Situação precária nas escolas municipais de Olinda

Alunos, pais e professores denunciam problemas de infraestrutura nos colégios. Prefeitura reconhece situação e diz que herdou da gestão passada
Margarida Azevedo
Publicado em 14/06/2017 às 7:36
Recursos do Fundeb são a principal fonte de investimento dos municípios para a educação Foto: Foto: Diego Nigro / JC Imagem


Alunos, pais e professores de escolas municipais de Olinda, no Grande Recife, denunciam condições precárias em unidades de ensino. A menos de um mês para acabar o primeiro semestre letivo (em 6 de julho), reclamam também que muitos estudantes ainda não receberam material didático. Fardas não foram distribuídas este ano. Numa escala de zero a dez, o município tem nota 4 nos anos iniciais do ensino fundamental no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2015, indicador de qualidade medido pelo Ministério da Educação a cada dois anos. Nos anos finais, a nota é mais baixa: 3,5.

A Escola Municipal Elpídio de França, localizada no Alto Nova Olinda, em Águas Compridas, é um exemplo de como o parque escolar da cidade está deteriorado. As paredes encontram-se pichadas. Segundo alunos, as salas são quentes e não possuem ventiladores. Há relatos de ratos circulando pelos prédios durante as aulas. “Na minha sala o quadro está caindo, as bancas são sujas e não tem ventilador. Vive faltando água na escola”, conta Evilávia Jenifer Nunes, 12 anos, do 8º ano do ensino fundamental.

O JC esteve no colégio anteontem pela manhã. Às 10h, o estabelecimento estava vazio. As turmas tinham sido liberadas mais cedo porque não havia água, de acordo com informações da secretária da escola. “Infelizmente essa escola faz vergonha. Tem muita sujeira e vive bagunçada”, afirma Ingrid Yasmin Paz, 13, da mesma série de Evilávia. As alunas disseram ainda que constantemente faltam professores.

Vizinha da Elpídio de França há a Escola Municipal Nova Olinda, que oferece turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. “As salas são muito pequenas e apertadas. Meus dois filhos não receberam farda nem um lápis este ano. Eles não brincam no recreio porque falta espaço”, lamenta a dona de casa Viviane Santos, 26, mãe de duas crianças de 5 e 7 anos.

Na Escola Municipal Isaac Pereira da Silva, em Jardim Atlântico, paredes estão mofadas desde maio do ano passado, quando um temporal inundou a unidade de ensino. Docentes contam que a água chegou a 1,5 metro. Desde então, alunos e professores vêm adoecendo com problemas respiratórios. A comunidade escolar esperou que a prefeitura, na gestão anterior, realizasse alguma intervenção, o que só começou a ser feito semana passada, pela atual gestão municipal.

Preocupado porque a obra está sendo feita com o colégio funcionando, o corpo docente, formado por 18 professores, decidiu suspender as aulas desde segunda-feira até que o serviço termine. “Comunicamos aos pais e garantimos que vamos repor essas aulas aos sábados. Tem poeira, uma criança cortou o dedo na metralha, há pedaços de telhas no entorno da quadra. Achamos arriscado haver aula com a obra sendo feita”, justifica a coordenadora, Maria do Carmo Oliveira.

Na Escola Municipal Mizael Montenegro Filho, em Casa Caiada, uma parte do reboco em um dos corredores caiu mês passado. Há também pequenas infiltrações no telhado. A direção chamou a Defesa Civil da cidade, que assegurou não haver risco para alunos, professores e funcionários. “Não há perigo de desabamento, por isso continuamos com as atividades”, afirma a diretora, Rivani Nasário.

“A rede municipal de ensino de Olinda é muito precária. A maioria dos prédios é alugada e tem problemas de infraestrutura. Reconhecemos que a prefeitura herdou isso da gestão passada, mas achamos que poderiam ter agilizado reparos nas escolas”, diz o presidente do Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Olinda, Wildson Cruz.

INTERVENÇÃO

Cinquenta dos 91 prédios – entre escolas, anexos e creches da rede municipal de ensino de Olinda – passaram por intervenções na estrutura física este ano, segundo a Secretaria Municipal de Educação. A atual gestão, que assumiu o comando da cidade em 1º de janeiro, reconhece que o parque escolar está bastante danificado, mas ressalta que houve pouco tempo para consertar os problemas herdados da administração anterior.

“Recebemos a rede totalmente danificada, com vários problemas. Há obras inacabadas e muito coisa a ser feita. Em cinco meses não teríamos como dar conta de tudo. Mesmo assim já fizemos pequenas intervenções em 50 prédios. Outras dez escolas vão passar por requalificação, com recuperação hidráulica, elétrica e nos telhados. Esperamos começar esses serviços em até 45 dias”, informa o secretário de Educação, Paulo Roberto Souza Silva.

Entre as dez escolas que passarão por obras, estão a Elpídio de França, a Isaac Pereira e a Mizael Montenegro Filho, citadas nessa reportagem. Duas unidades de ensino que estavam com obras paradas desde 2011 – Manoel Borba, em Peixinhos, e Claudino Leal, em Rio Doce – tiveram ordem de serviço assinada para retomada dos trabalhos.

O secretário de Educação diz que nenhum aluno da rede (há cerca de 23 mil) recebeu fardamento. E que os kits de material didático começaram a ser entregues em maio. “A gestão passada não fez planejamento para adquirir fardas e material. Tivemos que licitar a compra, o que demora no mínimo 90 dias. Já entregamos 7 mil kits e esperamos regularizar isso no começo do início do segundo semestre letivo.”

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