VIOLÊNCIA

Operação na Vila Cruzeiro: Fachin cobra investigação de 'todas as circunstâncias'

Em nota, o magistrado disse "ter confiança" de que a decisão da corte máxima "será cumprida, com a investigação de todas as circunstâncias da operação"

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Estadão Conteúdo

Publicado em 25/05/2022 às 20:34
Mudança do nome do Bope adiou votação da criação do novo batalhão da PM - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Após operação conjunta das Polícias deixar 24 mortos na Vila Cruzeiro, no Rio, nesta terça-feira (24) os autores da chamada 'ADPF' das Favelas - ação que levou o Supremo Tribunal Federal a estabelecer uma série de diretrizes para a Segurança Pública do Rio - voltaram a acionar a corte máxima, pedindo que o governo Cláudio Castro (PL) seja obrigado a elaborar um novo plano de redução de letalidade policial no Estado.

Horas após a solicitação, o ministro Edson Fachin conversou com o procurador-geral de Justiça do Rio, Luciano Mattos, e externou "muita preocupação com a notícia de mais uma ação policial com índice tão alto de letalidade".

Em nota, o magistrado disse "ter confiança" de que a decisão da corte máxima "será cumprida, com a investigação de todas as circunstâncias da operação" na Vila Cruzeiro.

Também nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro elogiou a atuação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar durante a operação que deixou ao menos 24 mortos. O chefe do Executivo disse que houve a "neutralização de 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto".

No final da tarde desta quarta-feira, 25, Fachin se reuniu com procuradores do Estado do Rio, que foram até o Supremo para entregar o plano elaborado pelo governo Cláudio Castro após ordem emanada pelo STF em fevereiro.

Segundo os procuradores, a reunião estava marcada há meses e "não tem nada a ver" com a operação na Vila Cruzeiro, a segunda mais letal da história do Estado. Os integrantes do órgão que representa o governo do Rio perante o Judiciário lamentaram o ocorrido nesta terça-feira, 24, e ponderaram que a reunião com Fachin foi um ato simbólico e formal para renovar "canais de diálogo" com a corte em torno de "pontos sensíveis" do tema.

Também estiveram no Supremo os deputados Orlando Silva e Talíria Petrone, acompanhados de advogados que assinam a ADPF das Favelas. Eles compareceram à corte máxima para defender a rejeição do plano apresentado pelo governo do Rio.

O ministro Edson Fachin ainda não proferiu decisão sobre o novo pedido feito no âmbito da ‘ADPF das Favelas’. No documento protocolado no STF na noite desta terça-feira, 24, as entidades da sociedade civil qualificam o ocorrido nesta terça-feira,24, como um episódio macabro.

Nessa linha, o pedido é para que o governo do Estado seja obrigado a apresentar novo plano de redução de letalidade policial, em 60 dias, com atenção a pontos como a instalação de equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo em todas as viaturas policiais e fardas dos agentes de segurança.

As entidades também requerem que o plano seja estruturado em torno da necessidade de se combater o racismo estrutural e contenha "providências concretas, indicadores quantitativos, prazos específicos, previsão de recursos necessários, e objetivos esperados".

Além disso, a petição requer que o Ministério Público do Estado seja oficiado de modo a apurar possível crime de abuso de autoridade, em razão da destruição do monumento às vítimas da Chacina do Jacarezinho.

Antes de solicitar a elaboração de um novo plano de redução da letalidade policial, no entanto, os autores da "ADPF das Favelas" reforçaram um pedido para que Fachin rejeite o plano publicado pelo governo Cláudio Castro no Diário Oficial do Estado em março, considerado "genérico" e "sem compromisso"

As entidades da sociedade civil dizem que o "estado de coisas institucional da segurança pública do Rio vem se agravando" e que o Supremo pode "dar um basta e traçar a linha do inaceitável".

"Tem-se fortalecido no estado uma dinâmica de exaltação de condutas de execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais, legitimando-se previamente ações letais de agentes estatais sem que a vítima tenha tido a oportunidade de exercer o direito de defesa em processo legal regular, ou, embora respondendo a um processo legal, a vítima seja executada antes do seu julgamento ou com algum vício processual; ou, ainda embora respondendo a um processo legal, a vítima seja executada sem que lhe tenha sido atribuída uma pena capital legal. Reforça-se um recado de que, sem que nada seja feito, continuará vigorando a lógica do 'bandido bom é bandido morto", e não a da Constituição de 1988", diz trecho da ação.

Como mostrou o Estadão, Fachin chegou a intimar, no início de abril, o governador do Rio a se manifestar sobre os questionamentos das autoras da ‘ADPF’ das Favelas com relação ao decreto que foi publicado com o plano de redução de letalidade policial do governo.

À época, as entidades da sociedade civil alegaram que o que o Rio ‘não fez o seu dever de casa’ e publicou ‘mera carta de intenções absolutamente genéricas, que não tem nenhum compromisso real com a redução da letalidade policial’.

Em meados de abril, a Procuradoria-Geral do Estado alegou ao STF que o plano publicado em decreto estadual atendia os comandos da corte máxima.

"O Plano Estadual de Redução de Letalidade em Decorrência de Intervenção

Policial, como se vê, não é uma mera carta de intenções. Ele estabelece medidas objetivas a fim de reduzir o número de mortes em decorrência da atuação policial, medidas estas que envolvem aprimoramento de recursos humanos, aquisição e modernização de recursos materiais e estabelecimento de rotinas administrativas e operacionais destinadas ao alcance dos objetivos da norma", alegou o governo do Rio.

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