Cegos recebem informações incompletas nas placas em Braille, em Olinda

O professor Juvi Passos testou placas de sinalização em Olinda e no Recife e apontou dificuldades e desconfortos para os deficientes visuais
Cleide Alves
Publicado em 21/10/2014 às 8:08
O professor Juvi Passos testou placas de sinalização em Olinda e no Recife e apontou dificuldades e desconfortos para os deficientes visuais Foto: Foto: Michele Souza/JC Imagem


A Igreja de Nossa Senhora do Monte, em Olinda, Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, ganhou em 2014 uma placa de sinalização turística escrita em três idiomas. O monumento é apresentado aos visitantes com um texto de 14 linhas em português e inglês. Enquanto isso, o espaço dedicado à inscrição em Braille ocupa apenas uma linha e meia. Com uma diferença tão grande, ou o Código Braille é muito sintético ou a inclusão dos cegos nos pontos turísticos fica a desejar.

“Não, o sistema Braille não é sintético, pelo contrário, o número de linhas é sempre maior do que em português. Provavelmente é um resumo”, responde o professor Juvi Barbosa Passos, a caminho da igreja onde, a convite do JC, faria a leitura da placa. “Aqui está escrito apenas o nome do monumento, Igreja de Nossa Senhora do Monte, nada mais”, constata.

O texto em português e inglês relata ao turista que o prédio foi construído por ordem de Duarte Coelho em 1535 e faz uma breve descrição da arquitetura da igreja, destacando a fachada simples, com torre baixa e janelas pequenas. Diz, ainda, que a edificação é contornada por muro baixo. “Só o nome não basta, precisamos de informações mais detalhadas para ter pleno acesso aos pontos turísticos”, reforça.

A mesma situação se repete na Igreja de Nossa Senhora do Amparo e nos Quatro Cantos (terceiro nicho do roteiro da Procissão dos Passos). Para os cegos, consta apenas o nome do lugar. “A ausência da informação é a negação do nosso direito ao turismo”, avalia Juvi, que trabalha com a inclusão de crianças deficientes.

Na placa do Passo dos Quatro Cantos, diz o professor, falta um ponto nos caracteres que formam o numeral. “Não impede a leitura, mas o símbolo está incompleto”, pondera. Segundo ele, o local escolhido para a inscrição em Braille, o canto inferior esquerdo da placa, não é o mais indicado. “A posição é desconfortável, porque nós lemos com as mãos. O ideal seria a parte superior.”

Ao percorrer pontos turísticos na cidade do Recife, onde os textos têm as mesmas informações em português, inglês e Braille, Juvi teve de se ajoelhar para fazer a leitura. No Cais da Aurora, defronte à Assembléia Legislativa, encontrou diversos erros de grafia. “O R da palavra rio parece um L, o nome Aurora está ilegível”, cita o professor.

Exposta ao sol, a placa de sinalização da Torre Malakoff, no Bairro do Recife, esquenta e dificulta a leitura, feita pelo tato. “São situações que podem ser corrigidas quando se escuta o público interessado”, declara Juvi. Na igreja, sugere o professor, a placa pode ser substituída por um panfleto em Braille ou por informação sonora.

A ausência da informação é a negação do nosso direito ao turismo

afirma o professor Juvi Passos

O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Olinda, Maurício Galvão, disse que está desenvolvendo projeto para completar as informações destinadas aos deficientes visuais. “Vamos optar pelo mais viável, entre o panfleto e o equipamento sonoro”, avisa.

Segundo ele, as placas colocadas este ano na Cidade Alta foram contratadas em 2008 e elaboradas por uma empresa do Rio de Janeiro. “Como os textos eram grandes, a firma sinalizou, em Braille, somente o nome do monumento.”

De acordo com o gestor de Produtos Turísticos da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife, Bráulio Moura, a confecção das placas teve orientação de uma entidade que trabalha com cegos. Parte dos equipamentos estão avariados, diz ele, pela prática de atos de vandalismo. “Estamos com um plano de recuperação de todas eles e poderemos fazer ajustes”, promete.

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