-lo para o Palmeiras. "Não quis ir porque eu seria mais um no clube. Quando soube do interesse do clube pelo goleiro Wendell, do Santa Cruz, pedi para entrar nessa negociação", lembra.

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Mas o que Birigui não espera era que no Tricolor havia Luiz Neto, revelado pelo clube coral, que estava evoluindo tecnicamente e que não daria muito espaço na equipe. "Cheguei nos juniores do Santa Cruz, em 1974. Dois anos depois, fui alçado aos profissionais, atuando ao lado de grandes goleiros como Picasso, Gilberto, Jair. Eu era o quarto jogador da posição". Luiz Neto só conseguiu se firmar como titular do time em 81, desbancando justamente o experiente Wendell, que foi para o Bugre. Foi aqui começou a história desse dois personagens.

Thiago Lucas/ Artes JC
Grandes goleiros - Thiago Lucas/ Artes JC

O primeiro título conquistado pelos dois foi em 1983. Comandado por Carlos Alberto Silva, o Santa Cruz era repleto jovens. Birigui, que havia trabalhado com o treinador no Guarani, começou a temporada como titular. Mas, deu vacilo, e perdeu a posição para Luiz Neto na reta final do Estadual. "Rapaz, não era fácil. Quando eu ia para o departamento médico, já sabia que passaria um tempo fora, pois Luiz não ia dar brecha. Pois foi o que aconteceu. Eu peguei o osso e ele ficou com o filé", relembra.

Naquele ano de 83, o Santa Cruz conquistou o tri-supercampeonato e Luiz Neto acabou sendo protagonista na grande final contra o Náutico. No tempo normal, 1x1. Na disputa de pênalti, ele pegou o pênalti do atacante Porto, num lance que até hoje rende polêmica. "Na semana que antecedeu a decisão, eu não treinei pênaltis. E no dia do jogo, eu estava com dores nas costas. Na hora das cobranças do Santa, eu assistia sentado", contou. Na última batida do Timbu, Luiz Neto praticamente atuou como um "VAR humano". "Eu segurei a bola em cima da linha pra que o árbitro visse que não tinha sido gol", explicou.

A partir daí, Birigui e Luiz Neto construíram uma grande amizade. E isso ajudou e muito para que houvesse uma evolução técnica de ambos. "O que ele queria, eu queria também. Queria jogar. Um estimulava o outro. Uma concorrência muito leal", conta Birigui. "A gente era família. Um torcia pelo outro. A nossa relação ia além do campo", disse Luiz Neto.

Em 1986, a história se inverteu. Quem começou a temporada como titular do Santa Cruz foi Luiz Neto. Na metade do Estadual, Birigui ganhou a posição. E não saiu mais. "Na final contra o Sport, fiz uma defesa num chute de Henágio. Fui canonizado pela torcida", relembra. Em 87, Birigui foi titular absoluto em mais um título estadual diante do Sport. "Travei um duelo com Éder. Ele cobrou uma falta que bateu na trave que está balançando até agora".

Birigui e Luiz Neto estão distante hoje. O primeiro vive em Mato Grosso, trabalhando como técnico Sportsinop, clube que fundou e conta com parceria de empresários. Luiz Neto está em Recife, longe dos gramados, mas atuando como comentarista de TV. Os dois, no entanto, nutrem até hoje a paixão pelo Santa Cruz e lamentam a situação do clube. "Eu e toda minha família somos tricolores de coração e estamos tristes com tudo que aconteceu", lamenta Birigui. "O processo eleitoral do Santa foi um absurdo. Futebol não se faz com brigas", completa Luiz Neto.

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