Atualizada às 11h18
A tranquilidade não durou muito no Complexo Prisional do Curado, maior unidade penitenciária do Estado. Após um dia de tensão no presídio localizado no bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife, na manhã desta terça-feira (20), os detentos do antigo Aníbal Bruno voltaram às lajes dos pavilhões para protestar por maior celeridade no julgamento dos processos. O Batalhão de Choque da Polícia Militar foi acionado para conter os tumultos e já se encontra dentro da penitenciária. Tiros foram escutados dentro do presídio e a energia dentro do presídio foi cortada.
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Na última segunda-feira (19), o protesto, que começou quando os reeducandos fizeram greve de fome e subiram nas lajes dos pavilhões com faixas e cartazes, terminou com um sargento da Polícia Militar e um detento mortos, além de 29 pessoas feridas. Segundo a Secretaria de Ressocialização do Estado (Seres), os 29 feridos foram socorridos, alguns em unidades de saúde e outros no próprio complexo.
O policial baleado Carlos Silveira do Carmo, 44 anos, foi levado para atendimento no Hospital Otávio de Freitas, mas não resistiu aos ferimentos. O tiro teria partido de dentro do ASP Marcelo Francisco Araújo (PAMFA), um dos três presídios do complexo, mas o caso ainda está sendo investigado pelo delegado João Paulo Andrade. À tarde, o Batalhão de Choque iniciou a revista dos pavilhões, quando foram apreendidos facões e celulares. O detento Edvaldo Barros da Silva Filho também foi morto na confusão.
Durante a rebelião no Complexo Prisional do Curado os parentes de presos aproveitaram para denunciar o caos no sistema com processos parados e celas superlotadas. Relatos apontavam ainda para a prática de tortura e maus tratos e do comércio, inclusive de drogas dentro dos pavilhões.
HISTÓRICO DE FRAGILIDADES
O Complexo Prisional do Curado, maior do Estado de Pernambuco, é formado por três unidades: o Presídio ASP Marcelo Francisco de Araújo, o Presídio Frei Damião de Bozzano e o Presídio Juiz Antônio Luiz de Lins Barros. Atualmente, há pouco mais de 6 mil presos espremidos num espaço com capacidade para 1,3 mil detentos. A situação do complexo foi denunciada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que pediu a interdição parcial do local, alegando falta de condições de abrigar detentos.
Nos últimos dois meses, houve outros dois casos de morte no complexo. No dia 13 de outubro, o detento Reinaldo Leandro da Silva Prado, de 23 anos, foi jogado do telhado do Presídio Frei Damião de Bozzano. No dia 20 de novembro, Elton Jonas Gonçalves de Oliveira foi morto a facadas por outro detento, após uma briga, também no Presídio Frei Damião.
No dia 24 de dezembro, uma rebelião no Presídio Frei Damião de Bozzano, no Complexo Prisional do Curado, terminou com 12 presos feridos. A confusão começou depois que agentes penitenciários do presídio frustaram uma tentativa de fuga. A última ocorrência foi registrada no último domingo (4), quando agentes penitenciários encontraram um túnel no presídio. Segundo a assessoria da Seres, a descoberta evitou uma fuga em massa.
No início de janeiro, uma tentativa de fuga frustrada terminou com novas rebeliões. Imagens registraram o livre trânsito de detentos portando armas e usando drogas dentro do presídio. O escândalo terminou com a renúncia do então secretário de Ressocialização, Humberto Inojosa, e a convocação do coronel Eden Vespaziano para o cargo.
O governador Paulo Câmara anunciou medidas emergenciais para conter a crise no sistema carcerário em Pernambuco. Entre as ações, está a contratação imediata de agentes penitenciários, o investimento nas unidades carcerárias do Grande Recife e a construção de um novo complexo prisional em Pernambuco.