Os ônibus terão corredor exclusivo na Rua Real da Torre, entre os bairros da Torre e da Madalena, na Zona Oeste do Recife, a partir da próxima segunda-feira (31). A Faixa Azul com 1,5 quilômetro de extensão já foi pintada pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) essa semana. Porém, entre os recifenses, respeito e fiscalização são pedidos quase unânimes para que a iniciativa dê certo.
A dona de casa Socorro Carvalho, 67 anos, está entre os passageiros de ônibus que concordam com a implantação de corredores exclusivos, mas defendem mais punição para os motoristas que não respeitarem a faixa. "Falta controle. Além disso, as pessoas são muito mal educadas. Enquanto estou aqui, vejo os motoristas que estão com pressa saindo do engarrafamento e entrando no espaço do ônibus. Isso é muito feio e desse jeito acho muito difícil que cheguem onde querem (na priorização do transporte coletivo)", afirma.
A partir de segunda-feira, apenas os ônibus e os táxis cadastrados no Recife poderão usar a faixa. O corredor tem 1,5 quilômetro de extensão, da Rua Marcos André até a Rua José Osório. A intenção é integrá-la à primeira faixa exclusiva para ônibus implantada na capital pernambucana, na Rua Cosme Viana, em dezembro de 2013.
Carros e motos podem entrar onde a sinalização é pontilhada, para facilitar as conversões à direita. Quem for flagrado fora desses pontos do corredor poderá ser multado em R$ 191,54 e receber sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), por ser uma infração gravíssima.
De acordo com a CTTU, a fiscalização nessa Faixa Azul será feita inicialmente por agentes de trânsito, nos mesmos dias e horários que os corredores atuais: de segunda a sexta-feira, das 6h às 22h.
O objetivo é que equipamentos eletrônicos sejam instalados, mas não há previsão para isso ainda. As câmeras foram licitadas junto com as que monitoram as avenidas Mascarenhas de Moraes e Herculano Bandeira, na Zona Sul, mas não há orçamento para a colocá-las e para a manutenção delas.
Para a analista administrativa Adriana Nascimento, 44, além do respeito, falta informação. Usuária do transporte coletivo, ela não sabia qual era a utilidade da Faixa Azul. "Deveria haver mais campanhas de conscientização. Mesmo que todos os motoristas não tenham educação, pelo menos metade teria", defende. "Agora que sei, percebo que muita gente desrespeita. É uma boa iniciativa, que agiliza as viagens, mas as pessoas precisam ajudar e o sistema precisa melhorar."
De acordo com o gerente geral de Trânsito da CTTU, Agostinho Maia, no entanto, campanhas educativas não estão previstas. "Você tirou a carteira e sabe a regra, então deve cumprir. Por que precisa ter alguém que chegue e diga o passo a passo?", questiona. Segundo o gestor, haverá mais agentes de trânsito nos primeiros dias de Faixa Azul.
Maia ressalta que a implantação do corredor de Bus Rapid System (BRS) dá mais agilidade ao tráfego de ônibus. Na Avenida Domingos Ferreira, na Zona Sul, por exemplo, a velocidade média desses veículos passou de 16 km/h para 21 km/h.
Mesmo assim, alguns motoristas criticam a iniciativa. O taxista Miguel Brainer, 44, prevê congestionamentos para a área. "Essa via não é larga como a Mascarehas. A intenção é boa, mas a via não comporta e isso é inviável para a área", justifica.
O motorista de transporte escolar José Aureliano da Silva, 58, afirma o contrário. "Com faixa ou sem faixa, esse trânsito sempre foi assim, complicado. Até as 9h fica lento sempre", defende.
"Uma via que tem três faixas e reduz para duas tem alguma retenção", reconhece o gerente geral de Trânsito da CTTU. Mas ele frisa que o foco agora são os ônibus: "Vamos priorizar o transporte coletivo, que leva muito mais gente que o transporte individual."
Segundo o órgão, ao todo, 22 mil veículos passam diariamente pela via. Dez linhas de ônibus, que transportam 52 mil passageiros por dia, têm a Real da Torre no itinerário.
A próxima Faixa Azul a ser implantada deverá ser na Avenida Recife, uma via para onde o corredor de BRS é prometido há pelo menos dois anos. De acordo com Agostinho Maia, entretanto, faltam algumas ações como o recapeamento na via e não é possível ainda precisar se será ainda este ano.
BRT - O corredor de BRT (Bus Rapid Transit) é um exemplo de faixa exclusiva onde a ausência de fiscalização eletrônica leva a uma subnotificação das infrações. Apesar dos inúmeros flagras, o Departamento Estadual de Trânsito de Pernambuco (Detran-PE) registrou apenas 2.516 multas no Recife. Considerando a Região Metropolitana, foram 3.571. Proporcionalmente, os números são maiores do que no ano passado, quando foram 4.072 registros na capital e 8.016 contando os municípios vizinhos. A CTTU não disponibilizou o número de infrações registradas nas faixas do BRS.