A ideia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) de transformar o prédio do Liceu de Artes e Ofícios, na Praça da República, Centro do Recife, num espaço cultural esbarrou na falta de verba. A primeira fase do projeto, que corresponde ao levantamento histórico, mapa de danos da edificação e propostas para restauração e implantação de novos usos, está pronta desde maio de 2014. Mas faltam complementações essenciais para definir o valor da obra.
“Solicitamos recursos do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) para a segunda etapa. O resultado da seleção sai em setembro próximo”, diz o assessor cultural da Unicap, Leandro Tabosa. Se for aprovada, a verba será aplicada na elaboração de projetos de hidráulica, elétrica, climatização, prevenção e combate a incêndio.
Fechado desde 2007, o prédio do Liceu foi construído de 1871 a 1880 (século 19) pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco para oferecer cursos profissionalizantes à classe operária, informa o arquiteto Jorge Passos, responsável pelo projeto de restauração. “Lá, ex-escravos e egressos da Guerra do Paraguai (1864-1870) aprendiam as artes da marcenaria, pintura, forja, carpintaria e caldeiraria”, detalha.
O prédio é um projeto de José Tibúrcio Pereira de Magalhães (1831-1896), engenheiro militar que assina outras obras no Recife, como a Assembleia Legislativa de Pernambuco e a Santa Casa de Misericórdia (Santo Amaro). “O Liceu tem arquitetura clássica imperial, inspirada no Palácio de Luxemburgo, construção francesa do século 17”, afirma Jorge Passos.
A edificação da Praça da República passou por reformas e perdeu o ar sóbrio, característico dos projetos de José Tibúrcio, na fachada principal. “A fachada posterior mantém essa sobriedade, sem os elementos decorativos acrescentados na parte da frente”, comenta o arquiteto.
Na proposta de Jorge Passos, o primeiro pavimento do prédio principal terá auditório, sala multiuso, área para exposição permanente e temporária, livraria, café e sala de leitura aberta ao público, com acesso a Wi-Fi gratuito.
O porão (recurso para livrar o primeiro piso de problemas com umidade) é organizado para receber o Coral Madrigal e projetos sociais mantidos pela Unicap, como o Instituto Humanitas e assessoria jurídica. Além de acolher salas para ensaio e danças.
Para o prédio anexo de três pavimentos, erguido nos anos 70, ele propõe um teatro com cabine de som, antecâmara, acústica, palco coxia e capacidade para 190 lugares, no térreo. Os sanitários são adaptados e também servem como camarins. Os dois pavimentos superiores são destinados a sala de aula multiuso.
O projeto prevê elevador e bilheteria no anexo, que terá acesso pela Rua do Sol. Jorge Passos sugere a colocação de uma cobertura translúcida no corredor de circulação entre os dois prédios e a retirada de uma passagem aérea feita para ligar os imóveis.
“Vamos captar recursos com o BNDES, pela Lei Rouanet, para executar a obra. Mas não há previsão para o início desse trabalho”, avisa Leandro Tabosa. A Católica administra o Liceu desde 1961. O prédio tem tombamento estadual.