Em meio à imensidão de terra esturricada por uma seca que castiga o Sertão há quatro anos, pequenos oásis despontam como uma miragem. São espaços onde brotam as frutas mais variadas, mudas de espécies nativas, hortaliças e verduras. Com apoio da ONG Caatinga, pequenos agricultores da região do Araripe estão mostrando que é possível não somente adaptar-se às adversidades climáticas, mas tirar proveito delas, usando técnicas agroecológicas que não agridem o meio ambiente. Além de garantir comida na mesa, a iniciativa reforça a renda familiar.
“As famílias sempre possuíram quintais. Há cinco anos começamos a perceber que esse espaço era o mais democrático da propriedade. As mulheres, inclusive, conseguiam se inserir na atividade produtiva através deles porque não precisavam se distanciar de casa”, explica o coordenador do projeto da Caatinga, Giovane Xenofonte, acrescentando que a ideia dos quintais produtivos tomou corpo depois de um debate promovido pela Universidade Federal de Pernambuco para troca de experiências em agroecologia.
A partir daí, os quintais começaram a ser implementados, associados a outras tecnologias para garantir o fornecimento de água, principal obstáculo a superar no Semiárido. Desde a década de 90, a Caatinga já trabalhava com cisternas de placas pré-moldadas de 16 mil litros, que captam água da chuva para o consumo humano. Também passou a implantar nos sítios, reservatórios maiores, de 52 mil litros, onde a água que desce dos córregos é armazenada. O destino é a irrigação.
A ONG também estimulou os agricultores a instalar um sistema de reutilização da água usada nas pias e banheiros. Depois de passar por um filtro natural, está pronta para molhar as plantas. “Queremos que o Semiárido seja cada vez mais viável. Para isso, estamos apostando na agricultura familiar, baseada nos princípios da agroecologia”, ressalta Giovane Xenofonte, informando que 800 famílias das cidades do Sertão do Araripe e de Parnamirim já têm quintal produtivo. “A agricultura familiar, às vezes, é vista como tarefa de mera sobrevivência. Mas, se for fortalecida, vai mudar a vida não somente de quem mora na roça.”
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