Atingida no domingo (20) por espessas manchas de óleo, a praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife (RMR) ainda concentra a substância, submersa, entre arrecifes. A situação foi registrada em vídeo por um oceanógrafo do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nessa quarta-feira (23).
"No Paiva, como a água é cristalina, é fácil de ver. Certamente, há outros ambientes onde a água não é tão cristalina e não é fácil detectar se tem e quanto tem. A quantidade que está no vídeo, também vista por outros mergulhadores, é bastante significativa", explicou o pesquisador Paulo Carvalho, que também coordena o Laboratório de Ecotoxicologia Aquática (Labecotox), na UFPE.
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Segundo o professor, embora a maior parte do óleo possa ser retirada por estar emulsificada, resíduos podem se dissolver na água. "Mesmo que haja esse material passível de se retirar. Resíduos pequenos que, por ventura, tenham entrado nas reentrâncias das rochas, onde é praticamente impossível de retirar, entram em um processo lento de dissolução. Os compostos mais perigosos do óleo são os Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAPs), tanto para a população humana quanto para os organismos que vivem dentro da água", afirmou.
A visita ao Paiva foi motivada por uma pesquisa desenvolvida no Labecotox sobre o peixe da espécie Stegastes fuscus, conhecido como "donzelinha", que habita a região.
Paulo Carvalho/Cortesia |
"Nós fomos vistoriar a área porque sabíamos que tinha chegado a mancha e, em especial, porque temos um projeto em andamento que incluía essa região, utilizando uma espécie que vive nesse ambiente como 'sentinela'. A gente monitora diversos parâmetros desse peixinho, de forma que, quando há uma alteração, é um indicativo de que ele está se expondo a alguma substância, em especial, os compostos de petróleo", explicou o pesquisador, acrescentando que foram coletadas amostras para avaliar se a espécie está absorvendo a substância.
De acordo com mestranda Maria Alves, que encabeça a pesquisa, as consequências do vazamento podem ser variadas. "Eu ainda não sei a dimensão do que isso vai causar. Em relação à espécie que estudo, podem haver vários impactos, a nível bioquímico, que eu estou medido, a níveis fisiológicos e até populacionais, além de comportamentais", disse.
Análise da água das praias atingidas
Equipes começaram, nesta quinta-feira (24), a recolher amostras de água das praias atingidas pelo óleo. O objetivo é verificar se existe presença de hidrocarbonetos, compostos orgânicos presentes no petróleo e que, em grandes concentrações, podem causar danos à saúde. O material recolhido será encaminhado para análise no laboratório Organomar, da UFPE, que fechou uma parceria com a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) para fazer os estudos.
A coleta aconteceu no Litoral Sul do Estado, nas praias do Paiva, São José da Coroa Grande, Tamandaré, Carneiros, Maracaípe, Muro Alto, Suape, Itapuama, Gaibú e Pedra do Xaréu. O trabalho é feito por profissionais do laboratório da CPRH, com o apoio dos professores do departamento de Oceanografia da UFPE Gilvan Yogui e Eliete Lamardo, especialistas em poluição marinha por petróleo. A amostra é composta por cerca de um litro de água, coletada no mar a uma distância de, no mínimo, 500 metros da outra. Nesta sexta-feira (25), a atividade ocorrerá nas praias do Janga e Pau Amarelo, em Paulista, além do município de Itamaracá.