A 33ª edição da Copa Africana de Nações tem início no domingo, 9, em um contexto de grande tensão em virtude de dois problemas que preocupam todos os envolvidos no torneio: um conflito armado movido por grupos que defendem a criação de um estado chamado Ambazônia e põe em risco a segurança dos participantes, e o recrudescimento da covid-19, provocado pela variante Ômicron.
Várias equipes jogarão desfalcadas de alguns de seus principais atletas, contaminados com o vírus. O torneio ocorreria no ano passado, mas foi postergado para 2022 em razão da pandemia.
Grupos armados anunciaram que vão realizar atos para atrapalhar o desenvolvimento do torneio, chegando a ameaçar por carta as seleções do grupo F (Tunísia, Mali, Mauritânia e Gâmbia) que vão jogar em Limbe, cidade localizada na costa tropical do Atlântico e que abriga o Estádio Omnisport.
>> Veja as seleções africanas ainda na luta pelas vagas na Copa do Mundo do Catar
Limbe tem sido vítima de ataques desde o começo de 2017, quando tiveram início os conflitos. A cidade vizinha à Limbe, Buea foi atacada duas vezes em novembro. Um dos ataques, com explosões em uma universidade, deixou 11 feridos.
Buea também receberá algumas seleções do Grupo F, como local de treinamento. O conflito violento já causou mais de 3.500 mortes e 700 mil deslocados no oeste do país, e os civis são as principais vítimas dos crimes, segundo ONGs internacionais e a ONU.
"As ameaças são muito sérias", disse à AFP o advogado Blaise Chamango, chefe da ONG Human Is Right com sede em Buea. Ele diz que o governo posicionou soldados fortemente armados em quase todas as rotatórias de Buea e Limbe, sobretudo. As forças de defesa e segurança realizam prisões e buscas sistemáticas em vários bairros.
A despeito das ameaças e dos ataques, o governo local afirma que a competição vai transcorrer sem problemas. "A Copa Africana de Nações vai ocorrer em condições muito boas. Não há motivos para preocupação", afirmou Emmanuel Ledoux Engamba, funcionário do governo de Fako, região em que fica Limbe e Buea.
Surtos de covid-19 e restrições
O torneio não terá estádios cheios, mas com capacidade para 60% na maioria das partidas e 80% nos jogos do país anfitrião. A decisão foi tomada "depois de muitas consultas com o governo camaronês e considerando a evolução da crise de saúde e os desafios impostos pela pandemia de covid", explicou a Confederação Africana de Futebol (CAF).
Dessa maneira, para o jogo de abertura de domingo entre Camarões e Burkina Faso, os 60 mil lugares do estádio Olembe em Yaoundé não estarão todos ocupados. No máximo, 48 mil torcedores poderão acompanhar o duelo in loco.
O torneio, adiado no ano passado por conta da pandemia, já havia estabelecido importantes normas sanitárias, como a de que o público deve se vacinar e apresentar teste negativo para o vírus para entrar nos estádios.
>> Negacionista? Ex-PSG acusa Messi de 'esconder' teste de covid-19
Várias seleções, como Camarões, Argélia, Gâmbia, Burkina Faso, Cabo Verde e Tunísia jogarão desfalcadas de atletas infectados pela variante Ômicron. Costa do Marfim se viu obrigada a cancelar uma segunda partida de preparação em sua base de treinamento na Arábia Saudita e Senegal adiou seu embarque a Camarões para que o elenco fosse testado novamente após os meias Pape Matar Sarr, Nampalys Mendy e o atacante Mame Baba Thiam apresentarem diagnósticos positivos.
Cabe salientar que somente 2,3% da população de Camarões está totalmente imunizada com duas doses ou vacinas de dose única, de acordo com os dados da plataforma "Our World in Data". O índice baixo de vacinados, portanto, é mais um problema.
Pierre-Emerick Aubameyang é um dos astros da competição que desfalca sua seleção no início do certame. O atacante testou positivo para a covid-19 na quinta-feira em sua chegada a Camarões está fora da estreia pela seleção do Gabão contra Comores, na próxima segunda, em jogo válido pelo Grupo C.
Aubameyang foi visto em uma festa ao lado do seu companheiro de seleção, Mario Lemina, que também testou positivo para a doença de acordo com a Federação Gabonesa de Futebol (FEGAFOOT, na sigla em francês). Ele vive má fase no Arsenal, no qual tem jogado pouco e até perdeu a faixa de capitão.
Argélia defende título
A Copa Africana de Nações é disputada em seis grupos, com quatro equipes cada, e composta por cinco fases: a de grupos, realizada entre 9 e 20 de janeiro, e o mata-mata até a final, marcada para 6 de fevereiro. A Argélia é a atual campeã e o Egito, o maior vencedor, com sete troféus.
Os egípcios, aliás, contam com o grande astro do torneio, o atacante Mohamed Salah, do Liverpool. Sébastien Haller, atacante da Costa do Marfim e do Ajax, Karl Toko Ekambi, atacante de Camarões e do Lyon, Edouard Mendy, goleiro de Senegal campeão europeu pelo Chelsea, Sadio Mané, outro senegalês, mas do Liverpool, e Mahrez, meio-campista do Manchester City e da Argélia, são outros destaques do campeonato.
Camarões recebe pela segunda vez o campeonato mais importante da África. O país, que sediou o certame em 1972, ganhou cinco troféus e é considerado uma das potências do futebol africano. Além de Limbe, há outras quatro cidades-sede: Yaoundé, Douala, Garoua e Bafoussam.
A Copa Africana de Nações voltará a ser exibida em TV aberta no Brasil após 12 anos. A Band comprou os direitos de transmissão e terá exclusividade.
Veja os grupos da Copa Africana de Nações:
Grupo A: Camarões, Burkina Faso, Cabo Verde e Etiópia
Grupo B: Guiné, Malawi, Senegal e Zimbabwe
Grupo C: Gabão, Comores, Gana e Marrocos
Grupo D: Egito, Guiné-Bissau, Nigéria e Sudão
Grupo E: Argélia, Costa do Marfim, Guiné Equatorial e Serra Leoa
Grupo F: Gâmbia, Mali, Mauritânia e Tunísia