IMUNIZAÇÃO

Sem definição da Anvisa, governadores do Nordeste ainda temem perder prazo de importação da vacina Sputnik V

Os governadores assinaram contrato para adquirir 37 milhões de doses da Sputnik V no dia 17 de março de 2021

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Rute Arruda

Publicado em 25/04/2021 às 16:22 | Atualizado em 25/04/2021 às 17:03
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Os governadores que integram o Consórcio Nordeste podem perder o prazo de importar doses da vacina russa contra a covid-19 Sputnik V neste mês de abril. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não decidiu sobre os pedidos de importação do imunizante feitos pelos Estados e Municípios. A reunião está marcada para esta segunda-feira (26), e só ocorre após visita de servidores às fábricas de produção da vacina na Rússia. No entanto, segundo o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias (PT), a agência reguladora fez uma série de exigências de documentos "que não estão previstas na lei". Para este mês, estava prevista a importação de cerca de dois milhões de doses. 

"É real, infelizmente, o Brasil perder a oportunidade do recebimento do lote de abril da vacina Sputnik. Ou seja, a demora na liberação da licença de importação por parte da Anvisa e a demora por burocracias, por exigências que não estão previstas na lei. A Lei prevê que seja apresentado a certificação por uma agência reguladora, entre as 16 ali citadas. E isso foi feito pelos Estados. E, agora, mesmo com a decisão do Supremo, ainda, temos uma exigência de uma serie de outros documentos", declarou.

Dias citou a comprovação de segurança e liberação de nota técnica como exemplos dos documentos exigidos pela Anvisa. "Por exemplo: a comprovação da segurança que já está ali na autorização das outras agências reguladoras, mas apresentamos um estudo da Argentina, também a liberação de uma nota técnica que nem precisaria, mas um relatório técnico por parte do Instituto Gamaleya que é um dos maiores centros de pesquisa biológica do planeta. E o que estamos fazendo? Indo além daquilo que está na lei para ver se tem autorização. Mas ela poderá sair, e sair já tarde demais para a liberação do lote vindo da Rússia com vacinas Sputnik para o Brasil", continuou. 

Os governadores do Nordeste assinaram contrato para adquirir 37 milhões de doses da Sputnik V no dia 17 de março de 2021. Os contratos foram firmados de forma individual por cada estado pelo custo de U$ 9,95/dose.

"Do que o Brasil mais precisa? De vacinas. Infelizmente, a gente foi atrás, encontrou vacina, mas estamos com essa dificuldade para fazer a vacina chegar e ser usada no Brasil", pontuou o governador.

O Governo de Pernambuco informou que não irá se pronunciar sobre a possível perda do prazo de importar as doses em abril. 

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), estipulou o prazo de 30 dias, a partir da formalização da solicitação dos governos do Piauí, Amapá, Ceará e Maranhão para a importação do imunizante. O Piauí e Amapá formalizaram o pedido no dia 30 de março, o Ceará, no dia 31, e o Maranhão no dia 29.

Na Rússia, técnicos da Anvisa avaliam fabricação da Sputnik V

Duas equipes da Anvisa começaram, no dia 19 de abril, uma série de visitas às fábricas da vacina Sputnik V, na Rússia. Uma delas está na cidade de Vladimir, onde funciona a empresa JSC Generium, e a outra está em Ufa, na sede da UfaVita. Até a última sexta-feira (23), os técnicos inspecionaram o cumprimento das Boas Práticas de Fabricação, como as produções da vacina e da matéria-prima, além do envase e da rotulagem.

E, também no dia 19, o Instituto Gamaleya, que desenvolve a Sputnik V, e o Fundo Soberano Russo, que negocia a vacina com outros países, atualizaram os dados de eficácia. De acordo com uma pesquisa feita com os primeiros 3 milhões e 800 mil russos vacinados, a eficácia da vacina chegou a 97,6%. Foi o primeiro estudo em larga escala feito sobre a Sputnik V, de dezembro do ano passado até março deste ano. Não ocorreu nenhum registro de alergia ou reação grave à vacina e, quem contraiu covid-19 depois das duas doses, não morreu, nem precisou ser internado.

Em um estudo com pouco mais de duas mil pessoas, feito de setembro a novembro do ano passado e publicado pela revista The Lancet, a vacina tinha 91,6% de eficácia. Naquela época, também não houve necessidade de internar os vacinados que pegaram covid-19 e ninguém morreu por causa da doença.

A Sputnik V é ministrada em duas doses, com intervalo de três semanas e pode ser conservada em refrigeradores mais simples, com temperaturas de 2 a 8 graus positivos. É uma vacina que usa a técnica chamada de adenovírus recombinante, que usa vírus que não se multiplicam, mas fazem as defesas do nosso corpo pensarem que é o coronavírus. Daí, são produzidos anticorpos para termos resposta mais rápida se formos infectados. É a mesma técnica da vacina de Oxford e AstraZeneca, que a gente já usa no Brasil, por meio da Fiocruz.

De acordo com o Fundo Soberano Russo, a Sputnik V já tem uso autorizado em 60 países, como Argentina, México, Venezuela, Bolívia, Egito, Angola, Índia e Filipinas, além da própria Rússia, onde outras duas vacinas desenvolvidas no país também estão em uso.

 

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