Índice inédito revela que população LGBT+ está mais vulnerável aos impactos do coronavírus

Por meio do cruzamento de dados sobre o acesso à saúde, trabalho, renda e risco de contaminação pelo coronavírus, pesquisadores criaram o índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à Covid-19 (VLC)
JC
Publicado em 28/06/2020 às 18:17
SUS deve garantir que pessoas trans que fizeram alteração no nome no registro civil tenham acesso ao atendimento de saúde referente ao sexo biológico Foto: PIXABAY


As pessoas trans são as mais vulneráveis aos impactos causados pelo isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Em seguida vêm por pretos, pardos e indígenas. As pessoas bissexuais também aparecem como destaque entre os mais afetados pelo cenário de restrição social. É o que aponta o índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à Covid-19 (VLC), criado a partir de um estudo inédito realizado pelo coletivo #VoteLGBT em parceria com a Box1824, consultoria de tendências em comportamento e inovação.

Divulgada neste domingo (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+, a pesquisa online teve a participação de dez mil pessoas em todo o país e mostra que esses grupos estão entre os mais vulneráveis diante das consequências do isolamento.

Com o estudo, o coletivo buscava traçar marcadores por meio do cruzamento de dados sobre o acesso à saúde, trabalho, renda e risco de contaminação pelo coronavírus. Segundo o relatório do levantamento, a união desses fatores ajuda a entender a capacidade das pessoas em se sustentar e se manter em isolamento social.

Os pesquisadores também perguntaram aos participantes a respeito do nível de isolamento social praticado, o número de pessoas conhecidas que já foram diagnosticadas com coronavírus, o acesso aos serviços de saúde e diagnóstico prévio de comorbidades.

“A ideia é sintetizar diversas dimensões relacionadas a vulnerabilidade dessa população em um único índice que pode ser comparável entre as várias identidades que interseccionam nossa comunidade”, explica Fernanda De Lena, demógrafa da Unicamp que integra o #VoteLGBT.

Com os dados coletados em mãos, utilizando a mesma metodologia do índice de vulnerabilidade social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), foi possível aos pesquisadores estruturar todas essas camadas de desigualdades e compreender seus desdobramentos em cada um dos representantes da sigla LGBT+. Assim, os resultados do VLC variam entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade à covid-19 do grupo analisado.

DIVULGAÇÃO/Coletivo #VoteLGBT - O VLC é um índice que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade ao covid-19 do grupo analisado

O índice de vulnerabilidade entre pessoas trans é de 0.520, entre pessoas pretas, pardas e indígenas é de 0.519 e entre bissexuais, 0.509. Entre a população LGBT+, em geral, o VLC é de 0.488. O índice menos elevado ficou entre brancos e asiáticos (0.474).

Veja o índice de vulnerabilidade de todos os grupos:

 

DIVULGAÇÃO/Coletivo #VoteLGBT - As pessoas trans são as mais vulneráveis aos impactos causados pelo isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus

A partir dos resultados, o #VoteLGBT lançou uma campanha que visa arrecadar fundos para apoio de entidades que prestam ações de amparo à comunidade LGBTQ+. Com isso, o coletivo espera minimizar impactos do isolamento social durante a pandemia. Em parceria com a plataforma Benfeitoria,a iniciativa vai apoiar instituições em várias cidades brasileiras, entre elas Casa Satine (Campo Grande, MS), Outra Casa Coletiva (Fortaleza, CE), Casamiga (Manaus, AM), Ultra (Brasília, DF), Liga Brasileira de Lésbicas (Curitiba, PR) e Casa 1 (São Paulo, SP). As informações completas da campanha estão disponíveis link www.benfeitoria.com/lgbt.

Outros resultados da pesquisa

O estudo também possibilitou enxergar outros problemas trazidos pela covid-19. A maior parte deles está diretamente ligada à falta de emprego e renda e pode ser “gatilho” para alterações psicológicas.

  • Pessoas acima dos 55 anos apresentaram 80% mais de chance de reportar solidão como o maior problema quando comparados com as pessoas de 15 a 24 anos.4
  • A falta de dinheiro também foi um problema que aumentou sua relevância com o aumento da idade. Entre as pessoas com 45 a 54 anos, a chance de indicar essa como a maior dificuldade da quarentena foi 70% maior em relação às pessoas com entre 15 e 24 anos;
  • Pretos, pardos e indígenas possuem 22% mais chance de indicar a falta de dinheiro como a maior dificuldade da quarentena do que Brancos e Asiáticos 
  • 4 em cada 10 pessoas das pessoas LGBT+ e metade das pessoas trans (53%) não conseguem sobreviver sem renda por mais de 1 mês caso percam sua fonte de renda;
  • Quase metade (44,3%) das pessoas tiveram tiveram suas atividades escolares totalmente paralisadas durante o isolamento;
  • A taxa de desemprego padronizada entre os LGBT+ foi de 21,6%, quase o dobro do registrado pelo IBGE no restante da população;
  • 3 em cada 10 dos desempregados estão sem trabalho há 1 ano ou mais;
  • 1 em cada 4 (24%) perderam emprego em razão da covid19;
  • Durante a quarentena, 7 em cada 10 pessoas (68,42%) só saem de casa quando inevitável;
  • 8 em cada 10 pessoas perceberam uma alteração de humor durante a quarentena;
  • 28% das pessoas já haviam recebido diagnóstico prévio de depressão, número quatro vezes maior do registrado no restante da população, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde; e
  • 47% foram classificadas com o risco depressão no nível mais severo. 
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