Um novo gênero e espécie de planta pré-histórica foi descoberto na prolífica bacia sedimentar do Araripe, porção de 10 mil quilômetros quadrados de extensão que abrange os Estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. A descrição da Cratosmilax jacksonifoi publicada no último dia 13, nos Anais da Academia Brasileira de Ciências por um grupo de cinco pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca-CE) e do câmpus de Vitória de Santo Antão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O fóssil de uma folha da planta, em perfeito estado de conservação, foi coletado nas minas de calcário laminado de Nova Olinda, Ceará, em 2012, pelo paleontólogo Álamo Saraiva e um grupo de alunos da Urca (CE). A angiosperma (vegetal com flor) é uma antepassada da espécie conhecida como japecanga, que ocorre em todo o hemisfério Sul, inclusive na Chapada do Araripe. “É o registro mais antigo da família das Smilacaceae, com 120 milhões de anos”, informa o paleontólogo Álamo Feitosa, que coordenou a pesquisa.
Até então, os fósseis mais velhos dessa família eram de plantas de 70 milhões de anos, encontradas na América do Norte. “Essa descoberta traz novas informações sobre a origem e distribuição das angiospermas, auxiliando no entendimento das mudanças ambientais ocorridas no passado longínquo da Terra”, comenta Juliana Sayão.
Para Álamo Saraiva, a Cratosmilax jacksoni resolveu um velho enigma. “Os registros mais antigos da espécie são de uma época em que os continentes já estavam todos separados. Então, como ela poderia brotar em todos os continentes se o fruto da planta não é dispersado nem pelo vento nem pela água? Agora, o aparecimento dessa espécie de 120 milhões de anos reforça a teoria da deriva continental (migração constante dos continentes) e explica a disseminação”, conclui o paleontólogo.
O nome Cratosmilax é uma alusão à Formação Crato – depósito geológico de onde o fóssil foi retirado – e a uma ninfa grega, que denomina a família das Smilacaceae. Jacksoni é uma homenagem ao geólogo e ambientalista cearense, defensor da Chapada do Araripe, Jackson Antero, falecido em 2013.
Segundo Álamo Saraiva, uma das curiosidades da planta é que ela praticamente não mudou nesses 120 milhões de anos em comparação com a sua descendente japecanga. “É um grupo que não precisou se especializar muito para ocupar vários nichos na Terra”, ressalta. Além dele, assinam o artigo os pesquisadores Flaviana Jorge de Lima, Juliana Sayão e Renan Bantim, da UFPE, e Maria Arlene Pessoa da Silva, da Urca.