As pessoas trans são as mais vulneráveis aos impactos causados pelo isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. Em seguida vêm por pretos, pardos e indígenas. As pessoas bissexuais também aparecem como destaque entre os mais afetados pelo cenário de restrição social. É o que aponta o índice de Vulnerabilidade de LGBT+ à Covid-19 (VLC), criado a partir de um estudo inédito realizado pelo coletivo #VoteLGBT em parceria com a Box1824, consultoria de tendências em comportamento e inovação.
Divulgada neste domingo (28), Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+, a pesquisa online teve a participação de dez mil pessoas em todo o país e mostra que esses grupos estão entre os mais vulneráveis diante das consequências do isolamento.
Com o estudo, o coletivo buscava traçar marcadores por meio do cruzamento de dados sobre o acesso à saúde, trabalho, renda e risco de contaminação pelo coronavírus. Segundo o relatório do levantamento, a união desses fatores ajuda a entender a capacidade das pessoas em se sustentar e se manter em isolamento social.
Os pesquisadores também perguntaram aos participantes a respeito do nível de isolamento social praticado, o número de pessoas conhecidas que já foram diagnosticadas com coronavírus, o acesso aos serviços de saúde e diagnóstico prévio de comorbidades.
“A ideia é sintetizar diversas dimensões relacionadas a vulnerabilidade dessa população em um único índice que pode ser comparável entre as várias identidades que interseccionam nossa comunidade”, explica Fernanda De Lena, demógrafa da Unicamp que integra o #VoteLGBT.
Com os dados coletados em mãos, utilizando a mesma metodologia do índice de vulnerabilidade social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), foi possível aos pesquisadores estruturar todas essas camadas de desigualdades e compreender seus desdobramentos em cada um dos representantes da sigla LGBT+. Assim, os resultados do VLC variam entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade à covid-19 do grupo analisado.
O índice de vulnerabilidade entre pessoas trans é de 0.520, entre pessoas pretas, pardas e indígenas é de 0.519 e entre bissexuais, 0.509. Entre a população LGBT+, em geral, o VLC é de 0.488. O índice menos elevado ficou entre brancos e asiáticos (0.474).
A partir dos resultados, o #VoteLGBT lançou uma campanha que visa arrecadar fundos para apoio de entidades que prestam ações de amparo à comunidade LGBTQ+. Com isso, o coletivo espera minimizar impactos do isolamento social durante a pandemia. Em parceria com a plataforma Benfeitoria,a iniciativa vai apoiar instituições em várias cidades brasileiras, entre elas Casa Satine (Campo Grande, MS), Outra Casa Coletiva (Fortaleza, CE), Casamiga (Manaus, AM), Ultra (Brasília, DF), Liga Brasileira de Lésbicas (Curitiba, PR) e Casa 1 (São Paulo, SP). As informações completas da campanha estão disponíveis link www.benfeitoria.com/lgbt.
O estudo também possibilitou enxergar outros problemas trazidos pela covid-19. A maior parte deles está diretamente ligada à falta de emprego e renda e pode ser “gatilho” para alterações psicológicas.