Pesquisa aponta que os policiais brasileiros não estão recebendo a quantidade necessária de equipamentos para desempenhar as suas funções nas ruas durante a pandemia do coronavírus. Por conta disso, cerca de 70% dos agentes de segurança pública têm receio de contrair a covid-19 no desempenho de suas funções e ainda infectar seus parentes em casa. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e a Fundação Getulio Vargas (FGV).
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“A principal preocupação dos policiais é pegar o coronavírus. Eles também ressentem a falta de treinamento. Os profissionais não estão sendo treinados para lidar com o coronavírus nas abordagens a criminosos”, avalia Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Eles também não são orientados sobre a forma de higienizar as mãos, ou como utilizar a máscara. A sociedade está falando diariamente sobre isso, mas não há uma visão específica para os profissionais de segurança pública”, diz Alcadipani.
Segundo ele, a pesquisa mostra a vulnerabilidade dos policiais na exposição cotidiana ao novo coronavírus durante o trabalho. “Os dados trazem sinais claros da necessidade de os nossos chefes de polícia e governadores se preocupem ainda mais com a saúde do policial nesse momento de crise”, diz.
Segundo a pesquisa intitulada “A pandemia de Covid-19 e os policiais brasileiros”, 30,6% dos policiais não se sentem prontos ou não souberam responder se estão preparados para atuar em meio à pandemia. A apreensão se explica porque apenas 32,1% deles disseram ter recebido Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados para exercerem o trabalho com segurança.
Mais de 70% dos 1.540 entrevistados na pesquisa têm mais de 10 anos de serviço. “A gente acredita que muito se fala da saúde, mas pouco do profissional de segurança nesta pandemia. É ele que será decisivo para o País, no combate à criminalidade, quando as coisas voltarem ao normal”, explica o professor.
Alcadipani diz que não dá para focar os números em Pernambuco, por causa da amostra, mas ele diz que, pelas respostas obtidas no Estado, os resultados são muito próximos dos números nacionais. “Não houve um destaque muito diferente em Pernambuco”, diz o professor.
A realidade captada na pesquisa do Fórum de Segurança Pública encontra similaridade com a situação descrita pelo Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco. De acordo com Áureo Cisneiros, presidente do Sinpol, o governo do Estado não distribui, entre os profissionais da segurança, os equipamentos em número necessário. “Em abril a gente entrou com uma ação na Justiça para fazer o Estado fornecer os materiais essenciais, máscara, álcool em gel. O juiz deu liminar, mas o Estado recorreu e, até agora, não tem material suficiente nas delegacias”, diz Cisneiros.
Segundo ele, para não deixar os policiais desprovidos, o Sinpol comprou 10 mil máscaras e 2 mil litros de álcool em gel. “Passamos 20 dias distribuindo no Estado, mas não é suficiente. A gente espera que o governo tenha sensibilidade de fornecer não só equipamento, mas também os testes”, diz. Segundo ele, os policiais ficam expostos porque trabalham 24 horas, “a polícia não pára”, e não há testes para saber se estão ou não infectados. “Muitos policiais estão pagando do próprio bolso para fazer o teste”, diz
Segundo o Sinpol, cerca de 100 policiais civis foram infectados no Estado e há delegacia, como a do Ibura, onde, de 11 agentes, quatro deixaram de trabalhar por que estão com suspeita de terem contraído o vírus.
O governo do Estado diz que vem fazendo a distribuição do material necessário. Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirma que abastece o efetivo nas ruas e unidades físicas com equipamentos de proteção individual e materiais de higienização. “Já foi feita a distribuição de luvas, máscaras, álcool em gel, álcool 70%, toucas e aventais para policiais militares, civis, científicos, Corpo de Bombeiros e profissionais do administrativo, por meio de aquisições emergenciais, doações e também decorrentes da apreensão de materiais.”
Segundo a pasta, uma compra emergencial de R$ 7,3 milhões foi realizada para adquirir mais EPIs (equipamentos de proteção individual) e produtos de higienização, incluindo mais de 200 mil frascos de álcool, líquido e em gel. “É importante ressaltar que todos os esforços estão sendo feitos no sentido de superar as dificuldades provocadas pela escassez desses insumos no mercado mundial.”
Segundo a secretaria, desde o início da pandemia, foram confirmados 251 casos de covid-19 nas forças de segurança estaduais. São 113 na policiais militares infectados, 82 policiais civis, 49 bombeiros e sete na Polícia Científica. “Em parte significativa desses casos, já houve cura, cumprimento quarentena e retorno às funções nas ruas e unidades de segurança.” O Estado contabiliza seis mortes de agentes policiais por causa do coronavírus: cinco PMs e um bombeiro.