FALSO

Vídeo de veículos militares tombados é retirado de contexto para desqualificar desfile da Marinha em Brasília

Post no Instagram usa um vídeo de 2018, de um guincho tombado ao socorrer blindado do Exército, para fazer crer que o acidente ocorreu em 10 de agosto deste ano, quando houve desfile de tanques em Brasília

Cadastrado por

JC

Publicado em 17/08/2021 às 15:46
Conteúdo viralizou no Instagram - PROJETO COMPROVA

Conteúdo verificado: Vídeo mostra um blindado do Exército sendo socorrido por um guincho e, em seguida, o veículo de socorro tomba. Na legenda do post viral, está a descrição: “Este é o exército do capetão Bolsonaro a caminho do desfile para pressionar a aprovação do voto impresso hoje”, dando a entender que se trata de uma gravação feita no último dia 10 de agosto, quando houve um desfile de blindados em Brasília.

É falso o conteúdo de uma postagem viral no Instagram que apresenta um vídeo de um blindado do Exército tombado à margem de uma rodovia e um outro veículo militar que, ao socorrê-lo, também vira. No texto que acompanha a imagem, o autor afirma que se trata do “Exército do capetão Bolsonaro a caminho do desfile para pressionar a aprovação do voto impresso.”

O desfile de blindados e a votação mencionados no post ocorreram na terça-feira (10), porém, o acidente com o veículo militar foi registrado três anos antes, em 2018, numa estrada de Bela Vista, em Mato Grosso do Sul, como mostra reportagem do G1.

O Exército e o perfil que divulgou o vídeo foram procurados, mas não se manifestaram até a publicação deste texto. O Comprova classificou o conteúdo como falso porque se trata de teor inventado para disseminar uma mentira.

Como verificamos?

Como o conteúdo verificado apresenta um vídeo, o primeiro passo foi conferir se a imagem já havia sido publicada anteriormente. Para tanto, o Comprova fez uma pesquisa reversa pelo Google Imagens e também usando a ferramenta TinEye. Os dois recursos levaram a páginas que já haviam divulgado o vídeo, algumas delas em 2018, e, portanto, antes do desfile de blindados registrado esta semana em Brasília.

Na pesquisa sobre o assunto, a reportagem chegou a outra verificação relacionada ao vídeo, feita pelo G1, que também classificou o conteúdo como falso.

O Exército foi consultado sobre o episódio, mas não respondeu aos contatos da reportagem, por e-mail e telefone. A reportagem também enviou mensagem privada via Instagram para o perfil @esquerdavalente, que publicou o conteúdo aqui verificado, mas não obteve retorno.

O acidente

O vídeo apresentado na postagem é de um acidente registrado em 13 de agosto de 2018 na rodovia MS-384, em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. Reportagem da época feita pelo G1 aponta que dois veículos militares se envolveram na ocorrência. O primeiro tombou na estrada e um guincho foi acionado para desvirar a viatura, mas acabou tombando também.

Segundo o site da Globo, os dois veículos eram do 10° Regimento de Cavalaria Blindada e “um militar teve ferimentos leves e recebeu atendimento médico de imediato”.

O desfile

Embora também integrante das Forças Armadas, o Exército não promoveu o desfile com blindados da última terça-feira (10), mas, sim, a Marinha. A parada militar ainda apresentou armamentos e foi realizada na Esplanada dos Ministérios, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acompanhando o evento da rampa do Palácio do Planalto.

Não há registro de que algum veículo tenha se envolvido em acidente a caminho ou na saída da apresentação, como sugere o conteúdo verificado.

O desfile militar foi bastante criticado por opositores do governo, que viram na manifestação uma tentativa de intimidação, sobretudo porque foi realizado na mesma data em que a Câmara Federal apreciou a PEC do voto impresso, uma proposta de emenda constitucional defendida pelo presidente, que previa a impressão de cédulas que pudessem ser conferidas pelo eleitor, independentemente do meio empregado para o registro dos votos.

Voto impresso

A PEC do voto impresso já havia sido rejeitada por comissão especial na Câmara, mas, na última terça-feira, foi levada a plenário para apreciação de todos os parlamentares. Como se tratava de emenda constitucional, precisaria dos votos de dos 513 deputados para ser aprovada, ou seja, pelo menos 308 a favor.

Contudo, a proposta defendida por Bolsonaro não obteve a votação necessária e foi arquivada, impondo uma derrota política ao presidente. Após o resultado, ele voltou a criticar o sistema eleitoral brasileiro e a lançar dúvidas sobre a segurança da urna eletrônica.

Bolsonaro e seus seguidores constantemente atacam as instituições, como a Justiça Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente ainda usa boatos para alegar fraude nas urnas e até para ameaçar a realização das eleições em 2022. Essa conduta o colocou no centro de investigações da Justiça sobre fake news.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova checa conteúdos suspeitos sobre o governo federal, eleições e pandemia que tenham atingido alto grau de viralização. O conteúdo verificado aqui foi visualizado mais de 11,4 mil vezes no Instagram até 13 de agosto.

Bolsonaro tem feito manifestações que são consideradas golpistas por opositores e entidades, como a insistência em criticar o sistema eleitoral brasileiro. O desfile militar desta semana foi visto como mais uma tentativa de pressionar outros poderes e politizar o Exército. Conteúdos falsos sobre o ocorrido, entretanto, deslegitimam o debate acerca dos movimentos do presidente.

O conteúdo também foi verificado pela plataforma Fato ou Fake, do G1 e, recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos envolvendo o voto impresso, como o que enganava ao afirmar que a opção já é lei e o que afirmava, também de forma enganosa, que o resultado de uma enquete sobre o pleito em papel reflete a opinião da sociedade.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Texto produzido pelo Comprova, coalizão de veículos de imprensa para verificar conteúdo viral nas redes sociais. Investigado por: A Gazeta, Alma Preta e Folha de S. Paulo. Verificado por: UOL, Correio de Carajás, O Estado de S. Paulo e Correio da Bahia.

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