Concluintes da primeira turma de ensino a distância (EAD) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) não têm motivos para comemorar. O curso de licenciatura em letras-português acabou marcado por transtornos nos quase seis anos de duração. Mesmo com tudo concluído, segundo os alunos, a universidade impediu a colação de grau.
Adiel Melo é concluinte do polo Limoeiro, no Agreste, mas deixou de exercer um cargo público porque o diploma não saiu. Ele recebeu apenas uma declaração da universidade. "Fui desclassificado de uma seleção simplificada para professor porque a declaração de conclusão dada pela universidade não tem validade jurídica", explicou.
De acordo com o site do Ministério da Educação, o processo de reconhecimento do curso está em análise sob nº 201307231. Sem o reconhecimento, o diploma não tem validade. O site informa que o reconhecimento deve ser solicitado pela instituição quando o curso de graduação atingir metade da carga horária.
O E-Letras teve início no primeiro semestre de 2008. Segundo os estudantes, há quase dois anos não há webconferências, que são aulas ministradas via internet, nem material didático impresso. A estudante do 7º período do polo Ipojuca Sheila Laete, estudava Gestão Ambiental, também a distância, no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), mas desistiu para cursar de letras. "Desde o primeiro período, solicitamos à coordenação e aos professores mais aulas presenciais e atividades mais dinâmicas, como chats on line e seminários".
Eliane Maria, 8º período do polo Limoeiro, tinha o objetivo de estudar no Recife, mas por vários motivos não conseguiu se mudar para a capital. O EAD foi uma forma dela conseguir cursar o ensino superior sem sair de sua cidade. "Com o ensino a distância estou realizando meu sonho, mas essa metodologia empregada no curso poderia ser melhor aplicada. Precisamos de mais retorno dos professores e tutores. Por exemplo, as webconferências são excelentes recursos para estar em contato com o professor e tirar dúvidas, porém não temos mais. Fora que deveriam ter vídeos de aulas e material impresso disponíveis para os alunos e, infelizmente, não temos nada disso".
Atualmente, esse curso superior está funcionando igual a uma escola pública municipal
Dilma Luciano, primeira coordenadora do E-Letras
Outro problema é a elevada evasão do curso. Segundo pesquisa da primeira coordenadora do E-Letras, Dilma Luciano, dos 200 alunos que entraram na primeira turma, apenas nove concluíram o curso no semestre passado. Segundo o Censo EAD.br 2011, divulgado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), a média de evasão de alunos nos cursos autorizados é de 20,5% em todo o Brasil. De acordo com a pesquisa orientada pela professora, na UFPE a média pode chegar a 27,5%, em relação à primeira turma.
“A gente não deixa a desejar aos cursos presenciais. Os professores do EAD são doutores e ensinam na universidade. Mas os problemas de avaliação e a falta de assistência comprometem o andamento do curso. Os alunos não saíram do jeito que entraram, mas não saíram do jeito que deveriam ter saído. Sem a solução política eu não acredito que o curso ande como se deve andar. Atualmente, esse curso superior está funcionando igual a uma escola pública municipal”, diz Dilma Luciano.
A Pró-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (Proacad), informou que faltou aos alunos a integralização do curso para solicitar a colação de grau em separado. Nesses casos, se o aluno estiver concluído todas as exigências, não é preciso de uma cerimônia com várias pessoas, mas a assinatura da documentação no gabinete do diretor do Centro Acadêmico do curso. Já a coordenação do E-Letras negou as acusações e informou que os livros foram entregues aos alunos e que os professores podem fazer webconferências ou vídeoaulas quando desejarem.
MÉTODO É DEFENDIDO EM OUTRAS INSTITUIÇÕES
O ensino a distância funciona normalmente em diversas universidades públicas brasileiras. No nordeste, os cursos de letras da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) são exemplos próximos. O curso paraibano atende a, aproximadamente, 1800 alunos. Já a instituição pernambucana reúne mais de dois mil estudantes em todos os seus cursos.
"Aqui na UPE, o curso foi fundado em 2006. Nós trabalhamos com seminários, que podem ser presenciais ou virtuais, aula tira-dúvidas aos sábados, com o professor, além de videoconferência. Fora isso, entregamos o material impresso para os nossos alunos", explica o coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UPE, Renato Medeiros.
A UFPB forma professores de português nessa modalidade desde 2010. A instituição oferece webconferência, vídeoaulas e material pedagógico impresso para os discentes. “Em alguns lugares é difícil termos webconferência, pois é necessário uma conexão rápida de internet. Daí começamos a trabalhar com oficinas presenciais nos polos. Realizamos uma semana de visitas com seminários presenciais”, informou a coordenadora do curso de letras, a professora Ana Cláudia Felix Roberto.