Água e areia do leito seco do Capibaribe devem ser usadas com moderação

Alerta é feito pela Associação Águas do Nordeste, que pesquisa a região desde agosto de 2013
Da Editoria Cidades
Publicado em 28/03/2015 às 8:08
Alerta é feito pela Associação Águas do Nordeste, que pesquisa a região desde agosto de 2013 Foto: Foto: Associação Águas do Nordeste/Divulgação


Só na estação chuvosa, de maio a julho, é possível ver água correndo no leito do Rio Capibaribe nos municípios de Poção, Jataúba, Santa Cruz do Capibaribe e Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano. Por causa da seca, nos últimos três anos o rio não encheu nesse trecho, de 80 quilômetros de extensão. E por essa razão é preciso usar com equilíbrio a água de chuva que se infiltra na areia e lá fica guardada ao longo de anos.

O alerta é da Associação Águas do Nordeste (ANE), que há uno e meio monitora o Capibaribe e seus afluentes nas quatro cidades pernambucanas. “É importante definir medidas de proteção para as areias do leito seco do rio e para a água acumulada embaixo”, afirma o biólogo Ricardo Braga, presidente da ANE. Uma das propostas da entidade é estabelecer limites para a retirada dessa areia, na maioria das vezes empregada na construção civil.

Com base em pesquisas científicas, a associação, sediada numa área repleta de plantas nativas no bairro de Sítio dos Pintos, Zona Norte do Recife, sugere a manutenção de uma camada de 50 centímetros de areia sobre a água, para proteger o manancial contra a evaporação. “As empresas que exploram a atividade devem respeitar essa marca, para evitar perda de água”, observa o biólogo.

A ação é necessária, diz ele, levando-se em conta o potencial de evaporação da região, estimado em 2,5 mil milímetros por ano. Enquanto isso, a precipitação média é de 500 milímetros ao ano (quando chove), cinco vezes menor. “Isso provoca o déficit hídrico do Semiárido”, diz Ricardo Braga. A extração de areia nos municípios, com apoio de retroescavadeira e draga, é cultural, porém abre buracos enormes no leito seco do rio, favorecendo a evaporação, acrescenta Ricardo Braga.

De acordo com o pesquisador essa água é essencial para abastecer moradores e pequenos agricultores nos períodos de estiagem prolongada, como agora. As famílias abrem cacimbas no Capibaribe para captar a água. “Contamos 120 poços nesses 80 quilômetros. Se fosse apenas a população usando, esse reservatório não acabava nunca. Porém, em época de estiagem, carros-pipa também retiram o produto”, informa.

Uma das contribuições da ANE é orientar os moradores na construção de poços com formas metálicas (mais seguros que os de tijolos), com furos que facilitam a drenagem da água para o cacimbão. 

A retirada de areia e a captação da água são legítimas, diz Ricardo Braga. “O desafio é encontrar uma forma de proteger os mananciais e estimular o uso sustentável dos recursos hídricos”, destaca. A ANE estuda a drenagem dos riachos que fazem a renovação da areia nesse trecho do Capibaribe e, no primeiro ano de pesquisa, constatou que esse valor foi nulo.

“Sem chuva, os riachos não correm por cima do leito e a renovação dos sedimentos depende da correnteza dos riachos. Não podemos fazer essa conta em anos, mas em décadas e séculos”, avisa. A Resolução nº 01/2013 do Conselho Estadual de Meio Ambiente define regras para a extração de areia.

A pesquisa Águas de areias: Recuperação e gestão compartilhada das águas de aluvião e leio seco do rio no Semiárido pernambucano tem apoio da Petrobrás Socioambiental. São parceiros do projeto a UFPE, UFRPE e UPE, entre outras entidades. Pernambuco encerra amanhã as comemorações pelo Dia Mundial da Água, 22 de março.

TAGS
águas de areias Agreste pernambucano Associação Águas do Nordeste leito seco do rio Rio Capibaribe
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory