Delegada é substituída da investigação sobre morte de tesoureiro do PT por bolsonarista em Foz do Iguaçu. Entenda o motivo
Isso acontece pouco após a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, tornar públicas postagens feitas no Facebook de Iane que mostram que a delegada fazia críticas frequentes ao partido
O Governo do Paraná substituiu, nesta segunda-feira (11), a delegada Iane Cardoso da investigação sobre o assassinato do tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) por um bolsonarista em Foz do Iguaçu. Agora, o caso ficará sob responsabilidade da delegada divisional de homicídios, Camila Cecconello.
A gestão informou que o motivo da mudança é por questões de recursos, e que a "divisional de homicídios tem mais recursos e experiência para essa situação".
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Isso acontece pouco após a presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, tornar públicas postagens feitas no Facebook de Iane que mostram que a delegada fazia críticas frequentes ao partido.
A reportagem do JC identificou algumas dessas postagens. Uma delas, compartilhada por Iane, representa o ex-presidente Michel Temer falando: "Dilma? Sou eu... escuta... pergunta pro Lula: quanto sai um caminhão chei de abestado gritando: 'é golpe', 'lava jato seletiva' e 'vazamento é ilegal'?
Outras, apontadas por Hoffmann, mostram que a delegada postou, em 2016, que "petista quando não está mentindo está roubando ou cuspindo" e as hashtags "#foralula" e "#foraPT".
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Ao G1, a delegada Iane afirmou que não vê isso como prejuízo às investigações. “Não me defino como petista, nem como bolsonarista. Trato o presente caso como sempre tratei todas as investigações que presidi durante toda a minha carreira: com responsabilidade, honestidade, parcimônia e visando sempre aplicação da lei, em busca da justiça", afirmou.
Também ao site, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita disse que estava "verificando" a denúncia.
Relembre o crime
Um crime cometido na madrugada desse domingo (10) em Foz do Iguaçu, no Paraná, parou o Brasil e acirrou as tensões sobre as eleições de 2022.
O guarda municipal Marcelo Arruda, de 50 anos, tesoureiro e candidato a vice-prefeito da cidade em 2020 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), foi assassinado a tiros na própria festa de aniversário pelo policial penal bolsonarista Jorge José Guaranho. Testemunhas apontam motivação política, mas a polícia ainda investiga o caso.
Marcelo chegou a ser levado até o Hospital Municipal, mas não resistiu aos ferimentos. Ele deixa a esposa e quatro filhos, sendo uma menina de seis anos e um bebê de 1 mês.
Antes de morrer, no entanto, ele conseguiu revidar à investida e também baleou Guaranho, que está internado em estado estável em um hospital da cidade, segundo informações repassadas pela delegada Iane Cardoso.
Segundo ela, Guaranho foi autuado em flagrante delito e está custodiado pela Polícia Militar enquanto recebe auxílio médico. A delegada afirmou que as investigações foram iniciadas sob a hipótese de conflito político, mas não afasta a possibilidade deles já se conhecerem. Isso porque o suspeito seria o diretor do estabelecimento onde acontecia a festa em que Arruda foi assassinado.
"Não há histórico de conflito anterior. A informação que a esposa do agente penal deu é que ele era diretor também do local em que estava ocorrendo a festa. Por isso a gente deduz que talvez eles se conhecessem, mas tudo é muito recente ainda e a gente tem que apurar", disse a delegada.
O crime aconteceu durante a comemoração dos 50 anos de Marcelo na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, na Vila A. O evento era temático do PT. O aniversariante, inclusive, vestia uma camisa com a foto do ex-presidente Lula.
No entanto, foi interrompido, segundo relato no boletim de ocorrência, por Guaranho, que teria chegado ao local de carro, onde estavam também uma mulher e um bebê. O documento diz que ele desceu do carro armado e gritando: "Aqui é Bolsonaro!", e que não era conhecido de ninguém, nem foi convidado.
Depois, Guaranho teria deixado o local, mas voltou após cerca de 20 minutos, armado e sozinho. Ele, então, teria atirado duas vezes contra o guarda municipal, que revidou e baleou o policial penal.
Autoridades se pronunciam sobre o caso
Por nota, o PT lamentou a morte do filiado e relacionou violência à "política oficial do atual Presidente da República, que estimula cotidianamente o enfrentamento, o conflito, o ataque a adversários".
"Basta de violência! Basta de destruição! É tempo de reconstrução e transformação do Brasil e das relações entre brasileiros e brasileiras! Vamos chorar e enterrar mais um companheiro que tombou vítima da violência política, basta!", afirmou o texto, assinado pela presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann.
Hoje era para dar parabéns ao Marcelo, mas estamos aqui lamentando sua morte. Vou lhe dar o último adeus companheiro, com a certeza de q sua luta esta entre nós. Estará sempre presente na nossa caminhada e em nossos corações. Solidariedade aos familiares e amigos pic.twitter.com/XRdRU8SZ4h
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 10, 2022
No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou lamentar a morte do petista, e optou por compartilhar uma mensagem já publicada em 2018, ano que sua campanha para a presidência. "Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018", escreveu:
"Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos", diz a mensagem.
- Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018:
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) July 10, 2022
Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos.
Quem é o bolsonarista Jorge José Guaranho?
Em seu perfil no Twitter, o policial penal federal responsável pelo assassinato de Marcelo Arruda se descreve como "conservador" e "cristão".
Guaranho também não esconde seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o perfil do policial, armas são para defesa. Ele também afirma ser contra o aborto e contra as drogas.
Em suas publicações, são recorrentes mensagens de apoio ao presidente e sua família - inclusive uma "selfie" com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) - críticas à Rede Globo e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Quem era Marcelo Arruda?
Marcelo Arruda era guarda municipal e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu. Em 2020, o guarda municipal foi candidato a vice-prefeito de Foz do Iguaçu pela sigla.
Era diretor do Sindicato de Servidores Públicos do município e tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu. Ele deixa mulher e quatro filhos.
"Arruda era um lutador incansável pelas causas dos servidores municipais, para ele não tinha tempo ruim, sempre disposto e aguerrido nas lutas pelos direitos dos trabalhadores. Fica uma lacuna de um grande homem na luta sindical. Neste momento de imensa dor pela perda irreparável, só Deus poderá confortar os corações dos familiares e amigos", disse a diretoria do Sindicato dos Servidores Municipais de Foz do Iguaçu (Sismufi), em nota de pesar pela morte.
A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu também lamentou, por meio de nota, o assassinato. "Marcelo era servidor municipal da Guarda há 28 anos e era também membro da diretoria do Sindicato dos Servidores Municipais – Sismufi. Ele deixa esposa e quatro filhos. O Legislativo Iguaçuense se solidariza com familiares e amigos enlutados e deseja força para enfrentarem esse momento de dor e tristeza", afirma.
Líder do PT foi assassinado em festa de aniversário
Um vídeo mostra Arruda cantando "parabéns para você" ao lado de amigos e familiares pouco antes de ser baleado na festa, que tinha o PT como tema e acontecia na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi), na Vila A. Ele próprio vestia uma camiseta com o rosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O secretário de Segurança Pública de Foz do Iguaçu, Marcos Antonio Jahnke, disse à RPC que a Polícia Civil investigará as motivações do crime. "Pelo que a gente percebeu foi uma intolerância política", apontou.
Marcelo Arruda deixa esposa e quatro filhos, sendo uma menina de seis anos e um bebê de 1 mês. O corpo dele será velado neste domingo (10) no Cemitério Municipal Jardim São Paulo, em horário ainda a definir.