Antes de ser executado com quatro tiros de espingarda calibre 12 no rosto e pescoço, o promotor de Itaíba Thiago Faria Soares, 36 anos, formalizou junto ao Conselho Superior do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denúncia de ameaça praticada pelo fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa. Mas, contraditoriamente, não pediu ao Estado garantia de vida ou proteção policial. A conselheiros do colegiado, ele contou que já havia relatado a parentes da sua noiva, a advogada Mysheva Martins, as intimidações de Zé Maria, como é conhecido o suspeito de ser o mandante do crime. Para Thiago Faria, a iniciativa já era suficiente para deixá-lo em segurança devido à influência e ao poder da família na região. No dia 14 de outubro de 2013, porém, ele sofreu um emboscada, 18 dias antes do seu casamento.
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Com base na denúncia de ameaça do fazendeiro, que teria agido em retaliação por te sido obrigado pela Justiça a deixar a Fazenda Nova, objeto de um espólio e depois arrematada em leilão por Mysheva, a Polícia Civil passou a considerar Zé Maria o principal suspeito de ter encomendado a morte de Thiago Faria. Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPPE, concordavam com a avaliação. Mas consideravam que outras duas linhas também deveriam ser adicionadas à investigação. A partir daí, nasceu a discordância entre delegados e promotores que prejudicou o andamento do inquérito e levou o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a repassar o caso para a Polícia Federal. Pelo terceiro dia seguido, o JC divulga detalhes até então desconhecidos do crime que ganhou repercussão nacional.
Antes de ser assassinado, Thiago Faria estava submetido a processo de remoção compulsória e, a partir de novembro, depois do casamento, deixaria Itaíba e passaria a exercer as funções no município de Jupi, também no Agreste. O motivo da transferência foi o fato de ele ter se julgado suspeito de atuar em 16 processos de improbidade administrativa envolvendo a família da então noiva, como rejeição de contas e aplicação irregular do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), por exemplo.
Das três reuniões que participou na Corregedoria-Geral do MPPE, convocado para explicar o porquê de tantos pedidos de suspeição, Thiago Faria foi acompanhado de Mysheva a duas delas. Delegados e promotores interpretaram a presença da noiva em reuniões estritamente de trabalho como sinal inequívoco de influência que exercia sobre a vítima, natural do Rio de Janeiro e nomeado como titular da Comarca de Itaíba em dezembro de 2012.
A formalização da denúncia de ameaça praticada por Zé Maria foi feita ao Conselho Superior do MPPE depois que Thiago Faria foi chamado para dar explicações à Corregedoria-Geral da instituição. Foragido desde o dia do crime, o fazendeiro se manifestou sobre o caso apenas em duas ocasiões, sempre por meio da gravação e divulgação de vídeo. Na primeira filmagem, ele se disse inocente e negou atrito com o promotor. Na segunda, acusou Mysheva de ter sido a mentora do crime. A polícia, porém, sempre tratou publicamente a advogada como testemunha ocular, e nunca como suspeita do homicídio.
Thiago Faria dirigia seu veículo, um Hyundai modelo Vera Cruz, pela PE-300, quando foi executado. A rodovia liga Águas Belas, onde ele morava, a Itaíba. O promotor estava acompanhado da noiva e de um tio dela. Os dois escaparam sem ser atingidos. Pela reconstituição do crime feita por peritos, chegou-se à conclusão que foram três homens que armaram a tocaia, e não dois como dito inicialmente. O veículo usado foi, provavelmente, um Corsa quatro portas. O carro e a arma que vitimou o promotor até hoje não foram encontrados.