O óleo que polui o litoral pernambucano está trazendo consequências para a saúde dos que se propuseram a limpar as praias afetadas. Em São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do Estado, a primeira cidade a registrar, há uma semana, o reaparecimento da substância, 17 pessoas, entre voluntários e funcionários municipais precisaram de atendimento médico entre o dia 17 de outubro e esta quarta-feira (23).
“A maioria estava apresentando cefaleia, náuseas e lesão de pele por conta do contato com a substância. Esse pessoal foi encaminhado para a Unidade Mista Osmário Omena de Oliveira, medicado e liberado. Além desses casos, temos indícios de subnotificações, pessoas que tiveram contato, apresentaram sintomas e não nos procuraram”, explicou a secretária de Saúde municipal, Taciana Mota.
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Nesta quarta-feira (23), o governo federal reconheceu o estado de emergência de São José da Coroa Grande, decretado pelo município.
Na Região Metropolitana do Recife (RMR), mesmo protegida com botas, luvas e máscara e sem ter tido contato com o óleo, a autônoma Catarina Silveira, 31 anos, que ajudou na limpeza da praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, também se sentiu mal. “Os sintomas vêm de imediato. O cheiro é muito forte, mesmo de máscara, e olhos, nariz e garganta ardem”, relatou.
Na mesma praia, a bombeira civil Yohanna Guedes, 33, voluntária, teve contato direto com o óleo. “Voltei para casa já enjoada, colegas que estavam no mesmo carro também sentiram. Eu também senti dor de cabeça, dor de ouvido, um pouco de coceira no rosto e tontura”, disse.
Após participar de mutirões de limpeza em Itapuama e Enseada dos Corais, nessa terça-feira (22), a cerimonialista Priscila Silva, 33, sentiu reações parecidas.“Estou até agora sentindo coceira e dor de cabeça. Entrei na água, de luva e máscara”, afirmou.
Orientações da Secretaria Estadual de Saúde
- Não entrar em contato direto com a substância;
- No caso de contaminação da pele com o óleo: Lavar a pele com água e sabão;
- Nunca usar solventes (como querosene, gasolina, álcool, acetona) para remoção (esses produtos podem ser absorvidos e causar lesões na pele);
- Podem ser usados óleo de cozinha e outros produtos contendo glicerina ou lanolina;
- Eventuais lesões de pele devem ser tratadas por serviços médicos especializados.
- Recomenda-se procurar a orientação da defesa civil municipal antes de realizar a ação de voluntariado na limpeza do óleo cru nas praias;
- Durante a limpeza recomenda-se evitar o contato direto com o óleo por meio do uso de: máscara descartável; luvas de borracha resistente; botas ou galochas de plástico ou outro material impermeável.
- Não usar tênis, chinelo, bota de trilha nem ir descalço;
- Usar roupas que cubram as pernas e os braços, se possível, de material impermeável;
- Por ser um material inflamável, não fumar ou fazer fogo próximo ao óleo cru;
- Não é recomendada a participação de crianças e gestantes nos mutirões de limpeza.
Apesar de todos os alertas, algumas das cenas mais dramáticas da última semana foram protagonizadas ontem por voluntários do município de Paulista, no Grande Recife. No fim da manhã, a prefeitura do município localizou o material tóxico no bairro do Janga, formando uma barreira em volta das pedras da praia. Sem orientação ou equipamentos adequados, a população se lançou entre as rochas e ao mar para fazer a retirada da substância. A situação evidencia a necessidade imediata de um maior controle por parte dos órgãos responsáveis, em relação ao trabalho feito pela população.
“Nos organizamos para que as pessoas que se sentiam mais seguras para realizar a retirada ficassem nas pedras, enquanto o restante ficava aqui em cima (no calçadão)”, afirmou a voluntária Manuela Correia, que ajudou a retirar o óleo da praia do Janga. O trecho, diferentemente de outras localidades afetadas pelo óleo, era de difícil acesso, sem faixa de areia.
Além do risco de queda entre as rochas, os voluntários trabalharam durante a manhã e a tarde sem os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras, luvas e botas. “Nossa preocupação é total com a saúde das pessoas. O governo mandou 300 kits de EPI e vamos fazer uma triagem das pessoas que desejam ajudar. Estamos pensando até em uma identificação por crachá. Também haverá ambulância de prontidão para qualquer eventualidade. Nós queremos dar segurança a quem quer ajudar”, afirmou o prefeito de Paulista, Júnior Matuto.
O bom exemplo de controle veio de outra praia atingida ontem pelo óleo: Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes. Lá, o poder público limitou o acesso dos voluntários às áreas afetadas, sob a justificativa de evitar o contato da população com o material tóxico. Ao todo, já foram retiradas do litoral pernambucano 958 toneladas de óleo, segundo o governo do Estado. A Ilha do Amor, no Cabo de Santo Agostinho, também registrou manchas nesta quarta-feira (23).
Em Barra de Jangada, as primeiras manchas foram vistas de madrugada. “Às 4h15, eu mesmo detectei que esse trecho da praia estava tomado pelo resíduo. Duzentas pessoas foram acionadas para trabalhar, entre prefeitura, Ibama, Exército e Marinha, além de 50 reeducandos”, informou o superintendente da Defesa Civil de Jaboatão dos Guararapes, coronel Artur Paiva. Com o local de atuação isolado, a participação dos voluntários foi limitada na ação de limpeza. “Temos que ter responsabilidade também com a saúde das pessoas que querem ajudar, para que não acabem prejudicadas. O contato com esse material pode causar problemas de saúde, precisamos ter responsabilidade na questão do uso de voluntários”, completou.
A preocupação tem justificativa. De acordo com o professor Hernande Pereira, do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da UFRPE e membro do Instituto de Redução de Riscos e Desastres em Pernambuco (IRRD-PE), o óleo é composto por hidrocarboneto. Dos 16 tipos existentes dessa substância, seis são cancerígenas. “É preciso muito cuidado para não expor a população a esse risco. É perigoso demais. Os voluntários estão dispostos a ajudar, mas tem que haver coordenação e orientação para que não haja consequências e sequelas no futuro nessa população. A proteção é fundamental”, reforça.
Nesta sexta-feira (25), o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, virá ao Estado para avaliar as consequências do desastre do óleo que atinge praias de Pernambuco. Ele visitará os principais pontos afetados em Ipojuca, no Grande Recife, e se reunirá com autoridades locais.