Reforma na Igreja da Sé para o Dom da Paz

Túmulo construído dentro da Catedral da Sé, em Olinda, receberá restos mortais de dom Helder Camara nesta segunda, quando morte do religioso completará 13 anos
Betânia Santana
Publicado em 26/08/2012 às 20:22


“Em tuas mãos, senhor”, diz o recém-gravado epitáfio daquele considerado o “dom da Paz” pelos pernambucanos. O túmulo construído dentro da Catedral da Sé, em Olinda, vai receber os restos mortais de dom Helder Camara nesta segunda, data em que se completam 13 anos da morte do arcebispo emérito de Olinda e Recife. A partir da cerimônia, o sepulcro do religioso ficará numa das capelas da igreja. Antes, ficava em frente ao altar. A seu lado no novo mausoléu, dois amigos que com ele lutaram contra as torturas da ditadura militar: o bispo auxiliar dom José Lamartine e o padre Antonio Henrique Pereira, assassinado pela repressão aos 28 anos, em 1969.

A missa em homenagem a dom Helder será celebrada pelo atual arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, às 9h de amanhã. Diante do altar estará a urna com os restos do dom da Paz. Segundo o vigário-geral da Arquidiocese de Olinda e Recife, monsenhor Albérico Bezerra, o projeto dos túmulos dos arcebispos na nave da igreja existia desde 1983, ano da última restauração do edifício, mas ficou inacabado.

“Uma das coisas que dom Fernando queria fazer desde que assumiu como arcebispo, há três anos, era fazer a Catedral da Sé voltar a abrir as portas à população, além de retomar o projeto dos jazigos dos bispos e arcebispos, agora acessíveis ao público”, afirma. A capela lateral direita da catedral, onde estão sepultados os religiosos, ficará aberta à visitação de terça a domingo, das 9h às 17h.

Essa não será a primeira solenidade da semana em lembrança da morte de dom Helder Camara. A primeira acontece hoje, na Igreja das Fronteiras, onde ele residiu até o último dia de vida. O Instituto Dom Helder Camara (IDHeC) promove, às 11h, missa em ação de graças que contará com a participação de 200 peregrinos do Ceará, Estado natal do dom da Paz.

“Há 13 anos buscamos reforçar a memória de dom Helder, sua luta pela justiça, pelos direitos humanos e fraternidade entre os povos, sobretudo pela dignidade dos pobres. Muitos movimentos sociais que resistem até hoje surgiram inspirados na ação social dele”, sublinha Bete Barbosa, da direção do IDHeC.

Na quarta, às 10h30, o Comitê da Cidadania Pernambuco Solidário, entidade de combate à miséria que se inspirou no exemplo de dom Helder, presta mais uma homenagem ao arcebispo emérito. Será no anexo da Assembleia Legislativa, onde também haverá a exibição do filme Três Irmãos de Sangue, que conta a história dos irmãos Henfil, Betinho e Chico Mário, que lutaram contra a ditadura e pelo fim da desigualdade.

LIVRO - Assassinado no auge dos anos de chumbo no Brasil, o padre Antônio Henrique Pereira é tido por católicos como um mártir da Igreja. Ele trabalhava diretamente com dom Helder na Pastoral da Juventude, considerado pelos militares um grupo “subversivo”. Sua execução, em 27 de maio de 1969, tinha como objetivo calar o arcebispo. Mas dom Helder não desistiu: chegou a ir a Paris denunciar as torturas do regime, em 1971. Para resgatar a memória do padre, seus familiares lançam amanhã a sua biografia.

O livro, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), foi escrito pela mãe do padre, Izaíras Pereira, até 2003, ano em que ela morreu. A partir daí, a irmã do religioso, Izaíras Pereira Padovan, continuou o trabalho.

“Enfatizamos a dedicação dele à juventude. Ninguém nunca pensou que aquilo (a execução) pudesse acontecer com um padre”, disse a irmã. Os exemplares serão vendidos nesta segunda na Catedral da Sé, com renda revertida para a Pastoral da Juventude.

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