Alunos de seis turmas da Escola Municipal Oswaldo Lima, localizada em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, perdem, desde o início do ano letivo, duas aulas diariamente porque não há bancas suficientes para todos. Os estudantes, que cursam as séries finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), largam às 10h, quando deveriam sair somente às 11h50, no turno da manhã. Os da tarde se ausentam às 16h, embora o horário regular acabe às 17h50. Outras quatro turmas têm rodízio de sala, o que as obriga a também serem liberadas mais cedo uma vez por semana.
Os adolescentes sentam em cadeiras plásticas, inadequadas para uso em sala de aula. Sem ter onde apoiar livros e cadernos, escrevem com o material no colo. A posição é incômoda e motivo frequente de queixas. Com dores nas costas, eles são dispensados antes do término regular do turno. A Secretaria de Educação do Recife não permite o acesso da reportagem à escola, segundo a direção da unidade de ensino.
“Não é certo fazer isso com os alunos. Tenho dois netos na escola, um de manhã e outro à tarde. Sempre largam mais cedo. Reclamam que as costas doem. O prefeito deveria ter consideração e ir atrás pra comprar essas bancas”, diz a dona de casa Maria das Dores Pereira, 72 anos, avó de um aluno do 7º ano e outro do 9º ano.
“É muito desconfortável, a gente não consegue assistir às aulas direito. Acho errado. E como estamos saindo antes da hora, isso vai atrapalhar as férias”, lamenta Maria Eduarda de Fátima, 12, aluna da 7ª série. “A escola também está cheia de infiltrações. Quando chove a quadra alaga. Os banheiros são horríveis”, destaca Conceição Queiroz, 44, mãe de um estudante do 7º ano.
“É revoltante o que está acontecendo. A falta de estrutura desmotiva os alunos. Ano passado o ano letivo começou com o mesmo problema, mas resolveram logo. Este ano estamos em maio e nada das bancas”, afirma a dentista Patrícia Carvalho, 43, mãe de dois estudantes (3º e 7º ano).
“Duas vezes na semana largo mais cedo porque a outra turma do 6º ano, que não tem cadeira para todos os alunos, assiste às aulas na minha sala. Acho um absurdo, temos direito a ter todas as aulas”, comenta o estudante Adriel John Silva, 13 anos, aluno do 6º ano.
A ONG Meu Recife criou um site para denunciar a falta de bancas, chamado Dança das Cadeiras. “Onde já se viu escola sem cadeira pra todas as crianças assistirem à aula?”, questiona a entidade no texto de abertura. Há um link para o envio de uma carta, por e-mail, endereçada ao secretário de Educação do Recife, Alexandre Rebêlo, cobrando um posicionamento da prefeitura. Até ontem à tarde 227 pessoas haviam mandado a mensagem.
A entidade diz que a Escola Luiz Vaz de Camões, situada no bairro do Ipsep, padece do mesmo problema. A direção do colégio informa, no entanto, que há bancas para todos os alunos (cerca de 650) e que não existe rodízio. Explica apenas que com frequência aluno de uma sala precisa ir buscar a cadeira em outra turma.
“É inadmissível a prefeitura não oferecer mobiliário. A gestão faz propaganda de robótica e outros instrumentos tecnológicos e não compra o básico que são bancas. É por isso que na nossa pauta de reivindicações exigimos melhores condições de trabalho”, observa a coordenadora-geral do Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere), Cláudia Ribeiro.
Não há prazo para que novas bancas cheguem na Escola Oswaldo Lima. Segundo a diretora executiva de Gestão de Rede Municipal de Ensino, Maria Costa, está em curso uma licitação, no valor de R$ 2,8 milhões, para compra de 17 mil bancas. A verba é do Banco Mundial.
“A licitação começou em outubro, mas houve cinco recursos, o que atrasou a compra. Nossa expectativa é que seja concluída até o final deste mês”, explica Maria. Paralelamente, a gestão está tentando pegar cadeiras emprestadas da Secretaria Estadual de Educação.
Maria Costa assegura que as aulas não ministradas serão dadas aos sábados ou em janeiro. Ela disse ainda que uma equipe de engenharia vai visitar o colégio na próxima semana para averiguar os problemas de infiltração.