A placa indicando a construção de 256 habitacionais do lote dois está tomada pela vegetação. Ao lado dela, pilares de concreto sustentam nada e ferragens dos mais diversos tipos enferrujam por conta da ação do tempo. O anúncio do Programa de Requalificação Urbana da Comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, foi feito na gestão do então prefeito João Paulo e em janeiro de 2010 seu sucessor, João da Costa, deu início à obra, que deveria ser concluída em três anos. Passado este prazo, já em uma terceira gestão, a obra encontra-se paralisada, sem previsão de ser retomada. Dos 39,4 milhões que seriam investidos no projeto, R$ 16 milhões foram contratados e só 48 das 588 unidades habitacionais previstas, entregues.
“Vai fazer quatro anos que estou recebendo o auxílio-moradia e nada do meu apartamento. Estou morando em um quarto, porque com R$ 150 não dá pra alugar uma casa”, reclama a ambulante Maria Lucinete Pereira, 55 anos, há 23 residentes na comunidade. Já a ambulante Rute Marcelino de França, 49, diz não ter pressa. “Moro numa casa de três quartos e quintal, não tenho a menor vontade de ir para um apartamento desses.” Os apartamentos têm 40 m². O comerciante Antônio Nilo dos Santos, 56, critica o descaso da prefeitura com a comunidade. “O esgoto está entupido desde antes do Carnaval e até nossos banheiros estão entupindo. O lixo se espalha por aí. Não queria ir pro apartamento, mas essa obra demora demais.” Com as chuvas de ontem as ruas ficaram cobertas de lama.
A assessoria de imprensa da Empresa de Urbanização do Recife (URB) informa que a paralisação se deve a problemas na desapropriação (há casos na Justiça) e estudos arqueológicos realizados no terreno, por isso não há previsão para as obras recomeçarem. Recentemente, arqueólogos da Fundação Seridó encontraram um conjunto de sepulturas com 13 esqueletos humanos, possivelmente dos séculos 16 ou 17, e pediram à prefeitura mais dois meses de trabalho, para ampliar a pesquisa, que fica mais difícil com as chuvas. O detalhe é que os estudos ficam no lote dois, ainda com residências e comércio, e até mesmo as obras iniciadas no segundo bloco do lote 1, cuja entrega foi confirmada para dezembro de 2011, acabaram paralisadas.