Quase 70% das famílias pernambucanas estão endividadas, aponta o mais recente levantamento feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), divulgado neste mês de agosto, com base nos dados de julho passado. No total, 352.241 lares de Pernambuco acumulam contas atrasadas. Isso representa um aumento de 12,16% de inadimplência no comparativo com o mesmo período de 2018.
A recorrência deste problema na sociedade, no entanto, não abate os prejuízos causados por ele. Com o nome sujo, o cidadão perde o direito de aprovar um empréstimo ou de realizar financiamentos, por exemplo. Em casos extremos, até problemas psicológicos podem afetar quem não consegue pagar as dívidas. Para sair do vermelho, economistas orientam uma atitude simples e gratuita: colocar tudo que se ganha e que se gasta na ponta do lápis.
“É a primeira coisa que precisa ser feita”, ressalta o economista da Fecomércio, Rafael Ramos. De acordo com o especialista, a receita familiar, isto é, o total de recursos recebidos pelos entes que estão trabalhando, não pode ser inferior às despesas somadas de todos os moradores da casa. “É necessário calcular tudo. Listar quanto se paga na conta de luz, de água, de celular. Ver quanto se paga na feira, e comparar com o quanto que se tem disponível para gastar. A renda familiar precisa cobrir tudo o que é essencial”, ensina Ramos.
“A partir do momento que você visualiza todos os gastos, é hora de cortar aquilo que é supérfluo ou fazer substituições. Então, na hora de fazer a feira, por exemplo, se você, geralmente, compra a marca A, pode passar a optar pela marca B, que é mais barata”, sugere. Outra orientação de Rafael Ramos é que o consumidor faça renegociações. “Ninguém fica sem internet, mas você pode ligar para a sua operadora e pedir um plano mais barato. O mesmo vale para o celular”, afirma.
Segundo o economista, o grande vilão para a perda do controle nas finanças pessoais está presente na carteira de quase todo mundo. “O cartão de crédito não é extensão da renda familiar. Não dá para usar de forma inconsequente e não conseguir pagar a fatura no final do mês. Para dar certo, o melhor é ter um limite que seja compatível com a renda da família. Além disso, é preciso ter muito cuidado ao emprestar o cartão para outra pessoa”, argumenta Rafael.
O economista acrescenta que outra forma de economia está ligada à rotina da família. “É preciso ter cuidado com a energia. Não dá para ligar a máquina de lavar roupas todos os dias. É interessante acumular uma quantidade maior de roupas e ligar a máquina em dias específicos da semana. O mesmo vale para aparelhos que podem ser retirados da tomada quando não estão em uso, como o forno de microondas”, pontua.
Trabalhando como consultora de Recursos Humanos há 23 anos, Georgina Santos vê um mesmo erro se repetindo ao longo das últimas décadas e fazendo as famílias se endividarem. “Geralmente, o baixo nível de organização é um dos principais fatores do endividamento. As pessoas conseguem um emprego e pensam: ‘vou viajar para comemorar a conquista desse emprego’, sem ao menos terem sido efetivadas. As pessoas contraem dívidas por motivos que podem esperar”, analisa.
Um dos casos mais marcantes para a consultora foi quando ela atendeu um casal que tinha receita mensal de R$ 8 mil, mas acumulava despesas fixas de R$ 16 mil. “Eles gastavam muito mais do que podiam. Quando iam ao cinema, por exemplo, eles compravam um ingresso, entravam na sala para assistir à sessão e, se não gostassem do filme, saiam na metade, compravam outro ingresso e iam assistir a outro filme. Tinha dias em que eles compravam ingressos para dois ou três filmes”, comenta.
“Combinamos que eles só iriam para o cinema uma vez por semana e com a certeza de que queriam assistir àquele filme. Também sugeri que não comprassem a pipoca e deixassem para comer em casa”, lembra. Este tipo de economia foi apenas uma das medidas tomadas naquele caso. “O homem precisou vender o carro à vista a uma concessionária. Com o valor da venda, ele pagou as dívidas e ainda reorganizamos os gastos da família, de modo que ele conseguiu recomprar o carro com parcelas que realmente cabiam dentro do orçamento da família. Também reduzimos o limite do cartão de crédito dele”, enumera a especialista.
Georgina ensina que o ideal é poupar ao menos 20% de tudo o que se ganha. “É necessário ter uma reserva para um momento de imprevisto, para uma doença, uma reforma na casa. Você pode precisar comprar, por exemplo, uma geladeira, e, ao chegar na loja, conseguir um bom desconto por pagar o eletrodoméstico à vista. Outra opção é criar uma reserva para viajar. Eu mesma adoro viajar, mas poupo para poder ir com tudo pago”, diz a consultora. “O grande problema é que as pessoas compram porque se perguntam: ‘eu mereço ter isso?’, quando, na verdade, o correto seria perguntar: ‘eu posso? eu preciso disso?’”, finaliza.