O começo do ano letivo de 2017 da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), previsto para 20 de fevereiro, deve atrasar. As ocupações de centros acadêmicos por estudantes contrários a medidas do governo federal, iniciadas em 17 de outubro, e a greve dos professores, decretada na quinta-feira (10), vão interferir no cronograma de atividades da instituição.~
“Não dá para saber, no momento, o quanto de comprometimento teremos. Mas é certo que vai atrasar o início do ano letivo de 2017”, afirma a reitora em exercício, Florisbela Campos. “A greve dos professores está começando. As ocupações interferem nas aulas de alguns centros. Somente quando esse movimento acabar vamos reunir o Conselho Coordenador de Ensino, Pesquisa e Extensão para refazer o calendário acadêmico”, explica.
O segundo semestre letivo da UFPE começou dia 8 de agosto, com previsão do último dia de aula para 10 de dezembro. “Conseguimos cumprir cerca de dois terços da carga horária. Onde não houver ocupação e os professores mantiverem as atividades os alunos poderão entrar de férias como previsto antes”, diz a reitora em exercício.
A Faculdade de Direito do Recife (FDR), que funciona na Boa Vista, Centro da cidade, é o mais recente prédio da UFPE ocupado. Por volta das 23h de quinta-feira estudantes tomaram o histórico imóvel. Na tarde de ontem, a juíza federal Joana Carolina Lins Pereira, da 12ª Vara/PE, expediu mandado de reintegração de posse em favor da UFPE para que a faculdade fosse imediatamente desocupada. Até as 23h de ontem, os estudantes ainda estavam no local e preferiram não comentar a decisão da Justiça.
Além da FDR, estão ocupados, no câmpus da universidade na capital, os Centros de Artes e Comunicação (CAC), de Educação (CE), de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), de Ciências Biológicas (CCB), Niate CFCH/CCSA, Niate CCB/CCS, o Núcleo de Educação Física e o Departamento de Enfermagem. Os centros acadêmicos de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, e de Caruaru, no Agreste, também estão com mobilização dos discentes.
Os estudantes são contra a proposta de emenda à constituição (PEC) que limita os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos, a chamada PEC do Teto. Discordam ainda da reforma do ensino médio, proposta pela Medida Provisória 746, enviada ao Congresso Nacional. “Também reivindicamos mais assistência estudantil. Com a lei de cotas, as universidades hoje têm 50% dos alunos que vieram da escola pública. E as bolsas, em vez de aumentarem para atender essas pessoas, estão diminuindo”, comentou uma aluna da UFPE que participa da ocupação da Faculdade de Direito.
Do lado de fora, ontem, um grupo com 20 alunos de direito, contrários à ocupação, disse que a maior parte dos manifestantes não é formada por estudantes da FDR. “Não houve assembleia para decidir pela ocupação, o que coloca em xeque a democracia”, reclamou Larissa Wanderley, 20 anos, do 4º período.
Preocupada com a preservação do prédio, que é tombado, uma aluna fez denúncia formal da ocupação ao Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (Iphan). À tarde, três pró-reitores e uma assessora tentaram negociar uma saída pacífica dos estudantes. A comissão constatou que não havia depredação nem danos ao prédio, móveis e acervo da faculdade.
Professores da Universidade de Pernambuco, em greve desde o dia 28, decidiram ontem, em assembleia, manter a paralisação. A categoria reivindica, entre outros pontos, reajuste salarial de 24% e a conversão do atual sistema de dedicação exclusiva em Regime de Trabalho de Dedicação Exclusiva. Os docentes também são contrários às medidas do governo federal. Estão sem aula, segundo o sindicato dos professores, os câmpus de Palmares, Nazaré da Mata, Caruaru, Salgueiro, Serra Talhada, Arcoverde e Petrolina. Em Garanhuns a adesão é parcial. No Recife, estão parados Esef, Fensg e ICB.