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Nuvens de poeira avançam para mais Estados brasileiros; fenômeno é alerta para extremo climático

A mudança exige tanto ações locais, como a mudança nas formas de cultivo na agricultura, quanto de maior abrangência, como o fim do desmatamento da Amazônia

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Bruna Oliveira, Estadão Conteúdo

Publicado em 05/10/2021 às 19:01
Nuvem de poeira encobre a cidade de Franca, no interior de São Paulo, na tarde deste domingo (26), pouco antes da chuva volumosa que atingiu a região. - REPRODUÇÃO/TWITTER

As nuvens de poeira a princípio registradas no interior de São Paulo estão avançando para outros Estados brasileiros nos últimos dias. Tempestades de terra e poeira também chegaram em Minas Gerais, Maranhão e Mato Grosso do Sul.

>> 'Tempestade de areia': seca extrema explica haboob no interior de SP

Com proporções distintas, o fenômeno demonstra a necessidade de ações para conter os extremos climáticos. A mudança exige tanto ações locais, como a mudança nas formas de cultivo na agricultura, quanto de maior abrangência, como o fim do desmatamento da Amazônia.

Estudos como o relatório do IPCC deste ano já haviam demonstrado que episódios como esses se tornaram cada vez mais frequentes e evidentes, e que o momento de mudar é agora. Embora essas tempestades (chamadas também de haboob) sejam registradas em períodos de seca de forma pontual todos os anos, alguns casos recentes, como os da região de Franca e de Ribeirão Preto, chamaram a atenção pela força e pela frequência.

Professor do Departamento de Biologia da USP de Ribeirão Preto, Marcelo Pereira explica que os registros do fenômeno estão relacionados tanto a fatores locais quanto de âmbito mais amplo. Um dos principais é a devastação recorde da Amazônia, cuja evapotranspiração (umidade liberada no ambiente pelas árvores) regula o regime de chuvas de outras partes do País, como a Região Sudeste. "A umidade é transportada pelos ventos em direção ao Oceano Pacífico, mas, como tem a Cordilheira dos Andes no meio do caminho, acaba sendo rebatida para o Sul e o Sudeste. E são essas massas de ar que regulam as nossas chuvas", comenta.

"Não podemos esquecer que são fenômenos que ocorrem distantes, mas que estão muito ligados. Se a Floresta Amazônica continuar sofrendo, vai ficar cada vez mais irregular (o cenário de chuvas), e a tendência é ficar cada vez mais seco", diz ele. "Deixar a Amazônia ter problemas de desmatamento é assinar atestado de óbito para a gente."

Por outro lado, há também as questões locais. Um exemplo que o professor cita são as queimadas registradas em regiões atingidas pelo fenômeno, que deixaram fuligem e vegetação destruída, cujas partículas entraram em suspensão com a força dos ventos, espalhando um material prejudicial à saúde. "Precisa haver uma preparação para combater de forma mais eficiente. Senão, as áreas vão ficar cada vez mais desprotegidas."

As tempestades de areia registradas são, portanto, resultado dessa situação aliada ao calor extremo, à secura e aos fortes ventos. "A massa de ar frio e úmido se encontra com a de ar quente e seco. O ar úmido é mais denso e tende a ir para baixo, enquanto o ar seco tende a ir para cima. Quando isso acontece, há a movimentação das massas, as frentes de rajada. Quanto maior a diferença de temperatura entre as duas massas, mais fortes vão essas rajadas (de vento)", explica.

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